14 junho, 2013

E o Palhaço é Ele?


E O PALHAÇO É ELE?

As últimas semanas têm conhecido uma polémica gerada por Sousa Tavares ter apelidado o Presidente da República Aníbal Cavaco Silva de “Palhaço”.

Na verdade, o mesmo Cavaco e ainda o Tribunal Constitucional, o Coelho, o Seguro e ainda o líder parlamentar do CDS levaram com o mesmo epíteto em Tempos Interessantes no post “O Circo da Semana” publicado em 6 de Julho de 2012 (ver em http://tempos-interessantes.blogspot.pt/2012/07/o-circo-dasemana-uma-boa-parte-da-vida.html ). Recordo que nesse post fui bastante mais elaborado e abrangente do que MST caracterizando 5 tipologias de palhaços: o Interesseiro, o Prepotente, o Pobre, o Palhacito e o Ausente.

Palácio de Belém, ou Circo de Belém, eis a questão das últimas semanas.

Aliás, a temática do palhaço ressurgiu em Tempos Interessantes já em 2013, com uma dimensão internacional, recriando e adaptando a velha rábula do palhaço rico e do palhaço pobre à Itália actual. Foi em 26 de Fevereiro: “Grillo & Monti (ou o Palahço Pobre e o Palhaço Rico)” (ver em http://tempos-interessantes.blogspot.pt/2013/02/grillo-monti-palhaco-pobre-e-palhaco.html). Tanto quanto sei, a analogia não causou furor em Itália.

Feliz ou infelizmente para mim, não tenho o tempo de antena nem o impacto público de Sousa Tavares e por isso escapei incólume ao coro de virgens ofendidas com a indignidade que foi atirada ao PR. Talvez esse mesmo relativo anonimato me tenha permitido escapar de uma valente multa, restando saber se “palhaço” é ou mais ou menos gravoso que “malandro” e avaliar se o incentivo para o dito malandro ir trabalhar constitui factor de agravamento ou suavização da pena.

A propósito de palhaçadas e de malandragens, devo dizer três coisas:

1-      As instituições e quem as representa, especialmente se forem altas figuras representativas do Estado, merecem respeito e consideração.

2-      Não obstante, como se costuma dizer, para se ser respeitado tem de se dar ao respeito. O que, como se sabe, não tem sido o caso da maioria dos altos representantes e figurantes do Estado Português neste ainda curto século XXI.

3-      Não aceito que o Presidente da República seja uma espécie de vaca sagrada do sistema político português. Ele apresenta uma plataforma eleitoral e é sufragado pelos Portugueses e, consequentemente, deve ser responsabilizado perante o povo. Como tal, está tão sujeito à crítica como qualquer ministro ou deputado. Não estamos a falar do Rei da Holanda ou da Rainha de Inglaterra.

Posto isto, a realidade é que os Presidentes da III República têm sido genericamente lamentáveis. In a nutshell:

Ramalho Eanes trabalhou para criar o seu próprio partido enquanto era PR.

Mário Soares era raivosamente anti-cavaquista e moveu céu e terra para escavacar o Cavaco no 2º mandato.

Jorge Sampaio dissolveu a Assembleia da República como meio de derrubar de forma definitiva o Governo de Santana Lopes com o propósito de colocar a sua família política no poder. Batoteiro.

Cavaco Silva tirou (bem) o tapete a Sócrates e agora anda a aparar o jogo de um governo catastrófico que arruína o país em nome de interesses alheios aos Portugueses.


Não escrevo isto por ser monárquico, mas não me venham dizer que é tudo uma horrível coincidência.


Por não ser coincidência, é caso para perguntar, glosando Scolari: E o palhaço é ele? Se calhar somos nós, que em 8 (oito) eleições presidenciais entre 1976 e 2011, elegemos e reelegemos quatro personagens que fizeram tudo o que estava ao seu alcance para prosseguirem uma agenda própria, espúria e alheia aos interesses de Portugal.

New Look


NEW LOOK

Tempos Interessantes tem a sua origem noutro blog, o Rosa-Laranja partilhado com a Rosa (Maria Luísa Vasconcelos), criado em Fevereiro de 2006. Os posts que eu escrevi durante o meio ano seguinte mantêm-se no acervo do Tempos Interessantes.

