26 junho, 2012

Equívocos Europeus

EQUÍVOCOS EUROPEUS

 
Os países europeus ditos periféricos e porquinhos (PIIGS for Portugal, Italy, Ireland, Greece and Spain), têm estado mergulhados em severa recessão, fruto de erros próprios (dívidas públicas insustentáveis, má gestão pública ou mesmo gestão danosa, sector bancário incompetente, irresponsável, ou corrupto.


As suas agruras económicas foram agravadas pela receita que lhes foi prescrita/imposta e que os seus governos de forma dócil e ovina acataram e vão aplicando com maior ou menor afinco. A receita é alemã, baseada no histórico alemão e nos interesses alemães.


François Hollande foi eleito em França com uma plataforma eleitoral focada no crescimento económico e na moderação da austeridade, inclusive colocando o Pacto Orçamental “refém” dessa exigência. Isto foi um ponto de viragem retórico: a Itália e a Espanha ganharam coragem para exigir o mesmo e até em Portugal, o pequeno Seguro se agitou e excitou com a mudança de ênfase. Ciente do risco de um relativo isolamento da Alemanha se perdesse a muleta francesa e o apoio da Itália por arrastamento. Berlim acolhe e pratica o novo discurso, embora submetendo sempre o crescimento ao cumprimento religioso da asfixiante austeridade.

in "The Economist" at http://www.economist.com/

Há então motivos para ter esperança?


Nem por isso.


Pelo que Hollande disse na campanha eleitoral, pelo que se vai lendo de fontes diversas e pelo histórico da esquerda francesa e da própria EU nestas matérias, o que se pode esperar é:


·        Despesa pública (recorrendo a fundos nacionais e/ou europeus) para dinamizar a economia, ou seja, novo flop em perspectiva. Será uma versão recauchutada dos “estímulos” injectados nas economias de vários estados europeus enos EUA e, 2009/10, com efeitos limitados no tempo e no impacto na economia e com efeitos graves e duradouros nas contas públicas. Mesmo que Berlim vete o agravamento dos deficits públicos, haverá vastos recursos gastos e poucos resultados.

·        Grandes planos com nomes sonantes, como a Agenda de Lisboa*, Livros Brancos, Livros Verdes, Pactos de Crescimento, envelopes financeiros, estratégias, pacotes, desenhados por visionários que parecem desligados do mundo real.


O grande equívoco destas iniciativas é não atacarem os reais empecilhos à retoma sustentada da actividade económica e do crescimento:


·        Cargas fiscais elevadas que afugentam o investimento.

·        Cargas fiscais elevadas que travam o consumo.

·        Uma burocracia pesada e uma floresta de regulamentos que bloqueiam a actividade empresarial, o dinamismo e a iniciativa.

·        Demasiado envolvimento dos Estados (e da União) na economia, mesmo quando protestam o contrário.

·        Laxismo fiscalizador dos mesmos Estados que permite e facilita o aparecimento e crescimento da burla, da corrupção, de más práticas e abusos que beneficiam os poucos e arruinam os muitos.


Enquanto que Monti, Merkel, Hollande e Rajoy se deleitam nas suas cimeirazinhas e atiram 130 biliões de euros para aqui ou para acolá, no mundo real, milhões de pessoas penam e labutam para sobreviver num modelo político-económico exausto e falido.


 

in "The Economist" at http://www.economist.com/


* A Agenda de Lisboa, aprovada em 2000 no Conselho Europeu de Lisboa no ano 2000, foi definida como “uma estratégia para a UE que tem como objectivo tornar a Europa na economia do conhecimento mais competitiva e dinâmica do mundo, capaz de gerar um crescimento económico sustentável com mais e melhores empregos e maior coesão social.” Em 2012 a EU está no estado deplorável que conhecemos e lendo os objectivos da Agenda de Lisboa, nem sei se ria, ou se chore….

2 comentários:

Anónimo disse...

Em relação aos gregos, não me parece que estejamos muito diferentes deles. Aliás, com outras cores, a "paisagem" é a mesma. Penso até que o que está a dar são os países subdesenvolvidos, abaixo do limiar de pobreza, felicíssimos! Vejamos: não se lamentam, porque nunca tiveram emprego, logo nunca o perderam; desconhecem o fisco, a EDP (quando chega a noite, acendem fogueiras e convivem directamente, sem as "modernices" da NET; não precisam de ginásio, porque caminham horas em busca de água (sem factura da fonte) e a pastorear rebanhos; não têm triglicerídeos nem colesterol; alguns têm plantações de coca, marijuana e ópio. Nós temos o futebol, as "raves" e muitos, muitos concertos! Cada um é feliz à sua maneira! Os gregos também devem ter o "ópio" deles. Só não sei qual é. Mas que são masoquistas como nós, lá isso são! Veja lá há quantos anos levamos "bordoada" dos mesmos, e eles lá continuam!

Beijinhos

Estella

Rui Miguel Ribeiro disse...

Estella!

Grande comentário: implacável e na mouche. No entanto, não me vejo a "regressa" ao tempo da fogueira....