THE MOODY'S BLUES
Numa altura em que a mood dos Portugueses anda muito mal, poderia dizer que andamos com os blues, pensei que uma boa música que junta os dois conceitos - Moody Blues - poderia animar um pouco os espíritos.
Enquanto que não abre a época da caça ao coelho (ainda sem segunso sentido), abriu em Portugal a caça à Moody’s.
É evidente que não fiquei contente com o downgrade da dívida soberana portuguesa para junk, seguindo os passos da Grécia e seguido, poucos dias depois, da Irlanda. Escusado será dizer que não tenho qualquer interesse pessoal no sucesso ou insucesso desta ou de qualquer outra agência de rating.
Isto para dizer que me parece um pouco surreal a demonização da Moody’s em Portugal, com o argumento que esta agência (mais a Standard & Poor’s e a Fichte) visam destruir o euro.
Embora não me pareça que tenha havido novidades que justificassem a descida do rating de Portugal, a realidade é que Portugal está num fosso de difícil saída, como o próprio Primeiro-Ministro vai apregoando para justificar o novo assalto à carteira dos Portugueses. E se as finanças públicas portuguesas se encontram no estado desgraçado em que estão, não é devido à Moody’s, mas sim a vários governos que foram gastando este mundo e o outro.
As agências de rating são empresas comerciais, que estão no mercado e que querem ter lucro. Para terem lucro, precisam de credibilidade. Se deixarem de a ter, perdem clientes e podem fechar. Pode dizer-se que a Moody’s perdeu credibilidade em Portugal e por isso começou a perder clientes (mais por motivos políticos do que outros). Não consta, contudo, que os começasse a perder nos EUA, no Reino Unido, na Alemanha, ou no Japão. Certamente porque esses clientes continuam a acreditar nas avaliações que a Moody’s faz.
Em Portugal e na EU foi o desvario. Cavaco Silva, olimpicamente indiferente aos crónicos e descarados desvios aos programas eleitorais, escandalizou-se e tentou (sem sucesso) mobilizar os Chefes de Estado dos 27 em defesa do euro e no ataque as agências de rating. Dois comissários europeus queriam impor proibições à actuação das agências na Europa (como se tal fosse possível). Outros, do PS ao BE, advogaram a criação de uma agência de rating europeia, no espírito que “se é nossa, só vai dizer bem de nós!” E assim poderíamos, quiçá, guindarmo-nos a AAA+++ sem ter sequer de atacar a dívida e o deficit.
Entretanto, a anti-europeia Moody’s, anunciou uma eventual revisão em baixa do rating dos Estados Unidos (AAA), dada a crise orçamental que se avizinha (em 2 de Agosto os EUA entrarão em incumprimento e os serviços do Estado fecharão, se não for elevado o plafond de endividamento federal). Este anúncio segue-se a um idêntico da Standard & Poor’s.
Trata-se, seguramente, de uma manobra de diversão do tal esquema tenebroso de tramar Portugal para rebentar com o euro! Como diria o Eça, não há pachorra!
6 comentários:
In the mood(y’s)
Dá-me a impressão que o problema anda mal visto. Na Moody’s alguém se dedicou à geografia e lá perceberam que a maior parte do país está abaixo de Braga. Ora isso já nós sabíamos e já assim é há muito tempo (desce-se para ir à praia e sobe-se para trabalhar; a meio caminho, joga-se roleta russa em Lisboa – com a cabeça dos outros, claro!). Não há notação que objective os ‘brandos costumes’, que disparate! A geometria dos mercados anda culturalmente errada!
Dólares: vai uma aposta? Depois de os americanos terem produzido vários cowboys e um mulato (sem desprimor – por cá todos o somos) para presidentes, o próximo não virá a ser um produto do verdadeiro wok (melting pot em chinês) americano, nascido numa genuína china town lá do território, olhinhos em bico.....?
ps (não é palavrão!): a pachorra é uma virtude nacional... o Eça, esse, em podendo, pilhava-se em Paris.... mas agora mora por lá o Sarkozy!! O melhor é olharmos para ‘a cidade e as serras’!
:)C
Numa coisa concordo contigo, Rui: as ditas agências de rating não o são - são meras empresas, feitas exclusivamente para dar lucro. E perderão clientes se e quando deixarem de os servir; não uma meia dúzia de câmaras municipais, ou de empresazecas de meia-pataca, de um obscuro e até há pouco, nos USA, desconhecido país chamado Portugal (que muitos pensavam ser uma província de Espanha) - isso não são clientes, são uns trocos que vão entrando para o charuto. Os clientes são exactamente os "não-avaliados", ou os mal-avaliados-para-para-cima (já nem falo da dívida do EUA, que foi hipocritamente posta sob "suspeita" para ajudar a chantagem republicana): se bem me recordo aquela coisada dos Lehman Brothers tinha AAA na véspera da derrocada... os clientes são os que pagam para que os ratings seja esses; os outros são os parvos de serviço que pagam para serem... como dizer... isto é um blog decente... digamos "prejudicados" (acho que me explico).
