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26 setembro, 2016

Paródia e Testes Nucleares



PARÓDIA E TESTES NUCLEARES

 
Kim Jon Un, Presidente da Coreia do Norte, explsivo,muito divertido, esfuziantemente aplaudido e com um indescritível penteado.
in Carnegie Endowment fo International Peace em http://carnegieendowment.org/

Os pontos de partida deste post foram os testes nucleares e de mísseis realizados pela Coreia do Norte e as reacções escandalizadas e standardizadas que estes provocaram nos líderes de algumas potências mundiais. O ponto de chegada será sorrir ou rir de coisas sérias.


Pyongyang, 09/09/2016
O Presidente da Coreia do Norte, Kim Yong Un, chega ao Centro de Comando.

- Que belo dia! Está tudo pronto para o testezinho de hoje?
- Sim Querido, Grande e Gordo Líder. Só aguardamos as ordens de V. Sumidade….
- Não tomei o pequeno-almoço. Primeiro quero que me tragam o leitinho e os croissants!
30 minutos, 3 leitinhos e 10 croissants mais tarde, Kim troveja:
- FIRE!!! (Sempre quis dizer isto).

BANG!!!

Tóquio, uma hora depois, no Gabinete do Primeiro-Ministro Shinzo Abe.
- Honorável Primeiro-Ministro, a Coreia do Norte acaba de efectuar outro teste nuclear!!!
- Não pode ser! Ligue-me já ao Presidente dos Estados Unidos.
- Humm, não será a hora do golfe?
- Quero lá saber! Com golfe ou sem golfe ele tem de me atender.

Telefonema Trans-Pacífico Tóquio-Washington.
Abe – Este teste é preocupante.
Obama – Também acho. Preocupante.
- Estou preocupado.
- Eu diria mesmo mais, estou muito preocupado.
- Proponho partilharmos as nossas preocupações no Conselho de Segurança da ONU.
- Eu diria mesmo mais, propomos as nossas partilhas na ONU, remata Obama.
- ??? Whatever! Vou ligar à Park.
- Eu também, eu também.

Telefonema Trans-Pacífico Washington-Seoul.
Obama – Bom dia Senhora Presidente. Lamento ter de incomodá-la com tão explosivo assunto.
Park – Nem me fale! Quase caí da cama com o abalo sísmico provocado pela explosão! Aquele Kim gordalhufo vai pagá-las. Ninguém brinca com o meu sono!
- I see… Eu e o Abe estávamos a pensar ir novamente ao CS da ONU. Quer alinhar?
- Boa ideia. Podemos impor mais sanções.
- Sim, eu gosto disso. Já apliquei sanções a meio mundo! Resta saber se os Chineses e os Russos deixam. Ah, já me esquecia de lhe dizer que estou muito preocupado com a situação.
- Eu também, mas o que mais me irrita foi ter acordado estremunhada e ter saído porta fora em pijama a gritar “Terramoto! Terramoto!”
- Oh, embarassing…
- Pois, mas despeço-me. Tenho de falar com o Xi Jiping e com o Putin. Devem estar preocupados.
- Ok. Eu farei o mesmo. Depois do golfe, claro.

Telefonema Trans-Pacífico Washington-Pequim.
Obama - Boa tarde Presidente Xi. Estou muito preocupado e aborrecido com o seu camarada Kim.
Xi - Boas! Então porquê?
- He did it again!
- Se se refere a:
            Testes Nucleares, prima 1.
            Testes de Mísseis, prima 2.
            Ameaças e vitupérios, prima 3.
            Lançamento de satélites, prima 4.
            Sortido de tropelias, prima 5.
- Primo todos!!!
- Calma, estava a tentar distender o ambiente.
- Quer jogar golfe?
- Não obrigado. Prefiro construir castelos nas praias do Mar do Sul da China, if you get my drift, hehehe.
- Temos de inventar novas sanções.
- (Suspiro) Já temos muitas em vigor.
- Mas ele não desiste.
- É preciso ter paciência de chinês.
- Comigo???
- Também. Quer dizer, com ele, com ele, é claro.

