SAÍDA
LIMPA, PROCESSO SUJO
Não entendo a excitação e agitação à volta da
proclamação oficial da saída limpa de
Portugal do programa que acompanhou o resgate da Troika.
Em primeiro lugar, porque era óbvio há
meses que seria esse o desfecho, quer por motivos políticos, quer pela vontade
dos parceiros da EU.
Em segundo lugar, porque muito pouco
vai mudar. Aliás, o Sr. Coelho já anunciou com orgulho o que toda a gente também
sabia: a austeridade vai continuar. Os burocratas da capital da Bélgica também
já acorreram aos microfones com toda a sorte de avisos e ameaças veladas.
Em terceiro lugar, porque a suposta saída limpa não é limpa e nem sequer é verdadeiramente uma saída.
Não é uma saída porque já sabemos que os Taliban da Troika vão
assombrar as nossas existências durante mais 20 anos e não vão certamente fazer visitas de cortesia, mas sim
continuar a impor os seus dogmas ideológicos em benefício dos seus patronos.
Consequentemente, de limpa a saída tem muita muito pouco. E
nunca teria porque o processo foi iminentemente sujo.
Era sujo ainda antes de começar
devido ao esbanjamento irresponsável e por vezes criminoso de fundos públicos.
Era sujo pela forma
subserviente e ao arrepio do interesse nacional como foi negociado (??) e
acatado o Memorando de Entendimento.
Era sujo pelo servilismo
acéfalo com que foram aceites e aplicadas as instruções da Troika.
Era sujo pela forma como
perseguiram determinadas categorias sociais e profissionais de Portugueses (a
maioria, valha a verdade) com a ênfase na sanha persecutória aos funcionários
públicos, reformados e pensionistas e trabalhadores por conta de outrem.
É óbvio que perante tão grande e prolongada sujeira, não há detergente
ou operação de comunicação ou de marketing que a limpe.
O Sr. Coelho que se apresentou ufano ao país está conspurcado
sem remissão pelo que fez, com satisfação, nos últimos 3 anos. E a sua saída
também não será limpa. Só espero que seja rápida.
2 comentários:
Lia o seu texto, brilhante como de costume e pensava no personagem do PM , tal como o descreve no seu "post".
Não há muito tempo, no Japão, pais que visitei umas trinta vezes na minha vida profissional, a palavra dum homem de negócios ou de governo tinha valor de compromisso para com a sociedade. Se fosse apanhado em delito flagrante de mentira, ou se "perdesse a face" (horrível para um Japonês), ele podia perder a vida, e frequentemente pela sua própria mão (hara-kiri).
Mesmo nos Estados Unidos, pais de cowboys, há não muito tempo, a palavra dum homem ou um aperto de mãos viril significava qualquer coisa. Claro que existiram sempre trafulhas e burlistas, mas antes fazia-se mais atenção a se desembaraçar dos incompetentes que dos psicopatas.
Não sei se leram Owen Young, " Não é o burlista moderno do mundo dos negócios e da política que receamos, mas o homem honesto que não sabe o que faz."
Infelizmente, tudo mudou. Devemos agora recear o burlista moderno super sofisticado que sabe o que faz... e o faz tão bem que ninguém não o detecta. Sim, os psicopatas adoram o mundo dos negócios e a política na sua vertente "negociata"!
Indiferente aos outros, observa dum olhar frio as vítimas e manipula-os como bem lhe agrada. Através dos media ou da televisão. Um tal individuo não passará a sua vida por trás das grades duma prisão ou a fugir da justiça. Em vez de liquidar os indivíduos, ele liquida o futuro deles, o que é equivalente.
Claro que as consequências desta criminalidade elitista, de colarinho branco, sentados nas cadeiras do poder, para o cidadão ordinário são trágicas.
A nossa sociedade é, cada vez mais materialista, e o sucesso a não importa qual preço é agora o credo de muitos homens de negócios e políticos. O psicopata tipo compraz-se num tal ambiente onde é considerado como um "herói"!
Eles não são muito numerosos, não! Talvez uns 4% da humanidade. Mas são terrivelmente nocivos às nossas relações, às nossas contas bancárias, às nossas obras, ao nosso orgulho e ao nosso bem-estar sobre esta terra.
Eles são os "snipers" sociais sem escrúpulos que nos desgraçam.
Freitas Pereira
Assino por baixo, Rui. Nem saída nem limpa.
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