ENIGMA
DE TIANANMEN
O tempo bate as asas depressa e esvoaça sem que nos
apercebamos. Com ele, muitas vezes leva as memórias dos tempos que passaram.
Várias vezes isso é bom, pode até ser um bálsamo. Outras vezes é mau, pode até
ser pecado ou castigo.
Esta fotografia condensa Tiananmen 1989; é a encarnação da
expressão: uma imagem vale 1000 palavras.
O esmagamento da revolta de Tiananmen foi há 25 anos, nos
dias 3 e 4 de Junho de 1989. Parece que foi há uma vida. O Muro de Berlim
começava a abanar mas ainda estava de pé. Os líderes mundiais eram George Bush
(pai), Margaret Thatcher, Mikhail Gorbachev (ainda havia a URSS), François
Mitterrand, Helmut Kohl. Eu ainda frequentava a universidade.
E a República Popular da China era um país enorme mas pobre, com
uma população gigantesca mas muito pobre e com uma influência
limitada nas Relações Internacionais.
Hoje a China continua a ser enorme, mas já não é pobre – tem a 2ª maior economia do mundo e tem crescido de forma
explosiva. A população continua a ser
gigantesca, mas já não é paupérrima, ou melhor, ainda há 700 milhões de
pobres que convivem (pouco) com uma enorme classe média e um contingente
assinalável de ricos e muito ricos.
Volvidos 25 anos, a maioria das pessoas está fascinada com a
riqueza da China, ou atemorizada com o poder da China, mas já não são muitos os
que se recordam de Tiananmen.
Nestes 25 anos, o
Partido Comunista Chinês (PCC) entrincheirou-se no poder que detém em
monopólio há 65 anos e geriu com habilidade o crescimento chinês e a exponencial
melhoria da qualidade de vida dos Chineses e com isso conquistou muitos pontos de vida. Não resolveu, contudo, o enigma de
Tiananmen:
Como manter o monopólio do poder e o estado totalitário face a
uma população crescentemente abastada, formada e informada?
A resolução deste enigma é a grande incógnita envolvendo
a China do século XXI. Em 1989, o Exército Popular de Libertação e Deng
Xiaoping resolveram o problema esmagando aqueles que exigiam respostas. Desde
então, o PCC colocou o enigma num cofre na Cidade Proibida de Pequim e colocou
todas as fichas na aposta do crescimento económico e do desenvolvimento e vem
ganhando essa aposta.
Porém, quanto mais a sociedade chinesa cresce em riqueza,
estatuto, conhecimento e capacidade tecnológica, mais complexo e ingente se
torna o enigma e mais próxima está o dia e a hora em que outro homem terá a
coragem e a determinação para enfrentar os tanques e exigir uma solução
diferente para o enigma.
P.S. Aconteça
o que acontecer, e algo acontecerá, a imagem do homem a enfrentar uma coluna de
carros de combate na Praça de Tiananmen terá sempre um lugar de destaque no meu
álbum iconográfico. Foi a pensar nele, encarnando o espírito de todos os que
lutaram por uma China diferente na Primavera de 1989, que este post foi
escrito.
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