QUEM
ESTÁ A GANHAR?
A 20 de Julho de 2013, em Tempos Interessantes,
previmos que a Guerra Civil na Síria estava longe do fim: “Síria: A Guerra Está
Para Durar” em http://tempos-interessantes.blogspot.pt/2013/07/siria-guerra-esta-para-durar.html . Volvidos 10 meses, o conflito sírio não dá sinais de
abrandamento e muito menos se vislumbra um final.
Este mapa mostrando a situação das principais cidades da Síria dá
uma ideia do controle que o governo já exerce sobre o Oeste e o centro da
Síria.
Contudo, a Guerra não estagnou e as movimentações ao
longo do seu 3º ano foram várias e significativas. Destacamos três.
1- Apoios Externos
Os apoios externos aos diversos contendores
mantiveram-se sensivelmente os mesmos, no entanto os aliados do regime sírio
continuaram a ser mais estáveis, organizados e eficientes: Irão, Rússia,
Hezbollah e Iraque sabem quem e como apoiar; do outro lado têm um comando e
autoridade únicos e uma estrutura coesa.
Já os benfeitores dos rebeldes são muitos, têm
objectivos e interesses diversos e apoiam uma manta de retalhos de grupos
rebeldes, também eles com ideários, tácticas e objectivos diferentes. O
resultado tende para o caótico: enquanto os EUA e a França estão há dois anos a
ponderar os prós e os contras de fornecer armamento anti-aéreo e anti-tanque, a
Turquia vai-se distanciando do conflito, estilhaçado que está o seu sonho da
queda rápida de Assad, substituído por um governo pró-turco, e a Arábia Saudita
e o Qatar se envolvem num conflito diplomático e continuam a apoiar facções
diferentes.
2- Ruptura nos Rebeldes
A divisão entre os aliados também reflecte a divisão
existente entre os rebeldes. Em 2013/14, os diferendos intra-rebeldes ganharam
tal dimensão que se assiste ao caricato de ver as forças rebeldes em
encarniçados combates, matando e conquistando territórios umas às outras. Para
se ter uma melhor noção da gravidade destes combates, atente-se neste número: o
principal grupo rebelde em Alepo, o Liwa al-Tawheed, perdeu 1300 combatentes
nos dois primeiros anos da Guerra às mãos do Exército Sírio e perdeu 500 homens
no primeiro trimestre de 2014 nos confrontos entre rebeldes. Este cenário, que
parece saído de um livro de Astérix e Obélix, é uma autêntica prenda para
Damasco, que em certas áreas apenas tem de ver os inimigos a exterminarem-se.
3- Vitória do Regime
Em virtude dos dois factores anteriores, somados à
resiliência do regime, à capacidade de combate do Exército Sírio e à
estabilização dos seus apoiantes, Bashar Al Assad tem vindo a somar vitórias
desde o Verão de 2013. Primeiro na fronteira sírio-libanesa, depois em Damasco,
agora em Homs, a ex-capital da
revolução e, desde há algum tempo e no futuro próximo, alta pressão sobre
Alepo, a segunda cidade da Síria.
Significa isto que Al Assad já ganhou?
Não, de modo algum. Alepo está divida. Há
bolsas rebeldes perto de Damasco. A presença de forças do regime no Norte e
Nordeste da Síria é ténue. A zona de Daraa junto à Jordânia tem uma forte
presença dos rebeldes.
Significa isto que Al Assad vai ganhar?
Não, não é possível fazer essa afirmação agora. Aliás, é
provável que, salvo uma alteração drástica do contexto externo
e/ou a implosão de um dos lados da Guerra,
a vitória que venha a suceder seja parcial e não corresponda ao domínio total e
indiscutível sobre o território da Síria e sobre os Sírios.
Significa isto que Al Assad está a ganhar?
Sim. As tropas lealistas e os seus aliados Libaneses e Iranianos
têm registado ganhos significativos, que tendem a acentuar-se. Digamos que o
regime está com uma dinâmica de vitória e os rebeldes estão numa espiral
recessiva.
Desde 2011 que em Tempos
Interessantes vimos defendendo que o desenlace de uma vitória rápida e
fácil dos rebeldes era uma ilusão. Volvidos mais de 3 anos a realidade validou
sobejamente as opiniões aqui expendidas.
A previsão nem era muito difícil de fazer se se
atentasse nos precedentes abertos na Guerra da Líbia, desde o abuso gritante da
Resolução do Conselho de Segurança, até à mudança de regime e à liquidação de
Kadhafi, e que ajudaram a formatar as percepções, o pensamento, a política e as
acções de Bashar Al Assad, da Rússia e do Irão.
A situação presente configura uma situação de vantagem do regime
que detém a iniciativa, mas não se perspectiva uma vitória decisiva e duradoura
no curto-médio prazo. O mais provável é estarmos em 2015 a falar do 4º
aniversário da Guerra Civil da Síria.
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