26 maio, 2014

Quem Está a Ganhar?


QUEM ESTÁ A GANHAR?


A 20 de Julho de 2013, em Tempos Interessantes, previmos que a Guerra Civil na Síria estava longe do fim: “Síria: A Guerra Está Para Durar” em http://tempos-interessantes.blogspot.pt/2013/07/siria-guerra-esta-para-durar.html . Volvidos 10 meses, o conflito sírio não dá sinais de abrandamento e muito menos se vislumbra um final.


Este mapa mostrando a situação das principais cidades da Síria dá uma ideia do controle que o governo já exerce sobre o Oeste e o centro da Síria.
in STRATFOR em www.stratfor.com


Contudo, a Guerra não estagnou e as movimentações ao longo do seu 3º ano foram várias e significativas. Destacamos três.


1- Apoios Externos

Os apoios externos aos diversos contendores mantiveram-se sensivelmente os mesmos, no entanto os aliados do regime sírio continuaram a ser mais estáveis, organizados e eficientes: Irão, Rússia, Hezbollah e Iraque sabem quem e como apoiar; do outro lado têm um comando e autoridade únicos e uma estrutura coesa.


Já os benfeitores dos rebeldes são muitos, têm objectivos e interesses diversos e apoiam uma manta de retalhos de grupos rebeldes, também eles com ideários, tácticas e objectivos diferentes. O resultado tende para o caótico: enquanto os EUA e a França estão há dois anos a ponderar os prós e os contras de fornecer armamento anti-aéreo e anti-tanque, a Turquia vai-se distanciando do conflito, estilhaçado que está o seu sonho da queda rápida de Assad, substituído por um governo pró-turco, e a Arábia Saudita e o Qatar se envolvem num conflito diplomático e continuam a apoiar facções diferentes.


2- Ruptura nos Rebeldes

A divisão entre os aliados também reflecte a divisão existente entre os rebeldes. Em 2013/14, os diferendos intra-rebeldes ganharam tal dimensão que se assiste ao caricato de ver as forças rebeldes em encarniçados combates, matando e conquistando territórios umas às outras. Para se ter uma melhor noção da gravidade destes combates, atente-se neste número: o principal grupo rebelde em Alepo, o Liwa al-Tawheed, perdeu 1300 combatentes nos dois primeiros anos da Guerra às mãos do Exército Sírio e perdeu 500 homens no primeiro trimestre de 2014 nos confrontos entre rebeldes. Este cenário, que parece saído de um livro de Astérix e Obélix, é uma autêntica prenda para Damasco, que em certas áreas apenas tem de ver os inimigos a exterminarem-se.


3- Vitória do Regime

Em virtude dos dois factores anteriores, somados à resiliência do regime, à capacidade de combate do Exército Sírio e à estabilização dos seus apoiantes, Bashar Al Assad tem vindo a somar vitórias desde o Verão de 2013. Primeiro na fronteira sírio-libanesa, depois em Damasco, agora em Homs, a ex-capital da revolução e, desde há algum tempo e no futuro próximo, alta pressão sobre Alepo, a segunda cidade da Síria.



Um bairro de Alepo a arder após um ataque aéreo em 24 de Abril 2014.
in STRATFOR em www.stratfor.com


Significa isto que Al Assad já ganhou?


Não, de modo algum. Alepo está divida. Há bolsas rebeldes perto de Damasco. A presença de forças do regime no Norte e Nordeste da Síria é ténue. A zona de Daraa junto à Jordânia tem uma forte presença dos rebeldes.



Significa isto que Al Assad vai ganhar?


Não, não é possível fazer essa afirmação agora. Aliás, é provável que, salvo uma alteração drástica do contexto externo e/ou a implosão de um dos lados da Guerra, a vitória que venha a suceder seja parcial e não corresponda ao domínio total e indiscutível sobre o território da Síria e sobre os Sírios.



Significa isto que Al Assad está a ganhar?


Sim. As tropas lealistas e os seus aliados Libaneses e Iranianos têm registado ganhos significativos, que tendem a acentuar-se. Digamos que o regime está com uma dinâmica de vitória e os rebeldes estão numa espiral recessiva.


Desde 2011 que em Tempos Interessantes vimos defendendo que o desenlace de uma vitória rápida e fácil dos rebeldes era uma ilusão. Volvidos mais de 3 anos a realidade validou sobejamente as opiniões aqui expendidas.


A previsão nem era muito difícil de fazer se se atentasse nos precedentes abertos na Guerra da Líbia, desde o abuso gritante da Resolução do Conselho de Segurança, até à mudança de regime e à liquidação de Kadhafi, e que ajudaram a formatar as percepções, o pensamento, a política e as acções de Bashar Al Assad, da Rússia e do Irão.


A situação presente configura uma situação de vantagem do regime que detém a iniciativa, mas não se perspectiva uma vitória decisiva e duradoura no curto-médio prazo. O mais provável é estarmos em 2015 a falar do 4º aniversário da Guerra Civil da Síria.

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