E O PALHAÇO É ELE?
As últimas semanas têm conhecido uma polémica gerada por
Sousa Tavares ter apelidado o Presidente da República Aníbal Cavaco Silva de “Palhaço”.
Na verdade, o mesmo Cavaco e ainda o Tribunal
Constitucional, o Coelho, o Seguro e ainda o líder parlamentar do CDS levaram
com o mesmo epíteto em Tempos Interessantes no post “O Circo da Semana”
publicado em 6 de Julho de 2012 (ver em http://tempos-interessantes.blogspot.pt/2012/07/o-circo-dasemana-uma-boa-parte-da-vida.html
). Recordo que nesse post fui bastante mais elaborado e abrangente do que MST
caracterizando 5 tipologias de palhaços: o Interesseiro, o Prepotente, o Pobre,
o Palhacito e o Ausente.
Palácio de Belém, ou Circo de Belém, eis a questão das últimas
semanas.
Aliás, a temática do palhaço ressurgiu em Tempos Interessantes já em 2013, com uma
dimensão internacional, recriando e adaptando a velha rábula do palhaço rico e
do palhaço pobre à Itália actual. Foi em 26 de Fevereiro: “Grillo & Monti
(ou o Palahço Pobre e o Palhaço Rico)” (ver em http://tempos-interessantes.blogspot.pt/2013/02/grillo-monti-palhaco-pobre-e-palhaco.html).
Tanto quanto sei, a analogia não causou furor em Itália.
Feliz ou infelizmente para mim, não tenho o tempo de
antena nem o impacto público de Sousa Tavares e por isso escapei incólume ao
coro de virgens ofendidas com a
indignidade que foi atirada ao PR. Talvez esse mesmo relativo anonimato me
tenha permitido escapar de uma valente multa, restando saber se “palhaço” é ou
mais ou menos gravoso que “malandro” e avaliar se o incentivo para o dito
malandro ir trabalhar constitui factor de agravamento ou suavização da pena.
A propósito de palhaçadas e de malandragens, devo dizer
três coisas:
1-
As instituições e quem
as representa, especialmente se forem altas figuras representativas do Estado,
merecem respeito e consideração.
2-
Não obstante, como se costuma
dizer, para se ser respeitado tem de se dar ao respeito. O que, como se
sabe, não tem sido o caso da maioria dos altos representantes e figurantes do
Estado Português neste ainda curto século XXI.
3-
Não aceito que o
Presidente da República seja uma espécie de vaca
sagrada do sistema político português. Ele apresenta uma plataforma
eleitoral e é sufragado pelos Portugueses e, consequentemente, deve ser
responsabilizado perante o povo. Como tal, está tão sujeito à crítica como
qualquer ministro ou deputado. Não estamos a falar do Rei da Holanda ou da
Rainha de Inglaterra.
Posto isto, a realidade é que os Presidentes da III
República têm sido genericamente lamentáveis. In a nutshell:
Ramalho Eanes trabalhou para criar o
seu próprio partido enquanto era PR.
Mário Soares era raivosamente
anti-cavaquista e moveu céu e terra para escavacar o Cavaco no 2º mandato.
Jorge Sampaio dissolveu a Assembleia
da República como meio de derrubar de forma definitiva o Governo de Santana
Lopes com o propósito de colocar a sua família política no poder. Batoteiro.
Cavaco Silva tirou (bem) o tapete a Sócrates e agora anda a aparar o jogo de um governo catastrófico que arruína o país em nome de interesses alheios aos Portugueses.
Não escrevo isto por ser monárquico, mas não me venham dizer que
é tudo uma horrível coincidência.
Por não ser coincidência, é caso para perguntar, glosando Scolari:
E o palhaço é ele? Se calhar somos nós, que em 8 (oito) eleições presidenciais
entre 1976 e 2011, elegemos e reelegemos quatro personagens que fizeram tudo o
que estava ao seu alcance para prosseguirem uma agenda própria, espúria e
alheia aos interesses de Portugal.