EQUÍVOCOS EUROPEUS
Os países europeus ditos periféricos e porquinhos
(PIIGS for Portugal, Italy, Ireland, Greece and Spain), têm estado mergulhados
em severa recessão, fruto de erros próprios (dívidas públicas insustentáveis,
má gestão pública ou mesmo gestão danosa, sector bancário incompetente,
irresponsável, ou corrupto.
As suas agruras económicas foram agravadas pela receita que lhes foi
prescrita/imposta e que os seus governos de forma dócil e ovina acataram e vão
aplicando com maior ou menor afinco. A receita é alemã, baseada no histórico
alemão e nos interesses alemães.
François Hollande foi eleito em França com uma plataforma eleitoral focada
no crescimento económico e na moderação da austeridade, inclusive colocando o
Pacto Orçamental “refém” dessa exigência. Isto foi um ponto de viragem
retórico: a Itália e a Espanha ganharam coragem para exigir o mesmo e até em
Portugal, o pequeno Seguro se agitou e excitou com a mudança de ênfase. Ciente
do risco de um relativo isolamento da Alemanha se perdesse a muleta francesa e
o apoio da Itália por arrastamento. Berlim acolhe e pratica o novo discurso,
embora submetendo sempre o crescimento ao cumprimento religioso da asfixiante
austeridade.
in "The Economist" at http://www.economist.com/
Há então motivos
para ter esperança?
Nem por isso.
Pelo que Hollande disse na campanha eleitoral, pelo que se vai lendo de
fontes diversas e pelo histórico da esquerda francesa e da própria EU nestas
matérias, o que se pode esperar é:
·
Despesa pública
(recorrendo a fundos nacionais e/ou europeus) para dinamizar a economia, ou
seja, novo flop em perspectiva. Será uma versão
recauchutada dos “estímulos” injectados nas economias de vários estados
europeus enos EUA e, 2009/10, com efeitos limitados no tempo e no impacto na
economia e com efeitos graves e duradouros nas contas públicas. Mesmo que
Berlim vete o agravamento dos deficits públicos, haverá vastos recursos gastos
e poucos resultados.
·
Grandes planos
com nomes sonantes, como a Agenda de Lisboa*, Livros Brancos, Livros Verdes, Pactos de Crescimento, envelopes
financeiros, estratégias, pacotes, desenhados por visionários que parecem
desligados do mundo real.
O grande equívoco destas iniciativas é não atacarem os reais empecilhos à
retoma sustentada da actividade económica e do crescimento:
·
Cargas fiscais
elevadas que afugentam o investimento.
·
Cargas fiscais
elevadas que travam o consumo.
·
Uma burocracia
pesada e uma floresta de regulamentos que bloqueiam a
actividade empresarial, o dinamismo e a iniciativa.
·
Demasiado
envolvimento dos Estados (e da União) na economia, mesmo
quando protestam o contrário.
·
Laxismo
fiscalizador dos mesmos Estados que permite e facilita o aparecimento e crescimento da
burla, da corrupção, de más práticas e
abusos que beneficiam os poucos e arruinam
os muitos.
Enquanto que
Monti, Merkel, Hollande e Rajoy se deleitam nas suas cimeirazinhas e atiram 130
biliões de euros para aqui ou para acolá, no mundo real, milhões de pessoas
penam e labutam para sobreviver num modelo político-económico exausto e falido.
* A Agenda de Lisboa, aprovada em 2000 no Conselho Europeu de Lisboa no ano 2000, foi definida
como “uma estratégia para a UE que tem como objectivo tornar a Europa na
economia do conhecimento mais competitiva e dinâmica do mundo, capaz de gerar
um crescimento económico sustentável com mais e melhores empregos e maior
coesão social.” Em 2012 a EU está
no estado deplorável que conhecemos e lendo os objectivos da Agenda de Lisboa,
nem sei se ria, ou se chore….
2 comentários:
Em relação aos gregos, não me parece que estejamos muito diferentes deles. Aliás, com outras cores, a "paisagem" é a mesma. Penso até que o que está a dar são os países subdesenvolvidos, abaixo do limiar de pobreza, felicíssimos! Vejamos: não se lamentam, porque nunca tiveram emprego, logo nunca o perderam; desconhecem o fisco, a EDP (quando chega a noite, acendem fogueiras e convivem directamente, sem as "modernices" da NET; não precisam de ginásio, porque caminham horas em busca de água (sem factura da fonte) e a pastorear rebanhos; não têm triglicerídeos nem colesterol; alguns têm plantações de coca, marijuana e ópio. Nós temos o futebol, as "raves" e muitos, muitos concertos! Cada um é feliz à sua maneira! Os gregos também devem ter o "ópio" deles. Só não sei qual é. Mas que são masoquistas como nós, lá isso são! Veja lá há quantos anos levamos "bordoada" dos mesmos, e eles lá continuam!
Beijinhos
Estella
Estella!
Grande comentário: implacável e na mouche. No entanto, não me vejo a "regressa" ao tempo da fogueira....
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