Telefonema Trans-Siberiano Pequim-Moscovo.
Xi - Boa noite caro amigo!
Putin – Boa noite estimado amigo! Imagino que me está a ligar por causa do seu primo Coreano. (em tom sardónico)
- Ele não é meu primo e não tenho família coreana. Sou 100% Chinês, retorque Xi um pouco exaltado.
- Tenha calma, era só uma graça. Então a sua vizinhança está em reboliço?
- Nem me fale. Julgam todos que eu sou o tutor do Kim, mas eu não tenho nada a ver com ele. Não o conheço, nem nunca me foi apresentado.
- Pois, mas há aí uma cumplicidadezita…
- Claro. Nós não permitiremos que Washington e Seoul controlem a Península Coreana, pela Grande Muralha… E pelo camarada Mao! (Bolas, já me esquecia dele!)
- Já somos dois. Onde quer que os Amerikanskaya se metam, lá estaremos a entalá-los. Enquanto os outros otários barafustam, o carvão e o petróleo saem daqui (Rússia), passam por lá (Coreia do Norte) e vão para aí (China).
- Pois é verdade, hehehe. Desde que aquele estouvado não aponte os mísseis na direcção errada…
- Nããã, o Kim é estouvado, mas não é estúpido. Ele sabe para onde atirar.
- E o que fazemos com as sanções? O Obama e a Park parecem picaretas a falar em sanções. Eu disse-lhes que já havia muitas… Ficaram amuados.
- Concordo consigo. O Kim já foi sancionado este ano, já chega de sanções. O Sergei (Lavrov) rabisca uma declaração a manifestar desagrado, repúdio, indignação e outras coisas e leva-a ao Conselho de Segurança para ser votada.
- Boa! Isso deve contentá-los por agora.

Telefonema Trans-Siberiano Seoul-Moscovo.
Park - Boa tarde Presidente Putin.
Putin – Boa tarde Presidente Park. Como está?
- Não muito bem. A Coreia do Norte está cada vez mais ameaçadora. Estou…
- Preocupada (atalhou Putin), sim, eu sei. Eu também (tosse). Mas não devemos exagerar. Há muitos cães que ladram, mas não mordem.
- Acha mesmo?
- Eu acho. Veja o caso do Obama (tosse), perdão, do Kim Jong Un. Talvez seja altura de lhe dar menos atenção.
- Humm, eu acho que ele tem de ser castigado. Duramente. Decapitado! A Coreia ainda vai ser toda nossa outra vez! (em crescendo de exaltação)
- É boa. Essa frase soa-me familiar. Tenha calma Presidente Park, o Presidente Xi e eu próprio vamos sensibilizar o Kim para ele moderar o comportamento. Não vamos começar uma guerra em larga escala por causa de uns testes. Ainda por cima, vários deles falharam. Parecem os testes do sistema anti-míssil da Amerika, hehehe.
- Não me diga isso, porque vamos instalar um dispositivo XPTO deles. Posso então contar com o apoio da Rússia?
- Claro que sim. Faremos tudo em prol da paz.

Telefonema Trans-Siberiano Moscovo- Tóquio.
Putin - Boa tarde Senhor Primeiro-Ministro. Vi que tentou ligar-me, mas estive imenso tempo ao telefone com os seus vizinhos. (suspiro)
Abe – Boa tarde Senhor Presidente. No problem. Está toda a gente preocupada.
- Pois. (bocejo disfarçado)
- Eu lembrei-me de lhe ligar porque os meus vizinhos não gostam muito dos Japoneses e…
- Vá lá saber-se porquê! Mas não se apoquente, eu também tenho alguns vizinhos a Oeste que parecem não gostar dos Russos. E a Merkel já me confidenciou que sucede o mesmo com os Alemães. Idiossincrasias.
- Enfim! De qualquer forma o Japão está a reerguer-se e seremos brevemente uma potência militar que terá de ser respeitada.
- Excelente! Tem o nosso apoio.
- Arigatou.
- Presumo que me ligou por causa da Coreia do Norte…
- É verdade. Nos últimos meses temo-nos sentido como estando num target range dos mísseis norte-coreanos e isso preocupa-nos de sobremaneira e gostávamos de poder contar com o apoio e influência da Grande Mãe Rússia.
- Caro Primeiro-Ministro, tenho muito gosto em ajudar e pode contar com o o apoio da Rússia. Sabe que nós também temos uns problemazitos desagradáveis e talvez o Império do Sol Nascente nos pudesse apoiar. Trata-se de umas sanções e de limitações ao investimento estrangeiro. Sabe como é, uma mão lava a outra…
- Compreendo perfeitamente. Pode contar com o Japão. Nós nem temos nada a ver com os motivos das sanções.
- Bolshoe spasibo caro Abe.
- Doumo arigatou caro Putin!

