10 julho, 2006

Campeonato do Mundo 2006 - 17: Portugal - O Balanço Final

CAMPEONATO DO MUNDO ALEMANHA/2006

17- PORTUGAL: O BALANÇO FINAL



Muito do que penso da prestação de Portugal no Campeonato do Mundo Alemanha/2006, foi sendo vertido neste Blog ao longo do último mês. Para encerrar o Capítulo Português no Mundial, segue-se a apreciação individual dos jogadores e do seleccionador e o da própria selecção.

***** Maniche: Foi, para mim, o melhor jogador português no Mundial. Joga, ataca, defende, circula a bola, desmarca-se, remata muito e bem de meia distância e marcou 2 golos. Devo admitir que superou as minhas expectativas.***** Ricardo Carvalho: Dificultou a escolha do melhor Português. Classe, segurança, liderança, confirmou-se como um dos melhores centrais do mundo. Nem o penalty cometido na meia-final hipoteca aquele que foi um grande campeonato liderando uma defesa que com ele em campo, sofreu 2 golos em 6 jogos.***** Ricardo: Fez bons jogos, exibindo sempre grande segurança e confiança, não cometeu falhas, excepto no jogo com a Alemanha, e teve o seu momento de glória ao defender 3 dos 4 penalties que os Ingleses lhe marcaram.***** Figo: Esteve em grande nível. Tecnicamente esteve impecável, fintando, passando, centrando, assistindo; como capitão, foi um líder e uma referência para a equipa em campo; fisicamente, paracia ter recuado uns anos. Deixa a selecção da melhor maneira, com bom deempenho individual e colectivo. Tal como Rui Costa em 2004, vai deixar saudade.***** Miguel: A reprise de 2004: saiu lesionado e a equipa ressentiu-se. Importante nos desequilíbrios atacantes e consistente a defender. Esteve ao seu melhor nível.**** Fernando Meira: Foi titular por força da lesão de Jorge Andrade e estava, por, isso, sob suspeita. Após a tremideira dos jogos com Angola e Irão (felizmente os mais fáceis), Meira ganhou confiança e foi um baluarte da defesa portuguesa, mormente contra o México, Holanda e Inglaterra.**** Nuno Valente: Outra boa surpresa, a começar pela boa condição física, grande regularidade exibicional e somou ao bom trabalho defensivo boas iniciativas atacantes.**** Cristiano Ronaldo: Era, juntamente com Figo, a estrela da companhia. Fez bons jogos, mas não foi regular. Alternou boas acções individuais com sentido colectivo com outras inconsequentes por exageradas. Parece ter um íman para a confusão e a polémica. A culpa não é só sua, mas também não está inocente. Mesmo assim, uma boa estreia.**** Simão Sabrosa: saltitou entre a titularidade e o banco e também alternou as boas exibições com outras menos conseguidas. Foi, no entanto, genericamente, um valor acrescentado numa equipa onde não abundaram as boas performances no ataque.

*** Petit: Começou bem, mas teve o pior jogo no final, contra a Alemanha. Mesmo assim, foi o mais consistente e fiável médio defensivo português. Não fora o último jogo e teria mais uma estrela.*** Nuno Gomes: Três estrelas podem parecer um exagero, mas estamos perante o mais eficaz e produtivo ponta de lança da Selecção: jogou 10% do tempo de Pauleta e ambos marcaram um golo; aquele marcou à Alemanha e este a Angola. A não utilização de Nuno Gomes, especialmente contra a Inglaterra e a França, é incompreensível, mais ainda quando se verifica que marcamos dois golos nos últimos 4 jogos! Nuno Gomes prometeu deixar a sua marca no Mundial e cumpriu; se mais não fez, é porque Scolari não quis.*** Paulo Ferreira: Regular, cumpriu quando chamado a substituir Miguel, mas percebeu-se bem porque era ele o suplente.** Deco: Um desapontamento. Para quem apostava nele como um dos fulcros da selecção, foi uma desilusão total. Um bom jogo e um bom golo contra o Irão é muito curto para o que se esperava dele. A sua magia resumiu-se ao truque de se fazer desaparecer.** Tiago: Outra desilusão. Fez uma grande época no Lyon e teve bastantes oportunidades na Alemanha. Não soube aproveitar nenhuma e fez falta.** Hélder Postiga: É um jogador fetiche para Scolari, mas o seu rendimento não o justifica. Os golos contra a Inglaterra no Euro/2004 e contra a Eslováquia na qualificação para o Mundial foram importantes, mas são fogachos de um jogador inconstante. Deste Mundial, no qual jogou 120 minutos e marcou 0 golos, recordo o seu salto à frente de Figo quando este tentava cabecear para o que poderia ser o golo do empate contra a França.** Marco Caneira: Foi titular contra o México: não esteve bem, nem comprometeu.** Ricardo Costa: Foi titular contra a Alemanha e acusou a responsabilidade. Apesar de constituir uma das convocatórias estranhas, não foi por causa dele que perdemos.

