ISIS AO ATAQUE
Em 15 de Janeiro passado, publiquei em Tempos
Interessantes o post intitulado “Al-Qaeda Renasce no Iraque” (http://tempos-interessantes.blogspot.pt/2014/01/al-qaeda-renasce-no-iraque.html ). Na altura o Estado Islâmico do Iraque e da Síria (Islamic State of Iraq and Syria
– ISIS)* tinha capturado duas cidades, Fallujah
e Ramadi, da Província de Anbar, bastião sunita
no Oeste do Iraque.
Esta semana, o ISIS tomou de assalto a 2ª maior cidade do Iraque, Mosul, no Norte do
país. Com um contingente estimado entre 1000 e 2000 homens e deslocando-se
rapidamente em pickups equipadas com metralhadoras e anti-aéreas, os rebeldes
subjugaram as tropas e a polícia
iraquianas. A maioria da guarnição, estimada em 10.000 soldados, largou armas,
fardas e equipamento e…fugiu. Digno de nota foi a captura pelo ISIL dos 48
Turcos que se encontravam no Consulado, incluindo o Cônsul-Geral e forças
especiais turcas.
Subsequentemente, o ISIS ocupou a cidade de
Tikrit (terra natal de Saddam Hussein) e controla parte significativa das
Províncias de Anvar, Nínive e Salahedin. As últimas notícias referem que a
Al-Qaeda marcha sobre Bagdad.
A maioria destas conquistas serão
reversíveis. Num cenário de guerra em permanente fluxo, alguns relatos poderão
ser exagerados, ultrapassados, ou mesmo falsos, mas o certo é que a Al-Qaeda
tem o maior controlo sobre os acontecimentos até à data. Contudo, neste momento
o mais relevante não é saber se o ISIL retirou de Mosul, ou se o Exército do
Iraque retomou ou não Tikrit. O que há a reter por agora é:
* O Estado Islâmico do Iraque e do Levante
demonstra uma capacidade bélica significativa, tendo evoluído dos
tradicionais atentados com explosivos improvisados ou bombistas suicidas, para
ataques a cidades de média e grande dimensão, envolvendo centenas ou milhares
de combatentes.
* O ISIS
escolhe o tempo, o espaço e os termos do combate.
* O Exército Iraquiano parece ser uma força
desmoralizada, com um grande número de deserções ou abandono do combate,
sem agilidade para acompanhar as movimentações da Al-Qaeda, sem capacidade para
defender as cidades e com grandes dificuldades em retomá-las.
* O Primeiro-Ministro Nouri Al Maliki está a
colher o desastre que semeou com a sua sede de poder, com o uso e abuso desse
poder de forma sectária, com a perseguição e ostracização dos Sunitas, com
a incapacidade de gerir a relação de Bagdad com o Governo Regional do
Kurdistão. É evidente que os Iraquianos perdem mais do que Maliki, mas Maliki
é, já há algum tempo um sério problema para o Iraque.
Acho muito difícil que o ISIS consiga
conquistar Bagdad, pela dimensão da capital, pela concentração de tropas
iraquianas e pela grande população xiita, mas o simples facto de estar a
marchar sobre a capital do Iraque já é uma notícia de relevo e até um feito.
Suficiente para agitar Washington, Londres e Teerão.
Ironicamente, uma intervenção externa poderá
derrotar esta ofensiva desta organização que até ao início deste ano integrava
a Al-Qaeda e, simultaneamente, elevar o seu prestígio e popularidade.
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