 
Lançamento de um míssil balístico de um submarino norte-coreano.


Noite de 9 de Setembro - Reflexões antes de deitar:

Tóquio, Japão
Shinzo Abe – Dia miserável. O Obama é um inepto. A Park é só choradeira. O Putin e o Xi não querem saber e o miúdo é que se fica a rir. Vamos a ver se a parceira com a rússia resulta nalguma coisa. Senão, temos de nos desenvencilhar por nós. Banzai!

Seoul, Coreia do Sul
Park – Dia péssimo. Ninguém nos resolve o problema. Qualquer dia rebentamos com Pyongyang e os Chineses que arquem com as consequências. Ou seremos nós? Bem, isso agora não interessa, espero pelo menos dormir sossegada.

Washington, Estados Unidos
Barack Obama – O dia acabou melhor do que começou. Diplomacia eficaz e muito golfe. Assim se vai construindo um legado presidencial.

Moscovo, Rússia
Vladimir Putin – Estes sujeitos só fazem estardalhaço, acções concretas que é bom, nada. Vamos ver se com o Japão desbloqueamos alguns assuntos. Seja como for, amanhã, voltamos a focar-nos na Nova Rossiya e na Síria que é o que me interessa agora.

Pequim, China
Xi Jingpin – Livra, que dia! O miúdo atrevido de um lado e os histéricos do outro. Que dia horrível. Alguém vai pagar por isto. Amanhã vou chatear os Vietnamitas e os Filipinos.

Pyongyang, Coreia do Norte
Kim Jong Un – Foi um dia em cheio, mas esta actividade nuclear é cansativa. Vou-me deitar.
- Querido Líder, recebeu muitas chamadas a protestar contra o nosso glorioso teste?
- Não. Só uma chamada do Xi, furioso, dizendo que eu brinco com as bombas e os mísseis e ele é que recebe as reclamações dos outros. Lol!


CAST:

KIM JON UN (Presidente da Coreia do Norte)
SHINZO ABE (Primeiro-Ministro do Japão)
BARACK OBAMA (Presidente dos Estados Unidos)
PARK GEUN-HYE (Presidente da Coreia do Sul)
XI JINGPIN (Presidente da China)
VLADIMIR PUTIN (Presidente da Rússia)

22 janeiro, 2014

Yasukuni: O Uso e o Abuso

YASUKUNI: O USO E O ABUSO


in “The Economist” em www.economist.com

Yasukuni é um memorial aos mortos de guerra japoneses. Nele são lembrados perto de 2.5 milhões de Japoneses que morreram em combate desde 1868.

Yasukuni é também uma importante ferramenta de propaganda (e de difamação) para a República Popular da China e para as Coreias (do Norte e do Sul). Cada vez que um alto dignitário japonês visita o memorial, de Pequim especialmente, brotam gritos de protesto, indignação e insulto perante o que é representado como o ressurgimento do violento imperialismo nipónico da primeira metade do século XX.

Porquê?

O pretexto é que em Yasukuni, entre os 2.5 milhões de Japoneses homenageados, estão 14 (catorze!) criminosos de guerra Classe A. Portanto, quem vai a Yasukuni, não o faz por respeito aos 2.4 milhões, mas sim em memória dos 14.

A realidade é que o governo chinês tem interesse em diabolizar o Japão e manter acesa a imagem do Japão que varreu o Extremo Oriente entre 1905 e 1945, esquecendo que o Japão não esteve envolvido em qualquer acção bélica nos últimos 68 anos. Ao contrário da China que, desde a II Guerra Mundial, esteve em guerra, ou desencadeou escaramuças militares com a Coreia (1950/51), a União Soviética (1969), a Índia (1962) e o Vietname (1979), ou seja, com a maioria dos seus vizinhos. Nos três últimos casos, foi a China quem desencadeou as hostilidades.