* Costinha: Um flop total. Um dos casos em que não me enganei: a sua convocatória roçou o nepotismo. Excepto a 1ª parte contra o Irão, jogou sempre mal, fisicamente inapto, pouco esclarecido, violento (campeão dos cartões do Mundial juntamente com um Ganês), foi mesmo infantil contra a Holanda. Mesmo assim voltou a ser titular e foi-lhe perdoada nova expulsão contra a Alemanha.
* Pauleta:
Outro flop. Alheio da equipa na qual parecia um corpo estranho. Poucas bolas ganhou, menos ainda segurou, remates ainda menos. Conseguiu marcar um golo a Angola, oferta de Figo sem guarda-redes na baliza. Inacreditável ter sido sempre titular. Teimosia, estupidez, ou nepotismo? Escolham. É um pouco injusto, mas apetece dizer, que depois do jogo com Angola, não havia mais Liechensteins ou Andorras.* Hugo Viana: Erro de casting. Teve oportunidades contra Angola e Inglaterra e nada fez que justificasse a viagem à Alemanha. * Boa Morte: Jogou 10 minutos contra o México o que é insuficiente para avaliar, mas conseguiu fazer tantos disparates em tão pouco tempo…
 
- Quim: Não jogou, por isso não é avaliado, mas foi vítima de uma grande injustiça ao não jogar contra o México. Com Portugal já qualificado, não havia motivo nenhum para Scolari não lhe dar a oportunidade de jogar num Mundial. No Euro/2000 na Holanda, em circunstâncias idênticas, Humberto Coelho conseguiu que até o 3º guarda-redes (ironicamente, à época o mesmo Quim) jogasse uns minutos contra a Alemanha.- Paulo Santos: Não jogou, o que é quase uma fatalidade para o 3º guarda-redes, por isso não é avaliado.

**** Scolari: Apontou os quartos de final como objectivo, no que foi realista e ambicioso e chegou às meias-finais, superando a meta traçada. Confesso que eu, até pensei que Portugal ganharia o Grupo D e cairia nos oitavos de final e por isso estou muito contente com o 4º lugar alcançado. Porque é que não dou 5 * a Scolari? A leitura das apreciações aos jogadores dá a resposta. Scolari tem capacidade de liderança e de criação de um espírito de grupo forte, coeso e ambicioso. Não é tão talentoso como treinador, especialmente no banco: o que lhe sobra em teimosia, falta-lhe em flexibilidade. Isso vê-se na repetição interminável das convocatórias, na manutenção do mesmo onze independentemente dos adversários ou da forma dos jogadores, na incapacidade para aproveitar 1 hora de vantagem numérica contra a Inglaterra e em fazer uma tentativa convincente de virar o resultado contra a França, na manutenção de um ataque que não marcava golos. Scolari conseguiu chegar muito longe e tem muito mérito nisso. No entanto, fica-se com o travo agridoce de com ele termos ido tão longe e de, por causa dele, não termos ido mais além.

***** Portugal: Selecção, jogadores, técnicos, adeptos, todos se podem orgulhar da carreira portuguesa. O espírito de união da equipa e dos Portugueses, o orgulho na bandeira, no ser Português e em fazer uma prova de sucesso, é o mérito e orgulho de todos. E, por esse prisma, todos merecem 5 estrelas.

