MALIKI OUT
Por um conjunto de motivos históricos, demográficos, políticos,
económicos, culturais e militares, existem quatro potências endógenas no Médio
Oriente que têm aspirações a desempenhar um papel de liderança, ou mesmo de
hegemonia regional.
Do resultado da
compita entre elas, dos seus conflitos, alianças, trunfos e vulnerabilidades,
muito dependerá o quadro futuro do Médio Oriente. ( in http://tempos-interessantes.blogspot.pt/2012/10/as-4-potencias-do-medio-oriente.html
)
Falamos do Egipto, da Arábia
Saudita, da Turquia e do Irão. O Egipto está envolvido num complicado período
de transição, ajustamento e solidificação de um novo (velho) poder. Os
restantes três estão envolvidos numa luta sem tréguas e em múltiplas frentes
pelo poder e influência no Médio Oriente. (ver “Middle East Power Games” em http://tempos-interessantes.blogspot.pt/2013/10/middle-east-power-games.html
) Devido a essa luta e também ao colapso da dita “Primavera Árabe” e às acções
e omissões dos EUA, o Médio Oriente parece
resvalar para o caos generalizado. Olhando para além dos exageros dos media
(não, o Médio Oriente está em sérias convulsões, mas não está prestes a
explodir ou implodir!), pergunta-se:
O que se passa?
Passa-se que os
efeitos da e as reacções à Primavera Árabe foram terríveis na maioria dos
países afectados (Síria, Líbia e Iémen);
graves no Egipto e apenas na Tunísia foram positivos. No caso particular da
Síria, a revolta sunita e a reacção violenta do regime alawita despertou desejos
e ambições na Turquia, Arábia Saudita e Irão:
* Ankara viu uma oportunidade
de colocar a vizinha na sua órbita de influência.
* Riyadh viu a
oportunidade de derrubar o regime de Al Assad e roubar o principal aliado iraniano no mundo árabe.
* Teerão viu o
imperativo de defender Al Assad e garantir a continuidade geográfica da sua
esfera de influência: Teerão-Bagdad-Damasco-Beirute.
Passa-se também um
princípio da física que é o dos vasos comunicantes. Seguindo esse princípio os mais variados grupos armados - Sunitas
do Iraque, do Golfo, do Líbano, da Europa, do Norte de África; Xiitas do
Líbano, do Iraque e do Irão, apoiados pela Arábia Saudita, pelo Qatar, pela
Turquia, pelo Irão, pelos EUA, pela França, pela Rússia – afluíram à Síria.
Esses movimentos de fluxo e refluxo, fazem com que muitos deles circulem por um
vasto território desde a Anatólia a Noroeste, o Líbano a Oeste, a Jordânia a
Sul e a Mesopotâmia a Leste. O ISIS (Estado Islâmico para o Iraque e o
Levante/Síria) é o exemplo acabado desse fenómeno: oriundo do Iraque, herdeiro
da Al Qaeda no Iraque da década passada, entrou na refrega síria em 2012 onde
somou sucessos e inimigos e regressou parcialmente ao Iraque com armamento e
vontade redobrados para enfrentar o regime xiita.
in “THE WASHINGTON
POST” em http://www.washingtonpost.com/opinions/david-ignatius-the-plan-for-saving-iraq-begins-by-ousting-maliki/2014/06/19/40899952-f7cc-11e3-a606-946fd632f9f1_story.html
Passa-se,
finalmente, que o regime sectário, autoritário, persecutório e corrupto de
Maliki é a principal causa da guerra que assola o Iraque. Só assim se compreende que habitantes de Mosul ou Tikrit declarem
que preferem o sanguinário ISIS às forças de Bagdad que os maltratam há anos.
Só a podridão do poder de Bagdad justifica que cerca de 30.000 soldados se
retirem, fujam ou se rendam perante uma força expedicionária de poucos milhares
de homens que toma de assalto uma boa parte do território sem dificuldade.
Nouri Al Maliki não é a
causa profunda da desagregação do Iraque, mas é a sua causa próxima. A sua
visão sectária e unipessoal do poder agravou as fracturas conhecidas no tecido
social, político, étnico e religioso do Iraque
Curiosamente, o Partido de
Maliki, o Dawa, ficou em 2º lugar nas eleições de 2010, ganhas por uma
coligação maioritariamente Sunita liderada por um Xiita (Ayad Allawi), mas após
longos meses de negociações e impasse, Washington e Teerão promoveram um acordo
pelo qual Maliki continuaria no poder. O resultado, que já na altura não era imprevisível,
está à vista, embora admita que o seu falhanço atingiu um patamar improvável: o
reforço e centralidade do seu poder, resultou na degradação quase completa do
poder de Bagdad, que não controla os Curdos no Norte que já exportam petróleo à
revelia do Governo central, perdeu o Oeste e boa parte do Norte para o ISIS e
lança apelos desesperados de ajuda em todas as direcções, especialmente para
Washington e Teerão.
Neste momento, Nouri
Al Maliki é o cancro que importa erradicar e os seus dias estão contados. Vai
com 4 anos de atraso, que representaram um enorme malefício para o Iraque e os
Iraquianos.
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