Não há aqui nada de "rating": o que aqui há é um empresa a prestar um serviço a um cliente: neste caso o serviço é degradar a imagem de um país (ou vários), de uma moeda, de empresas que serão colocadas no mercado para serem leiloadas a dez-reis-de-mel-coado, etc. Enquanto não olharmos para o processo nesta óptica, continuaremos a imaginar teorias da conspiração complicadas: não tem nada de complicado, é a coisa mais linear e mais simples do mundo - ou não teria havido degradação do "rating" do bancos portugas exactamente no dia em que passaram, sem problemas, os mais exigentes testes que se aplicam no mundo. Mísera sorte, estranha condição!
O que seria talvez mais justo seria de considerar que as agências de notação são sem duvida nenhuma os utensílios da finança anglo-saxona contra a economia industrial do continente europeu.
Enfraquecer por todos os meios a economia europeia, atacando primeiro as economias mais fracas – Grécia, Portugal, Irlanda- e mal geridas, e brevemente a Itália e porque não a França, depois, tal é o objectivo .
Mesmo considerando erros de gestão nos diversos países citados, quais são os países que não os cometeram. Quem fala do Japão que ainda não recuperou dos erros do passado?
Tudo isto está ligado ao problema do euro. O euro não é uma criação neoliberal. O euro foi criado no quadro duma política industrial europeia, aprovada democraticamente, e visando o desenvolvimento endogénico e a criação de empregos.
O euro teve um sucesso demasiado, ao ponto de fazer sombra ao dólar, que é, todos o sabemos, uma moeda sobrevalorizada e gangrenada pelo aumento descontrolado da massa monetária.
A máquina de imprimir dolars, a desmultiplicaçao das comissões, juros, despesas de transacção, operações de titrisaçao, etc., deram como resultado que os capitais em circulação em dollars não representam mais o seu valor real.
Os “boys” de Wall Street e da City sabem-no muito bem . Para eles, é preciso investir os capitais dollars e convertê-los urgentemente em activos físicos, em valores seguros, em empresas, imóveis, mesmo em ministérios e patrimónios estatais. Com um dollar nas ruas da amargura, as operações tornam-se mais difíceis!
A quando da vaga de fusoes-aquisiçoes do inicio do século, o euro continuou a mostrar uma certa resistência que, por reacção, demonstrou a fragilidade do dollar.
O euro passou a ser a moeda a derrubar!
George Soros que se enriqueceu especulando sobre a libra e o euro, propõe agora o abandono do euro!
E a primeira decisão de David Cameron foi de dissolver o comité de estudos de adesão ao euro !
Quanto à ameaça da Moody’s de baixar a nota AAA dos USA, é um “complot” democrata para forçar os Republicanos do Congresso a ceder ao presidente Obama sobre a questão da divida.
As agências de notação ligam esta ameaça ao sucesso das negociações em curso entre o presidente e o Congresso, a quem Obama enviou um ultimato...
Freitas Pereira
.....
Sergio Lira escreve « já nem falo da dívida dos EUA, que foi hipocritamente posta sob "suspeita".
De facto, uma divida de 14 .OO0 biliões de dollars acumulada em trinta anos, enquanto existem 11 .OOO biliões nos paraísos fiscais, 60.000 biliões em CDS, mais de 1% dos Americanos que possuem 30% do património americano, isto é mais de 22.000 biliões . Onde está então a falta de dinheiro ? Não ! O que existe é uma distribuição terrivelmente injusta, como em 1929!
E quando assistimos aos gritos histéricos dos representantes dos mais ricos das duas primeiras fatias de rendas que recusam pagar mais impostos, para evitar a derrocada da casa América ... e do mundo, agarrando-se à lei Bush que permite ao contrário de os baixar , preferindo que se retire mais uma vez do pouco que resta no bolso dos mais pobres, como de costume, estes gritos são indecentes.
Roosevelt, em 1943, elevou a taxa progressiva até 91% ! Obama deve inspirar-se, porque o momento é crucial para os USA... e para o resto do mundo.
Freitas Pereira
Em nota ao que escreve Freitas Pereira:
O mais [estranho, interessante, grotesco, hipócrita, falacioso, fantástico, americano... escolham o adejectivo] é que Obama foi (alegadamente) eleito não pelos sectores mais conservadores dos USA mas sim pelos mais "socialistas" (assim lhe chamaram muitos, não é que eu partilhe a opinião). A dificuldade em taxar os mais ricos dos mais ricos é um paradoxo insanável, que eventualmente o levará a não repetir a eleição - se calhar por isso o homem anda tão desatinado, claudicando naquele charme colorido que escolheu para imagem de marca.
E só mais uma nota: o mundo parece ter esquecido os homens de casaco roto que exibiam nas ruas cartazes dizendo "trabalho em qualquer coisa por qualquer salário"; o cancro vai sempre abater-se sobre o nosso vizinho, nunca na nossa próstata: pois esse cancro vai mesmo bater-nos à porta, se tudo continuar neste desgraçado caminho onde irresponsáveis políticos, eleitos por ignaros cidadãos, colocaram o mundo. Imaginamos que a fome e a guerra não mais nos assolarão como em 29? não mais matarão os nossos filhos como em 39? idiotia total, vertigo sobre o abismo da néscia inconsequência e da perigosa e viciosa negação da realidade em que a necessidade de vender mentiras (típica da democracia) nos colocou.
Sérgio Lira escreve « A dificuldade em taxar os mais ricos dos mais ricos é um paradoxo insanável...”
Exactamente. Se analisamos atentivamente a situação actual nos EUA, tudo se apresenta como se esse passado que descreve “dos homens de casaco roto” de 1929 se repetisse mais uma vez, vitimas da mesma “doença” que afecta as sociedades ricas, ricas mas terrivelmente injustas , porque essa riqueza está nas mãos duma ínfima minoria que não vê o fosso para o qual caminha.
As revoluções “cozem lentamente” em cima do fogo, antes de atingirem a massa critica, e explodirem sob a forma de crash ou uma nova depressão.
Em certos países explodiram de improviso. Bastou uma página do Facebook .
Nos USA., os tais 1 % que detêm a grande fatia do bolo, importam-se pouco com o que se passa. Eles não vêm nada, vivem numa bolha acústica que os isola de tudo. Eles vêm o povo como trabalhadores, clientes, contribuintes sem rosto. Eles vêm os partidos conservadores em progresso, a economia ultra-liberal de regresso, os sindicatos empurrados para as cordas do ring social. As massas desorientadas são fáceis de manipular. Até um certo ponto.
Curiosamente, Obama foi eleito pelos “pequenos” mas também pelos judeus, pelos conservadores ricos que foram grandes doadores de dollars para a campanha eleitoral.
Os privilegiados do clube dos 1 % não têm preocupações: Férias em família nos melhores clubes . A preocupação é de descobrir o melhor professor a domicilio, a melhor massagista, os melhores cirúrgicos, as melhores escolas privadas. Não se preocupam pela deterioração geral do pais e do mundo, excepto duma maneira abstracta, porque não são directamente afectados. A única preocupação é de melhorar sempre a sua situação socio-economica, garantir o nível de vida das famílias. Eles vivem em residências sumptuosas protegidos por barricadas e mercenários armados.
Os do clube 1 % crêem sinceramente que beneficiam duma imunidade que os protege das consequências indesejáveis de terem espancado durante 30 anos as classes médias com o mercado libre e as teorias neo-liberais,que vos explicam que a riqueza insultante de “uns” , os de cima, beneficia os de “baixo”, teorias graças às quais eles absorvem a grande fatia do bolo que portanto deveria ser distribuída um pouco melhor aos 99 % que ficam de lado.
Estes do 1 % são como os toxico dependentes, e para os tóxicos o dinheiro nunca há que chegue. Que 300.000 Americanos do clube dos 1 % aufiram rendas superiores ao conjunto de 150 milhões doutros Americanos .não lhes parece demasiado! Uma cura de desintoxicação severa a esta cupidez impõe-se.
Eles crêem sinceramente que as mesmas doutrinas os protegerão da próxima crise. Porquê ? Porque “abrigaram” massas enormes de dinheiro (que faz falta no investimento produtivo) algures!
Eles crêem que em caso de crise, tudo ira bem para eles. Mas não para os outros. Nem para resto do mundo
Sim, estamos a reviver o passado – não aprender nada, não ouvir nada-.
Estranhamente não são só os conservadores do Partido Republicano , mas também Obama, os “banksters rapaces de Wall Street, os multimilionàrios da Câmara do Comércio dos USA e as arrogantes 400 empresas do “rating” do magazine Forbes. Todos os cérebros do mundo político, financeiro e económico estão contaminados.
O pais está entorpecido num “negativismo em fase terminal” ideal para levar direitinho ao grande fracasso.
Por cá, continuamos na expectativa. Não podemos fazer nada senão acompanhar o enterro . Que será também o nosso.
Freitas Pereira
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