Em Setembro do mesmo ano, o blog assumiu o nome, o formato e o look que todos os frequentadores conhecem há 7 anos.

Atingidos a semana passada os 100.000 visitantes, achei que era altura de realizar uma ideia que já tem alguns meses: refrescar o blog, DAR UM NOVO LOOK AO TEMPOS INTERESSANTES.

Tempos interessantes são tempos de mudança e de risco e dets vez é o próprio Tempos Interessantes que arrisca e muda. Mudou-se o modelo, o layout, o fundo, as cores predominantes e até o tipo de letra.

Esperemos que gostem. Gostando ou não, seria bom ter o vosso feedback. A caixa de comentários está à disposição.

10 junho, 2013

"Going Around in Circles"

GOING AROUND IN CIRCLES

 
O Director da Agência Internacional de Energia Atómica (IAEA), o Japonês Yukiya Amano, declarou numa reunião dos governadores da Agência que, relativamente ao processo do programa nuclear do Irão, “To be frank, for some time now we have been going around in circles.”

Embora pronunciado numa reunião restrita, este terá sido a mais cândida e certeira aferição do processo negocial sobre o programa nuclear iraniano feito até hoje por um alto responsável envolvido no processo.



O mapa do Irão nuclear.
in STRATFOR em www.stratfor.com

Eis um breve ponto da situação:

Programa Nuclear do Irão:
Segue de vento em popa. Na verdade, tudo indica que o Irão já domina quase todos os elementos técnico-científicos que lhe permitirão construir uma arma nuclear. Existem provas e fortes indicações que mostram que ao longo da última década, Teerão adquiriu, desenvolveu e testou know-how não apenas relativamente ao tratamento e enriquecimento de urânio, como também detonadores, explosivos de elevada potência, ogivas e mísseis balísticos utilizados em armas nucleares.

Negociações P5+1*-Irão:
A diplomacia é, neste caso, cada vez mais um fim em si mesma, ou seja, uma inutilidade. Novas rondas negociais foram desencadeadas este ano. Resultados: menos que zero. Isto porque, zero seria se tudo estivesse igual. Mas não está, porque as negociações não atingem resultados e o Irão continua a enriquecer urânio (agora não apenas até 5%, mas também a 20%), como continua a criar novas infra-estruturas e a instalar nova maquinaria e ainda se dá ao luxo de travar certas inspecções da IAEA.

Sanções:
É verdade que as sanções são duras, que têm sido agravadas e que têm acarretado sérios custos económicos para o Irão. É igualmente verdade que não têm tido qualquer resultado em parar ou abrandar o programa nuclear do Irão. Consequentemente, são um falhanço.

Infelizmente, não há volta a dar.

As potências ocidentais sabem que as negociações não resultaram, não estão a resultar e não resultarão, a não ser que façam enormes cedências a Teerão. Sabem também que se assumirem o fracasso e a inutilidade da diplomacia terão de escolher entre a guerra e o reconhecimento do Irão como a 10ª potência nuclear mundial. Aquela aterra-os. Esta deixa-os ficar mal. A solução é continuar a fingir que estão a negociar a sério.

A Rússia e a China não têm, nem alguma vez tiveram, interesse e vontade em pressionar e sancionar seriamente Teerão para parar o programa nuclear. Por isso, a pressão exercida sobre os Persas é limitada e estes têm sempre um campo de manobra extra.

O Irão está ciente das realidades supra-referidas, não só porque são evidentes, mas também porque a evolução dos acontecimentos nos últimos anos as comprovam. Consequentemente, a partir do momento em que o Irão aceitou pagar o preço infligido pelas sanções, o caminho é muito claro: negociar sem ceder e prosseguir o programa até ao fim com determinação inabalável.

A outra chave do processo são os EUA. O que se escreveu em relação às potências ocidentais é-lhes inteiramente aplicável. A grande diferença é que Washington tem o poder militar para rebentar com o programa nuclear iraniano. Como já aqui escrevi antes, o Irão só fará verdadeiras cedências quando e se for realmente pressionado e sentir que sobre ele pende uma ameaça real e credível de ataque militar. Os ayatollahs sabem que as probabilidades de Obama o fazer são diminutas e portanto, fruto da incompetência e cobardia do Presidente, o ascendente negocial americano é, também ele, diminuto.

