INDIFERENÇA
Wolfgang Scrooge (aka Schauble) frequentemente tem
atitudes ou declarações em que ameaça, pressiona, apouca, ou humilha os Gregos.
Pode não ser bonito, mas a realidade é que Wolfgang Scrooge não foi eleito
pelos Gregos, não os representa e, aparentemente está-se nas tintas para eles. Ou seja, os Gregos são-lhe
indiferentes.
Indiferença. A governação em muitos países da Europa
(e não só) tem-se pautado por muita incompetência, opacidade, corrupção, falta
de sentido estratégico, oportunismo político, ausência de sentido de estado,
ignorância do que é o serviço público. Não obstante este extenso e grave rol de
defeitos, há um que é pouco mencionado, mas que sobressai: a Indiferença.
Não sou adepto do Estado paternalista que acorre a
tudo e a todos, reduzindo os cidadãos a criaturas incapazes e inimputáveis. No
entanto, é suposto os governantes importarem-se com os governados; é de esperar
que tenham em conta os seus anseios e preocupações; é normal que o Estado actue
no sentido de minimizar a dor e de maximizar o conforto, especialmente quando
aquela ocorre em circunstâncias para além da vontade e do controle das pessoas.
Tudo isto é ainda mais expectável, quando o sofrimento decorre de acções ou
omissões do Estado e dos governantes. Que estes comportamentos sejam
substituídos pela frieza da Indiferença é cruel e inaceitável.
Lamentavelmente, tal tem sido prática corrente em
Portugal:
·
A recusa de Sócrates em pedir desculpa aos Portugueses
porque não tinha nada que pedir desculpa, isto depois de ter dado um contributo
decisivo para levar Portugal à ruína e muitos milhares de Portugueses ao
desespero.
·
O desplante de Passos Coelho ao afirmar que o Governo
não tem exigido demais aos Portugueses.
·
A insistência de ambos que o caminho para o abismo é a
única solução, mesmo quando confrontados com os números do desemprego, das
falências de empresas, da ruína de famílias, da insolvência de indivíduos, do
confisco de rendimentos, da entrega de casas aos bancos, da queda abrupta do
consumo.
·
Reconhecer os sacrifícios que os Portugueses fazem com
o ar de enfado de quem está a fazer um frete ou a marcar o ponto.
Tudo isto configura uma altiva Indiferença, brutal e
desumana, perante uma população que em muitos casos come o pão que o diabo
amassou, enquanto que aqueles que simultaneamente governam e são
co-responsáveis pelo desastre não fazem o que deviam: mover céus e terra para
apoiar e compreender, já para não falar em resolver e superar a crise.
Esta arrogância somada à Indiferença não é exclusiva
de Portugal. Em Espanha, na Grécia, em Itália, assistimos a fenómenos
semelhantes, sendo o caso grego particularmente gritante dada a brutalidade da
austeridade aí implementada. Em Espanha, por exemplo, Rajoy está mais empenhado
em ostentar a bravata de toureiro perante o exterior (nós não precisamos de ajuda) do que em resolver os problemas dos Espanhóis.
Esta Indiferença vai alienando ainda mais os representados
dos seus pseudo-representantes. Frequentemente, a resposta daqueles é retribuir
a Indiferença: não votam; desligam-se da política e desprezam os políticos.
É merecido e compreensível, mas não ataca a raiz do
problema. A solução passa pela remoção implacável e duradoura de quem despreza
os cidadãos e é alheio aos seus problemas. A Indiferença num governante é um
pecado sem perdão e assim devia ser encarada e tratada.