Também interessa a Pequim que o “imperialismo” japonês ofusque na opinião pública a conquista, colonização e esmagamento do Tibete e do Turquestão Oriental (Xinjiang), o estacionamento de centenas de mísseis apontados a Taiwan, o bullying do Vietname e das Filipinas, a escalada de acções agressivas e provocatórias nos Mares do Sul da China e da China Oriental.

Mais incrível é que a rábula chinesa (e em menor grau coreana) seja tomada como boa e verdadeira pelos media ocidentais, que castigam um país com irrepreensíveis credenciais democráticas e um comportamento pacífico no plano internacional, exonerando uma ditadura repressiva internamente e agressiva externamente.
Recentemente, os embaixadores da China e do Japão em Washington publicaram dois artigos de opinião no “The Washington Post”. Vejamos alguns excertos:

Cui Yiankai, Embaixador da China em Washington (citações a roxo):
Shinzo Abe Risks Ties with China in Tribute to War Criminals*

His government’s efforts to accelerate Japan’s military buildup and his initiative to rewrite Japan’s largely U.S.-drafted pacifist constitution are disconcerting, […]
The prime minister has said that his changes to Japan’s constitutional military posture would only make Japan a “normal country.” Is he suggesting that the peaceful path Japan has followed is not normal? We see the homage at Yasukuni as nothing less than a challenge — not only to us but to the world.

Kenichiro Sasae, Embaixador do Japão em Washington (citações a vermelho):
China’s propaganda Against Japan**

Japan’s defense posture is quite modest. In contrast, as a result of annual increases of more than 10 percent, China has quadrupled its military expenditures, which are hardly transparent, in the past decade. During the same period, Japan has decreased its expenditures by 6 percent. We have increased our defense budget for the first time in 11 years, only by 0.8 percent in the current budget.

Japan can embrace a constructive and cooperative future for East Asia by discarding militarism.

What has become a serious, shared concern for the peace and security of the ­Asia-Pacific region is not our prime minister’s visit to the Yasukuni Shrine but, rather, China’s unparalleled military buildup and its use of military and mercantile coercion against neighboring states. The most recent example of this is Beijing’s unilateral declaration of an air defense identification zone. China has escalated the intrusion of government vessels into the territorial sea around the Senkaku Islands and in waters claimed by the Philippines, Vietnam and other maritime states in the region.

Sendo óbvio que cada um dos embaixadores defende os interesses do seu país, não deixa de ser elucidativo que o Embaixador da República Popular da China ache “desconcertante” que o Japão queira modificar a sua Constituição, mais a mais tendo esta sido elaborada por um país terceiro. Tal como é clarificador que defenda que o Japão é um país “normal” enquanto renunciar a fazer investimentos nas suas forças armadas.  É evidente que nenhuma destas estupefacções e normalidades se aplica à própria China. Parafraseando George Orwell, para a China, uns países são mais normais do que outros.

A apresentação, pelo Embaixador do Japão dos números sobre a despesa militar e o histórico comportamental dos dois países na últimas décadas, também diz muito sobre quem é o quê na Ásia Oriental.

A China está em crescendo militar acelerado e quer demarcar território e não tolera bem quem reage no mesmo campo de poder e investimento militar. Por seu lado, o Japão percebe bem que a China que enfrenta hoje é bem diferente da do século XX e vai agindo em conformidade.

Yasukuni é mais uma pequena peça do completo xadrez geopolítico da Ásia Oriental. Vale o que vale, mas é apenas um símbolo, com valor e interesse diferentes em Tóquio e em Pequim. Uns usam Yasukuni; outros abusam de Yasukuni.

P.S. É curioso notar que as visitas de governantes Japoneses a Yasukuni só começaram a preocupar e a exaltar Pequim a partir de 1985, quando o desenvolvimento económico da China começou a permitir outros sonhos de grandeur….

It is important to note that China began raising this issue with political motives in 1985. At that time, more than 20 visits by prime ministers to Yasukuni had gone unchallenged, even after 14 Class A war criminals had been enshrined there in 1978.
Kenichiro Sasae, Embaixador do Japão em Washington,
China’s propaganda Against Japan in “The Washington Post”


Cui Yiankai, Embaixador da China em Washington 
Shinzo Abe Risks Ties with China in Tribute to War Criminals

** Kenichiro Sasae, Embaixador do Japão em Washington
China’s propaganda Against Japan