Concluindo, a não ser que Israel jogue todas as fichas que tem e bombardeie o Irão, é tempo de mudar as apostas. Em vez de apostarem sobre SE o Irão irá ter armas nucleares, é melhor apostarem QUANDO é que o Irão irá ter armas nucleares.
 
* P5+1 = 5 Membros permanentes do Conselho de Segurança da ONU (EUA, Rússia, Reino Unido, França e China) + Alemanha.

Links relacionados:

As Quatro Potências do Médio Oriente – O Irão

A Pergunta do Ano

Ilusões Persas

A Cavalgada Atómica do Irão
 
UNSC Resolution 1696

09 junho, 2013

100.000 Visitas a Tempos Interessantes

100.000 VISITAS A
TEMPOS INTERESSANTES

 

No dia 28 de Setembro de 2012, quatro e dois meses desde que começou a recolha estatística, publiquei um post anunciando que Tempos Interessantes atingira as e 50.000 visitas!!!

 
OITO MESES VOLVIDOS (ontem, dia 8 de Junho), ATINGIMOS AS 100.000 VISITAS!

 
BEM HAJAM!

It took us four years and two months to attain 50.000 visits to this blog. EIGHT MONTHS LATER TEMPOS INTERESSANTES reached 100.000 VISITS!!!

 
THANK YOU!!!

08 junho, 2013

Crato e a Greve, Gaspar e a Oposição

CRATO E A GREVE, GASPAR E A OPOSIÇÃO
 
Nuno Crato projectava uma imagem de clarividência, ponderação e bom senso. Não sei se era verdadeira ou fingida. Sei que essa imagem se vai borratando e diluindo.

Crato ficou abespinhado com a greve dos professores. Tal como a maioria dos seus colegas no governo, pelos vistos detesta ser contrariado. E a greve é contra si e é uma contrariedade.
 
Vai daí, critica: a greve vai prejudicar seriamente os alunos por causa dos exames. Houve um sindicalista que lhe deu a resposta perfeita: Mas ele queria que fizéssemos a greve em Agosto ou no dia de Natal? É evidente que uma greve tem de provocar dano e prejuízo, senão é um exercício vazio de sentido e de efeito.

Não contente, partiu para a ignorância (neste caso, a dele) e ameaçou com uma requisição civil, que parece não ser aplicável neste caso. Mais fogo fátuo. Seria mais útil se se concentrasse em reajustar o calendário de exames.
 
Talvez se Nuno Crato passasse a ter mais respeito pelas pessoas, pelos direitos e pelas leis e não fosse para o diálogo com posições fechadas, pudesse ter mais sucesso.

Vítor Gaspar é sobejamente conhecido. É convencido, incompetente, arrogante e associal. Cada vez que resolve falar de política sai asneira. Esta semana, foi ao Parlamento verberar a oposição por fazer… oposição. Sim, eles são uns malandros porque dizem mal do governo, criam instabilidade e até querem o poder.

Sim, eu imagino que Gaspar se sentisse melhor se fosse governante num estado totalitário onde ninguém teria a veleidade de contrariar Sua Insolência e as suas experiências económicas e sociais. Mas não tem essa sorte. Aqui, em “Tempos Interessantes”, enquanto ele continuar a fazer judiarias e malfeitorias, continuaremos a dizer dele o que Maomé não disse do toucinho.

Já sem espaço nem tempo para entrar no título, mas just in time para a crónica, uma referência ao inefável Passos Coelho, que na linha de Crato, resolveu lançar uma ameaça velada aos professores e foi ao ponto de sugerir uma data para a sua greve. Que dislate! Quanta petulância!

E assim vamos, com governantes abespinhados por as pessoas se zangarem e revoltarem por serem por eles maltratadas. Miseráveis.

