25 maio, 2016

Mortes de Mullahs



MORTES DE MULLAHS


Em Julho de 2015 ficamos a saber que os Taliban do Afeganistão eram dirigidos por um fantasma. Mais do que um fantasma, por uma farsa. Nessa altura foi revelado/descoberto que o líder histórico, carismático e inquestionável dos Taliban, o famigerado Mullah Mohammad Omar, morrera dois anos antes em Karachi, no Paquistão.

 
Mullah Omar: secretamente morto durante dois anos.

A farsa provocou natural comoção e revolta entre os Taliban, muitos dos quais ficaram ainda mais descontentes quando confrontados com a rápida eleição (?) do Mullah Akhtar Mansour como sucessor de Omar. As fissuras foram de tal monta que em Dezembro de 2015 correram rumores de um tiroteio entre líderes Taliban que teria redundado na morte do Mullah Mansour. Se no caso do Mullah Omar se verificou uma morte não anunciada, no do Mullah Mansour foi anunciada uma morte não verificada.

 
Mullah Mansour: dois anos a liderar na sombra, 10 meses como líder dos Taliban.
in “Daily Telegraph” em http://i.telegraph.co.uk

Provavelmente por necessidade de unir o movimento, reforçar a liderança e consolidar o poder, o curto consulado de Mansour conheceu a mais activa e profícua actividade militar dos Taliban na última década em que nem a tradicional pausa invernal aconteceu. Neste período, os Taliban cometeram a proeza de conquistar, pela primeira vez desde 2001, uma capital provincial (Kunduz, no Norte do Afeganistão) mesmo que a detivessem apenas por alguns dias, registaram ganhos significativos na Província de Helmand no sul e executaram uma série de atentados em Kabul, como o efectuado a 20 de Abril para marcar o início da campanha da Primavera e que matou 64 pessoas.

A isto somou-se a rejeição de participação em negociações de paz patrocinadas pelo Quarteto integrado pelo Afeganistão, Paquistão, Estados Unidos e China e nas quais os Taliban estavam prestes a participar, no seguimento de uma declaração supostamente publicada por Omar. A divulgação, dias depois, de que o Mullah tinha morrido dois anos antes acabou com as negociações ainda antes de começarem.

Entretanto, o Mullah Mansour foi morto há 4 dias. E, aparentemente, foi MESMO morto, atingido por um míssil Hellfire disparado por um drone americano.

 
A viatura onde seguia o Mullah Akhtar Mansour.
in “The Sun” em www.thesun.co.uk

Como sempre acontece, a liquidação de um líder ou de um elemento importante de um grupo insurgente/terrorista, produz encómios e celebrações por uma nova etapa marcante na guerra contra o terror (War on Terror). Contudo, se o passado for um indicador válido, a eliminação de líderes provoca um abalo e perturbação temporários, a que se segue um tocar a reunir em torno de uma nova liderança e… a vida (e a mortandade) continua.

Assim foi com as mortes dos líderes da Al-Qaeda (Osama Bin-Laden em 2011), da Al-Qaeda na Península Arábica (Nasir al-Wuhayshi em 2015), do Al-Shaabab da Somália (Ahmed Abdi Godane em2014) e com o TTP - Taliban do Paquistão (Baitullah Mehsud em 2009 e Hakimullah Mehsud em 2013).

Independentemente do valor e carisma do líder, a capacidade de um grupo prosseguir depende da sua organização, disciplina, fervor e coesão. Os próximos meses dir-nos-ão o que se passará com os Taliban do Afeganistão, mas se eles sobreviveram à mentira da morte encoberta, o mais provável será resistirem a uma morte em “combate” às mãos do infiel.


P.S. Os Taliban emitiram um comunicado admitindo a morte do Mullah Akhtar Mansour e a escolha de um novo líder, Mawlawi Haibatullah Akhundzada. Este religioso é considerado como sendo um radical; independentemente disso, tal como o seu antecessor, Akhunzasa sentir-se-á compelido a adoptar uma linha dura para ganhar credenciais e solidificar a sua liderança. Como tal, será de esperar um Verão sangrento no Afeganistão.




POSTS RELACIONADOS:


Sem comentários: