14 julho, 2006

The Drums of War II

THE DRUMS OF WAR II


 
Kim Jong Il - The Rocket Man
in "The Economist", 08/07/2006

A Coreia do Norte testou há poucos dias 7 mísseis, sendo um deles, o Taepodong 2, de longo alcance, ou seja, com um raio de acção que atinge a costa oeste dos EUA. Entretanto, as estimativas dos especialistas apontam para que a Coreia do Norte já possa ter até 8 bombas atómicas.

O que há de novo? Não muito, excepto que:

1- É um problema gravíssimo de proliferação nuclear cuja resolução (?) se arrasta desde 1994, tempo demais para lidar com um regime perigoso, paranóico e imprevisível.
2- Se somarmos uma ogiva nuclear com um vector, ou seja, uma bomba nuclear e um míssil capaz de a transportar a longa distância, temos uma potência nuclear com capacidade para desencadear grande destruição num número significativo de países, nomeadamente o Japão e os Estados Unidos.
3- A Coreia do Sul está cada vez mais distante dos EUA e opõe-se a qualquer endurecimento da posição internacional.
4- A Rússia também se distanciou do Ocidente e não se empenha na resolução do problema.
5- A China é o país com maior capacidade de influência sobre a Coreia do Norte, mas prefere claramente a manutenção do statu quo, desde que se evite a rotura.
6- O Japão está com receio da capacidade balística e nuclear de Pyongyang e Tóquio já fala da possibilidade de efectuar um ataque preventivo, sugestão sem precedentes desde 1945.
7- Os Estados Unidos estão num beco sem saída: o único real aliado que tem nas conversações a 6 é o Japão; a imposição de medidas duras pelo Conselho de Segurança da ONU seria vetada por Moscovo e Pequim; um ataque surpresa que destruísse as instalações vitais do programa nuclear norte-coreano não é viável no contexto internacional actual e colocaria em risco Seoul.

Estando a Coreia do Norte confinada geograficamente por grandes potências, as possibilidades de guerra iminente são reduzidas. Porém, o carácter secretivo do regime e das suas intenções e a instabilidade de Kim Jong-Il não são susceptíveis de nos confortar. Os tambores da guerra soam mais suaves e distantes no Leste da Ásia, mas de quando em vez há uns mísseis que nos lembram que também não estão calados.

2 comentários:

PVM disse...

Não sei, Rui, se és da escola realista das RI. Assumo que sejas. Explica-nos três coisas: a) se a Coreia do Norte (como o Irão) é um país soberano como qualquer outro, porque não pode cometer a loucura de enterrar uma pipa de massa no elefante branco das armas nucleares? b) Oito bombas, que cócegas fazem? c) Apesar da insanidade do rocket man lá da Coreia do Norte (um grande democrata, Bernardino Soares dixit...), será que ele não consegue avaliar as consequências catastróficas para si e para a Coreia do Norte caso largasse uma única das suas bombas atómicas nos EUA ou no Japão?

Rui Miguel Ribeiro disse...

a)Os Realistas das RI aceitam a soberania estadual como uma prerrogativa insubstituível dos Estados; no entanto, também defendem que os Estados têm o direito/dever de prosseguir o respectivo interesse nacional, no qual a segurança nacional releva.
b) Sete mísseis podem não fazer grande diferença, especialmente para quem vive em Portugal, mas o problema está em interpretar correctamente o significado deste show-off. Para o Japão, que em 1998 viu um Taepodong 1 cruzar o seu espaço aéreo para depois cair no Pacífico, é uma manifestação pouco tranquilizadora.
c) PRESUMO que sim, mas a História está repleta de ditadores loucos que no delírio alucinado do poder que têm (ou julgam ter), arrastam os seus povos para as maiores catástrofes. Eu penso que Kim Jong Il está nesta categoria (o que não quer dizer que o venha a fazer).