EURO INSANE
É
esticar até rebentar!
in “The
Economist”
O Euro Grupo anunciou no passado fim de semana um
acordo de resgate de Chipre. Não se trata de uma novidade visto que o acordo
vinha sendo negociado há 9 meses e que Chipre já tinha recebido um empréstimo
de emergência da Rússia em 2011 no valor de 3.2 biliões de euros.
A grande novidade foi o cerne do acordo: uma taxa,
imposto, confisco, roubo sobre todos os depósitos bancários no valor de 10%
para aqueles que excedam os 100.000 euros e de perto de 7% para os que estejam
abaixo daquela fasquia.
Este acordo significa duas coisas: que o governo
de Chipre está de joelhos e que o Euro Grupo atingiu um novo limiar de insanidade.
Só um estado de insanidade pode justificar que um
grupo de pessoas com grandes responsabilidades políticas e, supostamente,
grandes conhecimentos de economia e finanças, subscreva um assalto às contas
bancárias no valor de 6 biliões de euros sem ter noção (ou não se importando)
de duas coisas:
1- Da
crueldade e injustiça que isso representa para os aforradores, cipriotas ou não,
que têm depósitos no sistema bancário cipriota.
2- Do
golpe na confiança que tal medida provoca em todos os depositantes bancários da
zona euro.
Em relação ao primeiro ponto, as declarações de Jeroen Dijsselbloem,
presidente dos Euro Insane e Ministro das Finanças da Holanda são
esclarecedoras: Enquanto contribuição paea a estabilidade financeira do Chipre, é justo
pedir uma contribuição de todos os depositantes. Fica claro que, independentemente
do autor da proposta, ela era inteiramente subscrita pelos malucos fanáticos do
Euro Grupo que a acharam não só boa, como justa. O que eu mais gostava era ver
os senhores Dijsselbloem e Schauble a levar esta ideia aos depositantes
holandeses e alemães.
Como é óbvio, as bolsas entraram em queda e os
aforradores estão nervosos. Eu estou. E
o facto de políticos e banqueiros portugueses e de outros países da EU virem
dizer que é um caso único e irrepetível tem em mim um efeito nulo, porque se
trata de garantias vindas de mentirosos contumazes e impenitentes, que valem o
mesmo que a promessa de um heroinómano de que não voltará a consumir: ZERO!
O Euro Insane quebrou uma nova barreira na
insanidade que tomou conta das principais lideranças da EU (Alemanha, Comissão,
BCE). É hoje claro que vale tudo, mas mesmo tudo, para impor a cartilha
germânica na Europa, ou pelo menos na zona euro: austeridade cega e carga
fiscal insuportável, assalto generalizado aos contribuintes, em nome dos amanhãs
que cantam.
Talvez a declaração mais letal sobre esta decisão foi a
do Primeiro-Ministro da Rússia, Dmitri Medvedev, ao comparar este confisco com
os realizados na extinta União Soviética: "This practice, unfortunately, was very well known and is familiar to
many Russians from the Soviet period, when money was exchanged with
coefficients and never returned. - said the prime minister. - But Cyprus is a
country with market economy, a member of the European Union. […] the move looks
just like confiscation of people' money." (in Pravda at http://english.pravda.ru/news/russia/18-03-2013/124095-cyprus_russia-0/
Ao que chegou a UE, a pôr-se a jeito para ouvir repreensões
destas de Moscovo.
A brutalidade não é
a mesma e os regimes não são comparáveis, mas o princípio da autoridade cega do
poder e o desrespeito total pelas pessoas já estão presentes no Euro Insane.
4 comentários:
Nem mais Rui. Penso exactamente da mesma forma e ainda digo mais (a alguns dias de distância): os bancos fechados em Chipre significam um estado de sítio que pareceria impensável num país com estabilidade política (não em estado de revolução ou guerra). Quem criou esse estado de "excepção" não foram os aforradores cipriotas, certamente. Também por cá temos vivido em permanente "estado de excepção" onde todas as regras podem ser infringidas e onde tudo-vale, ou vale-tudo. O primado da "governação" (se a isto se pode chamar governar) sobre o primado da Lei implica que já não estamos em democracia (ao menos como prevista na nossa Lei fundamental) e que a fantachoda de votar de 2 em 2 ou de 4 em 4 anos, ou seja lá quando for, não passa disso mesmo - uma palhaçada sem sentido: como quando se vai para uma assembleia ou reunião e a acta já está feita - recordo os idos de 1970 (e outras coisinhas mais, que aqui não cabem mas a bom entendedor...). A democracia (quando a demos é muito, muito, mesmo muito, pobre e tem fome, e tem medo, e está subjugada por um desemprego avassalador) deixa a crácia toda para uma oligarquia que se banqueteia e que vai engordando num cúmulo de riqueza não só é ilegal como imoral. Esses, esses acham-se intocáveis: algum dos loucos do eurogrupo pens,a por um momento, que algum dia lhe confiscarão os SEUS depósitos??? o nosso ridículo e monocórdico astrólogo está disposto a doar 10 ou 15% do seu milhão para o erário público? pois...
Caro Sérgio,
Não tenho nada a acrescentar: concordo com tudo o que escreveste! Só arriscaria dizer que vivemos numa cleptocracia soft (sem a brutalidade e o descaramento de Mobutu, Marcos, ou Eduardo dos Santos.
E será que só nos podemos lamuriar?
É que os nossos queixumes batem na couraça da indiferença dos inergúmenos dos nossos (des)governantes. Um governo que que foi legitimado com um programa que não cumpriu, que atropela sistematicamente os direitos consignados na CP, um PR autista... Será que o povo não pode fazer uso de referendo e desalojá-los do poder que há muito assumiu a ilegitimidade?
Não Estella. Esqueça os referendos: não acredito que tenhamos um até 2020, e estou a ser optimista.
Isto só vai lá com uma revolução. Ou nas urnas ou nas espingardas.
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