MORTES
DE MULLAHS
Em Julho de 2015 ficamos a saber que os Taliban do Afeganistão
eram dirigidos por um fantasma. Mais do que um fantasma, por uma farsa. Nessa
altura foi revelado/descoberto que o líder histórico, carismático e
inquestionável dos Taliban, o famigerado Mullah Mohammad Omar, morrera dois
anos antes em Karachi, no Paquistão.
Mullah Omar: secretamente morto durante dois anos.
A farsa provocou natural comoção e revolta entre os
Taliban, muitos dos quais ficaram ainda mais descontentes quando confrontados
com a rápida eleição (?) do Mullah Akhtar Mansour como sucessor de Omar. As
fissuras foram de tal monta que em Dezembro de 2015 correram rumores de um
tiroteio entre líderes Taliban que teria redundado na morte do Mullah Mansour. Se no caso do Mullah Omar se verificou uma
morte não anunciada, no do Mullah Mansour foi anunciada uma morte não
verificada.
Mullah Mansour: dois anos a liderar na sombra, 10 meses como
líder dos Taliban.
in “Daily
Telegraph” em http://i.telegraph.co.uk
Provavelmente por necessidade de unir o movimento,
reforçar a liderança e consolidar o poder, o curto consulado de Mansour
conheceu a mais activa e profícua actividade militar dos Taliban na última
década em que nem a tradicional pausa invernal aconteceu. Neste período, os
Taliban cometeram a proeza de conquistar, pela primeira vez desde 2001, uma
capital provincial (Kunduz, no Norte do Afeganistão) mesmo que a detivessem
apenas por alguns dias, registaram ganhos significativos na Província de
Helmand no sul e executaram uma série de atentados em Kabul, como o efectuado a
20 de Abril para marcar o início da campanha da Primavera e que matou 64
pessoas.
A isto somou-se a rejeição de participação em
negociações de paz patrocinadas pelo Quarteto integrado pelo Afeganistão,
Paquistão, Estados Unidos e China e nas quais os Taliban estavam prestes a
participar, no seguimento de uma declaração supostamente publicada por Omar. A
divulgação, dias depois, de que o Mullah tinha morrido dois anos antes acabou
com as negociações ainda antes de começarem.
Entretanto, o Mullah Mansour foi morto há 4 dias. E,
aparentemente, foi MESMO morto, atingido por um míssil Hellfire disparado por
um drone americano.
A viatura onde seguia o Mullah Akhtar Mansour.
in “The Sun”
em www.thesun.co.uk
Como sempre acontece, a liquidação de um líder ou de um
elemento importante de um grupo insurgente/terrorista, produz encómios e
celebrações por uma nova etapa marcante na guerra contra o terror (War on
Terror). Contudo, se o passado for um
indicador válido, a eliminação de líderes provoca um abalo e perturbação
temporários, a que se segue um tocar a reunir em torno de uma nova liderança e…
a vida (e a mortandade) continua.
Assim foi com as mortes dos líderes da Al-Qaeda (Osama
Bin-Laden em 2011), da Al-Qaeda na Península Arábica (Nasir al-Wuhayshi
em 2015), do Al-Shaabab da Somália (Ahmed Abdi Godane em2014) e com o TTP - Taliban
do Paquistão (Baitullah Mehsud em 2009 e Hakimullah Mehsud em 2013).
Independentemente do valor e carisma do líder, a
capacidade de um grupo prosseguir depende da sua organização, disciplina,
fervor e coesão. Os próximos meses dir-nos-ão o que se passará com os Taliban
do Afeganistão, mas se eles sobreviveram à mentira da morte encoberta, o mais
provável será resistirem a uma morte em “combate” às mãos do infiel.
P.S. Os Taliban emitiram um comunicado admitindo a morte do
Mullah Akhtar Mansour e a escolha de um novo líder, Mawlawi Haibatullah Akhundzada. Este religioso é considerado como sendo um
radical; independentemente disso, tal como o seu antecessor, Akhunzasa
sentir-se-á compelido a adoptar uma linha dura para ganhar credenciais e
solidificar a sua liderança. Como tal, será de esperar um Verão sangrento no
Afeganistão.
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