06 julho, 2006

Campeonato do Mundo 2006 - 14: Final Azul: Azzurri v Bleus

CAMPEONATO DO MUNDO ALEMANHA/2006

14- FINAL AZUL:

AZZURRI v BLEUS

 
Itália: Bom jogo da Squadra Azzurra: o rigor táctico habitual, a defesa segura de sempre, mas mais ousada do que noutros tempos, o que tem sido a imagem dos Italianos neste Campeonato, embora muitos teimem em não o reconhecer. Foi claramente superior na primeira parte e foi a única equipa que quis realmente ganhar no prolongamento, como o provam as substituições de Marcello Lippi. Tem jogadores de classe individual, capazes de fazer a diferença, mas que jogam em função da equipa. Auguri!

França: Depois de uma fase de grupos a roçar o miserável, a França destroçou a Espanha, dominou o Brasil e bateu Portugal a caminho da final de Berlim. Tal como havia previsto, a França, tendo melhorado exponencialmente terá atingido o seu pico nos jogos com Espanha e Brasil. No jogo com Portugal não regressou ao jogo com a Suíça, mas esteve longe de ser brilhante: ganhou vantagem num bem construído mas culminado com um penalty fortuito e controlou (bem) o jogo, a maior parte do tempo longe da sua área. Mereceu passar à final, mas 2 bons jogos em 6 sabe a pouco. Domingo veremos.


Del Piero, Gilardino, Pirlo, Grosso e Cannavaro: avançados, médio, defesas, a Itália destaca-se pela sua homogeneidade que torna difícil a escolha dos melhores. Escolhi Alessandro Del Piero porque é o mais brilhante e criativo jogador de Itália (melhor que Totti) e marcou um golo de grande classe; Gilardino pois foi mais eficaz e objectivo do que Luca Toni: esteve perto de marcar e assistiu Del Piero para o 2º golo; Andrea Pirlo foi o pêndulo do jogo italiano, pautou o jogo, defendeu, distribuiu e acabou por fazer uma assistência perfeita no 1º golo; Grosso é o herói improvável: tido como o elo mais fraco da selecção italiana, tornou-se o decisor do jogo aos 118 min. com um remate notável a fazer a bola “fugir” de Lehmann e entrar junto ao poste mais distante.


Thuram, Vieira, Zidane e Henry: Experiência, saber, muita técnica e rigor táctico, conhecimento mútuo e toques de classe, são a espinha dorsal da França, desde o centro da defesa até à baliza adversária. Há outros contributos valiosos, como Makelelé ou Ribéry, mas estes ainda são a chave dos triunfos.

Marcello Lippi: Sem surpresa, tem mostrado seu um dos (ou mesmo o) melhores treinadores deste Mundial. Calmo, lúcido no desenho táctico e na maioria das substituições, gizou um modelo de jogo mais atraente e ofensivo do que o tradicional italiano, sem até agora ter sofrido qualquer golo marcado pelos adversários (sofreu um auto-golo de Zaccardo ante os EUA). Falta-lhe vencer o derradeiro obstáculo para suceder a Enzo Bearzot na galeria dos imortais do Calcio.


Portugal: Infelizmente, confirmou-se a quebra já visível contra a Inglaterra. A França foi melhor e mais segura mas nunca foi avassaladora. O problema é que Portugal foi quase sempre inofensivo, impotente para dar a volta ao texto. Estes Gauleses estão muitos furos abaixo dos de 2000 e fiquei convencido que a nossa equipa desse Europeu tinha batido esta França sem apelo nem agravo. Como já tinha alertado, temos o pior ataque dos semi-finalistas e é difícil conquistar o Campeonato do Mundo só com vitórias por 0-0.

Alemanha: Foi o jogo em que os Alemães foram menos iguais a si próprios. O jogo com a Argentina foi um prenúncio, mas o jogo das meias finais foi o 1º em que a Alemanha não assumiu as rédeas do jogo e o controlou na totalidade, ou pelo menos, na maior parte do tempo. O 0-2 será penalizador, mas a Alemanha mereceu jogar a partida do 3º lugar pelo que fez até ao último jogo; hoje, contudo, não mereceu a final.

