13 julho, 2006

The Drums of War I

THE DRUMS OF WAR I


Desde o início de 2006 que se intensificavam os sinais: It was as if you could hear the drums of war ruffling in the distance. Agora já não são só os tambores da Guerra: é mesmo o ribombar dos canhões, o flash dos caças e dos mísseis, as lagartas dos carros de combate.














 
Viatura blindada israelita destruída em emboscada do Hezbollah: 8 soldados mortos, 2 feridos e 2 capturados.
in
http://www.bbcnews.com/

As peças começaram a mover-se no complexo tabuleiro do Médio Oriente (e não estou a falar sequer do Iraque, nem da crise iraniana). Israel foi razoavelmente bem sucedido no isolamento e encurralamento do Hamas na Palestina. O Hamas e outros grupos terroristas islamitas conseguiram elevar as provocações a Israel a patamares demasiado elevados até desencadearem a retaliação israelita. Esta veio com uma violência porventura inesperada, mesmo para quem vive na Faixa de Gaza e na Cisjordânia.

Agora, o Hezbollah decidiu escalar a sua participação no conflito, entrando na onda de rapto e liquidação de militares israelitas. Estava o caldo definitivamente entornado. Israel não podia deixar de responder e, ao fazê-lo, envolve o Líbano na refrega.

O Hezbollah é um dos maiores factores de instabilidade do Médio Oriente: é a única facção libanesa que recusou o desarmamento após as sucessivas retiradas israelita e síria do Líbano; continuou a desencadear periódicas acções de provocação e atrito na fronteira norte de Israel, nomeadamente lançando rockets para a Galileia; é patrocinado pelo Irão e pela Síria, países que têm diferentes interesses na manutenção de um clima de instabilidade, até de afrontamento, na região, especialmente se envolver Israel directamente e os EUA, nem que seja indirectamente.

Desta forma, o Irão distrai a atenção que tem estado focada no seu programa nuclear e a Síria tenta sair do estado de isolamento e ostracismo a que tem estado votada desde que se viu obrigada a abandonar o seu feudo no Líbano em 2005. Finalmente, ambos ganham em centrar a atenção internacional em Israel e colocar os Israelitas a resolver dois problemas complicados em simultâneo.

Concluindo, se a crise não for rapidamente controlada, a escalada de violência ameaça alastrar, podendo envolver a Síria e o Irão, o que arrastaria necessariamente outros actores, como a Jordânia.
 

















Artilharia israelita bombardeia o sul do Líbano.
in http://www.cnn.com/


5 comentários:

Diogo Mendes Silva disse...

Ora aqui está um post bastante esclarecedor acerca da situação no Médio Oriente!
É bom que Israel perca um pouco os nervos (é compreensivel) porque invadir um nação livre e soberana como o Líbano pode gerar outros conflitos internacionais. Apesar dos EUA terem interesse que estas ofensivas continuem seria sensato acalmar os ânimos em Israel. A popularidade de Bush podia sofrer uma variação positiva, o que seria bom para os Republicanos.

PVM disse...

Rui: onde fica o direito internacional no meio desta insanidade israelita?
Nós por cá (Europa) só temos a agradecer: é o petróleo a subir de preço a cada semana que passa. E a profecia louca do Rosas do BE a cumprir-se. Há um ano o Rosas leu o oráculo e atirou um número: o petróleo vai chegar aos 80 dólares. Então ri-me do lado Maya do Prof. Rosas. Hoje engulo em seco.

Rui Miguel Ribeiro disse...

Paulo: o Direito Internacional fica na prateleira. É evidente que Israel pode invocar o direito de legítima defesa, dado os mísseis que o Hezbollah vai regularmente enviando para a Galileia; da mesma forma, o Líbano pode reclamar que não existe casus belli. Porém, quer um, quer o outro, vão recorrer a quem? Ao CS da ONU? Ao TIJ? E quando é que conhecem uma resposta? E quem é que impõe o respectivo cumprimento no terreno?
Resposta: o Direito Interncional em inúmera situações (e esta é uma delas) é uma doce ilusão. O que é real são os interesses, as ameaças, os objectivos, o poder, a determinação, os aliados, numa palavra, Power Politics!

Anónimo disse...

Faço minhas as palavras do Filipe Rodrigues da Silva /LUSA
".........O terrorismo existe de parte a parte. Por muito que Israel se defenda na base da auto-defesa. Os alvos civis existem nos rascunhos militares de todos. Terroristas são potencialmente todos – no limite, todos nós. Mesmo quando se sabe o insano que é o eixo Irão-Síria-Hezbollah-Hamas e o quão perturbador seria um hipotético e encapotado controlo sírio no Líbano.

Na terra berço de algumas das mais importantes religiões, pátria do perdão, do respeito pelo outro e do dar a outra face, a solução, como diz António Guterres, tem de ser política. A questão não é o petróleo. Esse é o culpado fácil. Se a política, vida da polis, depende de alguma coisa é da cultura. O choque é cultural. Não de toda a cultura, mas sim daquela forma decadente de copiar a tradição sem querer evoluir. Ouvimo-lo em inúmeros testemunhos – irracionais aos olhos de muitos ocidentais, quiçá não tanto de um qualquer hooligan do futebol -, na raiva e ódios expressos por quem não é igual. As guerras existem porque há fronteiras. Mas enquanto os mísseis são disparados, talvez devessem pensar que ninguém se lembra de quem atirou a primeira pedra. Isso nada importa. Embora todos a evoquem...."


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Rui Miguel Ribeiro disse...

BlueSky: É difícil reduzir a raiz dos conflitos ao petróleo, à religião, à cultura, à luta pelo poder, a um interminável ajuste de contas. E para haver uma solução política, tem que haver disponibilidade das partes para seguir essa via e que extremistas de ambos os lados não façam descarrilar o processo. Ainda estamos longe desse momento.
Quanto à primeira pedra, neste caso basta recuar a 1948 e vê-se que mão a lançou.