04 junho, 2013

O Flagelo II - Mau Remédio

O FLAGELO II
MAU REMÉDIO

 
No post anterior (O FLAGELO I – A GERAÇÃO PERDIDA em http://tempos-interessantes.blogspot.pt/2013/06/o-flagelo-1-geracao-perdida.html) discutimos a catástrofe individual e colectiva que se abate sobre os países com altas taxas de desemprego e altíssimo desemprego jovem.

Para nos contextualizarmos, vejamos os números globais do desemprego mos países mais afectados da Europa (no post anterior apresentámos os valores do desemprego jovem), sendo que mais de metade dos Estados-Membros da EU apresenta valores superiores a 10%:

* Grécia               27.0%
* Espanha           26.8%
* Portugal            17.8%
* Chipre              15.6%
* Eslováquia        14.5%
* Irlanda              13.5%
* Lituânia            12.5%
Fonte: Eurostat em

Os níveis estratosféricos de desemprego são um facto e estão a agravar-se. A questão que se coloca é de que forma se está a combater o flagelo?

Vamos alhear-nos um pouco de Portugal, onde o governo se empenha no aumento do desemprego, para não nos irritarmos muito. O que vemos então?

Vemos o Presidente da França, François Hollande repescar propostas já discutidas no seio da EU, que investiria 6 biliões de euros entre 2014 e 2020 em programas de criação de emprego para os jovens.

O mesmo Hollande repescou também orientações da UE (Youth Guarantee Recommendation), segundo as quais os jovens devem continuar a estudar ou a estagiar se não conseguirem emprego 4 meses após terminarem o seu percurso educativo normal. Estas medidas seriam suportadas pelos Estados-Membros com apoio do Fundo Social Europeu.

Ainda e sempre Hollande, quer expandir o programa Erasmus, o que significa gastar mais dinheiro no programa. Como é que esta medida vai combater o desemprego é um mistério, mas faz parte do pacote que terá encomendado para inverter a sua (dele) queda abrupta nas sondagens.

Já no ano passado, o MNE da Alemanha, Guido Westerwelle, propunha um Pacto de Crescimento na EU como forma de ultrapassar o elevado desemprego e a baixa competitividade. Dentre as propostas, ressalta o investimento em grandes infra-estruturas. Públicas é claro. De preferência envolvendo empresas alemãs, acrescento eu.

Também a Comissão Europeia fala regularmente em conceitos como pactos de crescimento e de competitividade como a panaceia para o flagelo.

Esta enxurrada de propostas faria rir se o assunto não fosse tão grave.

A principal causa do disparar do desemprego na Europa Meridional é a austeridade brutal e cega imposta pela Alemanha e pelo FMI a países como a Grécia, Irlanda, Portugal, Espanha, ou Chipre.

A imposição dessa austeridade foi despoletada pela dívida excessiva contraída por esses e outros Estados e/ou pelo iminente colapso do respectivo sistema bancário.

Essa austeridade visa resolver os desequilíbrios das contas públicas e salvar os bancos da falência capitalizando-os.

A ferramenta utilizada para atingir os dois objectivos enunciados é proceder ao confisco de uma parcela sempre crescente do rendimento dos contribuintes e, também, das empresas.

Os resultados são conhecidos: as contas públicas continuam a agravar-se, os bancos estão bem, as empresas abrem falência aos milhares e os cidadãos vivem sob a ameaça da insolvência.

Perante este cenário, querem aumentar a despesa pública para criar emprego? Será que este tique socialista nunca irá desaparecer? Como é que o despejar dinheiro público, nacional ou europeu, vai criar emprego? Como é isto compaginável com um Estado como Portugal, cujo governo quer despedir dezenas de milhares de funcionários?

Porque é que não lhes ocorre que para criar empregos deviam baixar a carga fiscal, estimulando o investimento e o consumo?

Porque não reduzem drasticamente o peso burocrático que sufoca empresas e cidadãos?

Porque que não dão espaço à sociedade para respirar?

Porque isso iria reduzir a importância e o poder dos governos, dos aparelhos político-partidários e das burocracias instaladas.
 
 
Com esta comandita instalada, tal nunca irá acontecer, porque agarraram o osso e não o vão largar. A bem, nunca o irão largar. Só a mal.