1 comentário:

João Figueiredo disse...

O Mundial chegou ao fim para Portugal e é hora de balanço. De uma forma geral, devemos estar orgulhosos pelo percurso da nossa selecção, já que o quarto lugar é um lugar histórico para o nosso país. Temos que ter em conta que Portugal é uma equipa que ainda está a crescer no mundo do futebol, e a construir a sua história. Portugal, só de há dez-quinze anos para cá, é que anda na ribalta do futebol mundial. Somos uma nova potência do futebol e, portanto, para quem vai pela quarta vez a um mundial, tem que estar orgulhoso por este lugar.
Do ponto de vista mais restrito e fazendo uma apreciação dos jogadores um-a-um, tenho, em geral, a mesma opinião do que o professor. Só não concordaria em relação ao Ricardo. Fez um bom Mundial, sem dúvida. Foi importante contra a Inglaterra, sim, teve a sua noite. Agora, não é, para mim, um jogador que inspire muita confiança (tal como no Euro, teve que dar um ar da sua graça no último jogo). Fraco do ponto de vista da liderança.
Em termos de desilusões Cristiano Ronaldo está no topo da lista. Nada que eu não estivesse à espera, já que por várias vezes o disse antes do Mundial começar. Demonstrou nos jogos contra Cabo Verde e Luxemburgo que não estava bem psicologicamente e acabou por o confirmar durante o Mundial. Ainda tem muito, muito, muito a aprender. Alguém tem de lhe dizer, de uma vez por todas, que o futebol se joga com onze jogadores, e rapidamente. Se não podemos perder aquele que poderá ser o nosso melhor jogador para a próxima década.
Pauleta - nada de novo. Demonstrou a qualidade que tem para jogar nestes palcos. Será que o Scolari ainda não tinha percebido? Bom a jogar contra equipas que defendem e que jogam perto da sua grande área (marcou a Angola), deixa muito a desejar quando o adversário joga mais subido no terreno, aí nem se vê. Não tem talento para estes palcos. Mais um erro do Scolari, a somar a tantos mais.
Outro erro do seleccionador foi Tiago. Mas ao contrário de Pauleta, o Tiago tem talento para jogar nestes palcos, simplesmente, não foi colocado a jogar no sítio onde ele sabe jogar (segundo médio, lugar do Maniche). Jogando como número 10, o Tiago nunca se encontrou.
Em relação a todos os outros jogadores convocados, nada a dizer. Nenhum surprendeu. Aquilo que eu esperava. Como eu sempre disse, Portugal tem treze ou quatorze bons jogadores para jogar de início, o resto é só porque se tem de levar 23. Postiga, Viana, Caneira, Ricardo Costa, Boa Morte... teimosias de Scolari. Mais uma, entre tantas!
Queria ainda deixar aqui uma nota em relação ao Deco. É a peça mais importante do puzzle. Não jogou bem, esteve longe daquilo que sabe, sem dúvida. Mas não nos podemos esquecer que chegou ao Mundial com mais de 50 jogos nas pernas. Arriscaria mesmo a dizer que é um dos jogadores do Mundial que mais jogos teve durante a temporada. Não foi bem recuperado fisicamente para a competição e aqui se vê que Évora com 40º não recupera jogadores!
Por fim, o seleccionador. Luiz Felipe Scolari demonstrou mais uma vez ser um líder e ter capacidade para unir um grupo de 23 jogadores e, até, o país. Agora, também demonstrou ser um mau treinador. Tácticas, substituições, não é definitivamente com ele. Deixou muito a desejar.
Em termos de equipa, Portugal não surpreendeu. Acho que do ponto de vista geral, a equipa esteve bastante cansada, demonstrou pouca frescura física. Tirando raras excepções. Mas não era de esperar outra coisa de uma equipa que fazer a recuperação de uma época para o calor. Portanto, vejo com grande preocupação a continuidade do Scolari. Se ficar vai ser mais tudo do mesmo. Dois anos sem aparecer, dois anos a meter-se com os críticos, dois anos a seleccionar jogadores sem qualidade. Basta!