COLIGAÇÃO OU SEM LIGAÇÃO?
Combatentes do Estado Islâmico no topo de uma
colina na cidade de Kobani, no Norte da Síria.
A campanha de bombardeamento contra o
Estado Islâmico começou no início de Agosto, acentuou-se em Setembro e
alargou-se à Síria. Começou como uma acção dos Estados Unidos e cresceu para
uma coligação que integra, além dos EUA, a França, o Reino Unido, a Austrália,
a Holanda, a Dinamarca, a Bélgica, a Arábia Saudita, os Emiratos Árabes Unidos,
a Jordânia, o Qatar e a Turquia. Envolvidos no conflito estão também, o Iraque,
a Síria e o Irão.
O que se pode aferir dos resultados da
campanha aérea desta coligação e dos resultados obtidos no terreno?
Em relação à coligação será prematuro
emitir uma sentença, mas o seu funcionamento é, no mínimo confuso.
Os Estados Árabes participantes bombardeiam a
Síria, mas não o Iraque e o
seu objectivo primário é derrubar o Governo de Al-Assad e assim desferir um
golpe no Irão, patrocinador do poder em Damasco.
Por outro lado, os Europeus, bombardeiam o Iraque, mas não a Síria. Isto porque
não têm autorização do Governo da Síria para o fazer, mas têm uma solicitação
do Iraque nesse sentido. Além disso, não têm, excepto a França, autorização
parlamentar para atacar a Síria.
Já os EUA bombardeiam em ambos os lados
da extinta fronteira sírio-iraquiana, mas não atacam as forças governamentais
sírias, pelo que a Guerra Civil continua seguindo o seu curso.
O Irão não participa nos bombardeamentos e rejeitou
o convite de Washington para integrar a coligação. Também apoia os Iraquianos e alguns Curdos no
combate ao Estado Islâmico e continua a apoiar o regime de Al-Assad na Síria.
Por sua vez, a Turquia primeiro não
participava, mas agora já quer participar, mas coloca o derrube do regime de
Assad como condição para combater o Estados Islâmico. Como o Reino Unido, França, Holanda. Dinamarca
e Bélgica não alinham nisso e os EUA só o fazem indirectamente (treinado os
rebeldes sírios supostamente moderados), esta condição parece uma receita para
não participar.
Para além da curiosa divisão do trabalho social dos bombardeamentos (uns só querem
bombardear a Síria e os outros apenas o Iraque), a Coligação enferma de
problemas de coordenação que radicam no diferencial de objectivos. Uns querem
essencialmente liquidar o Estado Islâmico; outros querem acima de tudo arrumar
Bashar Al-Assad; outros ainda, querem marcar pontos na competição geopolítica
do Médio Oriente. Temos assim o que poderíamos
rotular de Coligação Sem-Ligação.
Do outro lado da barricada, o Estado Islâmico
parece aguentar-se razoavelmente. Bem, aguentar-se é um understatement.
Como era expectável, as suas tropas não ficaram a tostar no deserto à espera dos
F-22 e dos Tornados. A título de exemplo, a propalada destruição do quartel-general,
do centro de logística e de outras importantes infra-estruturas do Estado
Islâmico na cidade de Raqqa, proclamada capital do Estado Islâmico, apenas destruiu
pedra e cimento. O Estado Islâmico já havia evacuado o pessoal e o material dos
edifícios.
A Província de Anbar no Iraque e as três
cidades atacadas pelo Estado Islâmico: Hit, Ramadi e Fallujah.
in “STRATFOR” em www.stratfor.com
Embora o Exército Iraquiano tenha
recuperado a barragem de Mosul, grande parte do território controlado pelo
Estado Islâmico mantém-se na sua posse. Pior
ainda, os jihadistas, para além do mediático cerco a Kobani no Norte da Síria,
continuam a fazer incursões e progresso em Ramadi, Fallujah e Hit onde
fustigaram duramente as 8ª, 9ª e 7ª divisões do Exército Iraquiano, respectivamente.
O Vice-Governador de Anbar já admitiu a perda total de Ramadi (capital da
província) e de Hit. Tal significa que continuam a rondar Bagdad, já tendo
sido detectadas forças do Estado Islâmico a meros 25 km da capital!
Não será por acaso que o General Martin
Dempsey, Chefe do Estado-Maior das Forças Armadas dos Estados Unidos tenha
afirmado pela segunda vez ser provável a utilização de forças terrestres
norte-americanas no Iraque, num surpreendente desafio à posição pública do
Presidente dos EUA sobre o assunto. O General estará a confirmar que só com
bombas e mísseis não dá conta do recado.
O que é claro até à data é que o Estado Islâmico, certamente mais
limitado nas suas acções, não foi posto em debandada, nem sequer se remeteu a
uma táctica puramente defensiva. Continua
a golpear com sucesso os seus oponentes no Iraque e na Síria.
Com Coligação, ou Sem-Ligação, a campanha está
aquém das expectativas e se o Estado Islâmico continuar a fazer frente a uma
plêiade de países incluindo os EUA, Reino Unido e França, o seu prestígio e a
atracção que exerce só tenderão a crescer.
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