YASUKUNI:
O USO E O ABUSO
in “The Economist” em www.economist.com
Yasukuni é um memorial aos mortos de
guerra japoneses. Nele são lembrados perto de 2.5 milhões de Japoneses que
morreram em combate desde 1868.
Yasukuni é
também uma importante ferramenta de propaganda (e de difamação) para a
República Popular da China e para as Coreias (do Norte e do Sul). Cada vez que
um alto dignitário japonês visita o memorial, de Pequim especialmente, brotam
gritos de protesto, indignação e insulto perante o que é representado como o
ressurgimento do violento imperialismo nipónico da primeira metade do século
XX.
Porquê?
O pretexto é que em Yasukuni, entre os 2.5 milhões
de Japoneses homenageados, estão 14 (catorze!) criminosos de guerra Classe A.
Portanto, quem vai a Yasukuni, não o faz por respeito aos 2.4 milhões, mas sim
em memória dos 14.
A realidade é que o governo chinês tem interesse em
diabolizar o Japão e manter acesa a imagem do Japão que varreu o Extremo Oriente entre 1905 e 1945, esquecendo que o Japão não esteve envolvido em qualquer acção
bélica nos últimos 68 anos. Ao contrário da China que, desde a II Guerra Mundial, esteve em guerra, ou desencadeou
escaramuças militares com a Coreia (1950/51), a União Soviética (1969), a Índia
(1962) e o Vietname (1979), ou seja, com a maioria dos seus vizinhos. Nos
três últimos casos, foi a China quem desencadeou as hostilidades.
Também interessa a Pequim que o “imperialismo”
japonês ofusque na opinião pública a conquista, colonização e esmagamento do
Tibete e do Turquestão Oriental (Xinjiang), o estacionamento de centenas de
mísseis apontados a Taiwan, o bullying do Vietname e das Filipinas, a escalada
de acções agressivas e provocatórias nos Mares do Sul da China e da China
Oriental.
Mais incrível
é que a rábula chinesa (e em menor grau coreana) seja tomada como boa e
verdadeira pelos media ocidentais, que castigam
um país com irrepreensíveis credenciais democráticas e um comportamento
pacífico no plano internacional, exonerando uma ditadura repressiva
internamente e agressiva externamente.
Recentemente,
os embaixadores da China e do Japão em Washington publicaram dois artigos de
opinião no “The Washington Post”. Vejamos alguns excertos:
Cui Yiankai, Embaixador da China em
Washington (citações a roxo):
Shinzo Abe Risks Ties with China in Tribute
to War Criminals*
His government’s efforts to accelerate Japan’s military buildup and his
initiative to rewrite Japan’s largely U.S.-drafted pacifist constitution are
disconcerting, […]
The prime minister has said that his changes to Japan’s constitutional
military posture would only make Japan a “normal country.” Is he suggesting that the
peaceful path Japan has followed is not normal? We see the homage at Yasukuni
as nothing less than a challenge — not only to us but to the world.
Kenichiro Sasae, Embaixador do Japão em
Washington (citações a vermelho):
China’s propaganda Against Japan**
Japan’s defense posture is quite
modest. In contrast, as a result of annual increases of more than 10 percent,
China has quadrupled its military expenditures, which are hardly transparent,
in the past decade. During the same period, Japan has decreased its
expenditures by 6 percent. We have increased our defense budget for the first
time in 11 years, only by 0.8 percent in the current budget.
Japan can embrace a constructive and cooperative future for East Asia by
discarding militarism.
What has become a serious, shared
concern for the peace and security of the Asia-Pacific region is not our prime
minister’s visit to the Yasukuni Shrine but, rather, China’s unparalleled
military buildup and its use of military and mercantile coercion against
neighboring states. The most recent example of this is Beijing’s unilateral
declaration of an air defense identification zone.
China has escalated the intrusion of government vessels into the territorial
sea around the Senkaku Islands and in waters claimed by the Philippines,
Vietnam and other maritime states in the region.
Sendo óbvio
que cada um dos embaixadores defende os interesses do seu país, não deixa de
ser elucidativo que o Embaixador da República Popular da China ache “desconcertante”
que o Japão queira modificar a sua Constituição, mais a mais tendo esta sido elaborada
por um país terceiro. Tal como é clarificador que defenda que o Japão é um país
“normal” enquanto renunciar a fazer investimentos nas suas forças armadas. É evidente que nenhuma destas estupefacções e
normalidades se aplica à própria China. Parafraseando
George Orwell, para a China, uns países são mais normais do que outros.
A
apresentação, pelo Embaixador do Japão dos números
sobre a despesa militar e o histórico comportamental dos dois países na
últimas décadas, também diz muito sobre
quem é o quê na Ásia Oriental.
A China está
em crescendo militar acelerado e quer demarcar território e não tolera bem quem
reage no mesmo campo de poder e investimento militar. Por seu lado, o Japão
percebe bem que a China que enfrenta hoje é bem diferente da do século XX e vai
agindo em conformidade.
Yasukuni é mais uma pequena peça do
completo xadrez geopolítico da Ásia Oriental. Vale o que vale, mas é apenas um
símbolo, com valor e interesse diferentes em Tóquio e em Pequim. Uns usam
Yasukuni; outros abusam de Yasukuni.
P.S. É curioso notar que as visitas de governantes Japoneses
a Yasukuni só começaram a preocupar e a exaltar Pequim a partir de 1985, quando
o desenvolvimento económico da China começou a permitir outros sonhos de grandeur….
It is important to note that China
began raising this issue with political motives in 1985. At that time, more
than 20 visits by prime ministers to Yasukuni had gone unchallenged, even after
14 Class A war criminals had been enshrined there in 1978.
Kenichiro Sasae, Embaixador do Japão em
Washington,
China’s propaganda Against Japan in “The Washington Post”
* Cui Yiankai, Embaixador da China em Washington
Shinzo Abe Risks Ties with China in Tribute to War Criminals
in “The Washington Post” em http://www.washingtonpost.com/opinions/shinzo-abe-risks-ties-with-china-in-tribute-to-war-criminals/2014/01/09/dbd86e52-7887-11e3-af7f-13bf0e9965f6_story.html
** Kenichiro Sasae, Embaixador do Japão em Washington
China’s propaganda Against Japan
in “The Washington Post” em http://www.washingtonpost.com/opinions/chinas-propaganda-campaign-against-japan/2014/01/16/925ed924-7caa-11e3-93c1-0e888170b723_story.html
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