04 junho, 2014

Enigma de Tiananmen


ENIGMA DE TIANANMEN


O tempo bate as asas depressa e esvoaça sem que nos apercebamos. Com ele, muitas vezes leva as memórias dos tempos que passaram. Várias vezes isso é bom, pode até ser um bálsamo. Outras vezes é mau, pode até ser pecado ou castigo.


Esta fotografia condensa Tiananmen 1989; é a encarnação da expressão: uma imagem vale 1000 palavras.



O esmagamento da revolta de Tiananmen foi há 25 anos, nos dias 3 e 4 de Junho de 1989. Parece que foi há uma vida. O Muro de Berlim começava a abanar mas ainda estava de pé. Os líderes mundiais eram George Bush (pai), Margaret Thatcher, Mikhail Gorbachev (ainda havia a URSS), François Mitterrand, Helmut Kohl. Eu ainda frequentava a universidade.


E a República Popular da China era um país enorme mas pobre, com uma população gigantesca mas muito pobre e com uma influência limitada nas Relações Internacionais.


Hoje a China continua a ser enorme, mas já não é pobre – tem a 2ª maior economia do mundo e tem crescido de forma explosiva. A população continua a ser gigantesca, mas já não é paupérrima, ou melhor, ainda há 700 milhões de pobres que convivem (pouco) com uma enorme classe média e um contingente assinalável de ricos e muito ricos.


Volvidos 25 anos, a maioria das pessoas está fascinada com a riqueza da China, ou atemorizada com o poder da China, mas já não são muitos os que se recordam de Tiananmen.


Nestes 25 anos, o Partido Comunista Chinês (PCC) entrincheirou-se no poder que detém em monopólio há 65 anos e geriu com habilidade o crescimento chinês e a exponencial melhoria da qualidade de vida dos Chineses e com isso conquistou muitos pontos de vida. Não resolveu, contudo, o enigma de Tiananmen:


Como manter o monopólio do poder e o estado totalitário face a uma população crescentemente abastada, formada e informada?


A resolução deste enigma é a grande incógnita envolvendo a China do século XXI. Em 1989, o Exército Popular de Libertação e Deng Xiaoping resolveram o problema esmagando aqueles que exigiam respostas. Desde então, o PCC colocou o enigma num cofre na Cidade Proibida de Pequim e colocou todas as fichas na aposta do crescimento económico e do desenvolvimento e vem ganhando essa aposta.


Porém, quanto mais a sociedade chinesa cresce em riqueza, estatuto, conhecimento e capacidade tecnológica, mais complexo e ingente se torna o enigma e mais próxima está o dia e a hora em que outro homem terá a coragem e a determinação para enfrentar os tanques e exigir uma solução diferente para o enigma.




P.S. Aconteça o que acontecer, e algo acontecerá, a imagem do homem a enfrentar uma coluna de carros de combate na Praça de Tiananmen terá sempre um lugar de destaque no meu álbum iconográfico. Foi a pensar nele, encarnando o espírito de todos os que lutaram por uma China diferente na Primavera de 1989, que este post foi escrito.

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