Scolari: Nem as vitórias anteriores o transformaram, para mim, em bestial, nem a derrota de hoje faz dele uma besta. Naquelas e nesta, ele foi igual a si próprio: bom condutor de homens, congregador, unificador e moralizador do grupo, incutindo-lhe ambição e espírito vencedor; treinador mediano, teimoso à enésima potência, praticamente incapaz de admitir que as suas apostas crónicas não estão a resultar e engendrar uma alternativa. Veja-se a segunda parte errática e sem norte da equipa contra a França, as substituições previsíveis, mas desconexas, o facto de proclamar total confiança nos 23 jogadores mas demonstrar que só contava com os mesmos 11 (14 com boa vontade).

Klinsmann: Equilibrou o jogo na 2ª parte, mas durante os outros 75 minutos foi sempre inferior ao adversário. Pareceu surpreendido com a forte entrada dos italianos no prolongamento, contrapôs com substituições conservadoras à ousadia de Lippi e começou a pensar nos penalties cedo demais, contrariando a vocação atacante da Alemanha e facilitando a execução do coup de grace por uma Itália mortífera. Tal como as vitórias anteriores e os jogos galvanizadores têm muito mérito de Klinsmann, a derrota com a Itália também passa por ele.

Pauleta: É uma verdade estatística inatacável que é o maior goleador de sempre da Selecção Nacional, mas o Mundial 2006 (após o Euro 2004) demonstram à evidência que os seus lamentos de Calimero não têm razão de ser: não marca golos na maioria esmagadora dos jogos importantes, não faz jogo de equipa, raramente recua, dificilmente ganha ou segura uma bola, às vezes parece nem se esforçar – talvez por saber que joga sempre. Contra a Inglaterra foi uma nulidade e contra a França fez um bom remate e… mais nada. No bornal leva um golo a Angola, o que é bom, mas não deixa de ter um sabor a um golo marcado ao equivalente do Liechenstein nas fases da qualificação. Que saudade do Nuno Gomes!

Ballack: Que saudade do Michael Ballack do Mundial Japão/Coreia do Sul 2002, ou mesmo o que impulsionou a Mannschaft para uma bela exibição contra a Suécia este ano! Agora esteve desinspirado, desconcentrado, pouco rematador e nunca fez a diferença. Tem capacidade e obrigação de fazer muito melhor.


SELECÇÕES DAS MEIAS FINAIS:

A B

1- Buffon (ITA) 1- Lehmann (GER)
2- Zambrotta (ITA) 2- Sagnol (FRA)
3- Meira (POR) 3- Thuram (FRA)
4- Cannavaro (ITA) 4- Matterazzi (ITA)
5- Grosso (ITA) 5- Nuno Valente (POR)
6- Makelelé (FRA) 6- Gattuso (ITA)
7- Andrea Pirlo (ITA) 7- Figo (POR)
8- Podolski (GER) 8- Kehl (GER)
9- Gilardino (ITA) 9- Henry (FRA)
10- Del Piero (ITA) 10- Zidane (FRA)
11- C. Ronaldo (POR) 11- Camoranesi (ITA)


Repentinamente o Mundial ficou todo Azul. Domingo em Berlim, Azzurri e Bleus vão disputar o título mundial. Analisando os jogos das meias-finais, os que foram melhores jogam em Berlim e os que foram inferiores jogam Sábado em Stuttgart. Se o cômputo do Mundial valer para alguma coisa, a Itália conquistará o seu 4º Campeonato do Mundo. No entanto, como outros Mundiais já demonstraram, no dia da final, o caminho feito até lá conta muito pouco. Na véspera, temos a despedida dos anfitriões que também sonhavam com a 4ª vitória e a nossa, a de Portugal, que chegou a sonhar em superar o feito dos heróis míticos de 1966.

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