27 março, 2013

Penitência Pascal?

PENITÊNCIA PASCAL?
 
Em 31 de Maio de 2010, a Marinha israelita interceptou um grupo de navios que se dirigia a Gaza, em violação do bloqueio imposto por Israel.

Esses navios provinham da Turquia e contavam com o beneplácito do Governo turco. Os organizadores e participantes na iniciativa sabiam ao que iam: ao encontro de problemas e de confronto com as forças armadas de Israel (IDF). Aliás, esse era o objectivo da sua expedição provocatória: arranjar problemas que comprometessem Israel.

Como se sabia, os Israelitas interceptaram o grupo e abordaram o navio que liderava a expedição, o Mavi Marmara. Terá havido resistência de alguns tripulantes, que terá levado a uma resposta violenta das tropas, que se saldou em 9 mortes. A Turquia reagiu histericamente, em coerência com as ambições que o seu líder então nutria de se tornar um herói da chamada rua árabe. Em nome desse desiderato (que não alcançou nem alcançará), o regime turco rompeu relações com Israel, país com o qual a Turquia mantinha de há muito boas relações no plano político, militar e económico.

Israel examinou as ocorrências e concluiu que as suas forças tinham feito um uso adequado da força tendo em conta a situação em que se encontravam. Consequentemente, Jerusalém recusou-se, ao longo de 3 anos a pedir desculpa a Ankara.

Surpreendentemente, a semana passada, o Governo de Netanyahu apresentou o tal pedido de desculpas. Não é fácil perceber o que terá levado a tal brusca inflexão de atitude.

É indubitável que houve pressão dos EUA, cujo Presidente visitara Israel imediatamente antes, mas não é crível que isso bastasse. Estamos a falar de um primeiro-Ministro Israelita que tem consistentemente batido o pé à Administração norte-americana nos últimos anos.


A Periferia de Israel.

A explicação de fundo deverá residir mais longe: na situação de incerteza e de fluxo que se vive no Médio Oriente desde o início de 2011. Concretizando de forma sintética, referimo-nos:

·         À substituição no Egipto de um regime contemporizador com Israel e oposto ao Hamas por outro que é, em grande medida, o seu contrário.
·         Ao caos da guerra civil na Síria e a provável substituição do regime dos Al Assad por uma incógnita sunita que poderá ser, na melhor das hipóteses, algo parecido com o egípcio e na pior, um estado islâmico radical, ou ainda, o prolongamento da Guerra Civil, com ou sem Bashar Al Assad.
·         À efervescência no Líbano, onde se vão afiando as adagas e limpando as carabinas na expectativa de que haja um dramático spillover do conflito da Síria.
·         Às brisas de instabilidade que vão soprando um pouco por todo o Médio Oriente, em lugares como a Jordânia, o Bahrain e o Iraque.
·         Isto para não mencionar a ameaça iraniana que antecede a agitação de 2011.

É de facto muita agitação, muita mudança, muita incerteza.
Serão Tempos Interessantes, mas para Israel são tempos de incógnita e de algum receio.
Tempos, talvez, de recuperar um amigo, por muito instável que este seja na presente encarnação.
Tempos de Páscoa, especialmente na Terra Santa, convidam à penitência e à contrição em busca da salvação. SHALOM!

4 comentários:

Defreitas disse...

Os dois amigos estratégicos não podiam continuar zangados. A situação na Síria e a ameaça de Assad de utilizar armas químicas preocupam Israel.
Como disse Perez, "Israel e a Turquia têm mil razoes para serem amigos". E em Israel, só Liebermann, o autor do ataque contra o barco turco não esteve de acordo com o telefonema de Nétanyahou a Erdogan. Claro que os Estados Unidos estão satisfeitos ; os dois países são os seus aliados preciosos nesta zona. Obama deve ter jogado também o seu papel.
Diz-se também, que Boeing, que tinha vendido dois AWAK à Turquia, mas que necessitava do fornecimento dum certo material electrónico fabricado por Boeing em Israel, para completar a encomenda, exerceu uma certa pressão sobre Israel, que mantinha um embargo sobre este tipo de material.
E, enfim, o mais importante e que talvez tenha sido o ponto crucial desta reconciliação, e que vai reforçar a cooperação entre os dois países, é a consequência económica da exportação de biliões de dólares de gás natural israelita, graças à conexão dum oleoduto israelita ao oleoduto que vai passar através da Turquia, (Trans Adriatic Pipeline (TAP) )em direcção da Europa, e ao fornecimento da Turquia ela mesmo em gás israelita.
Israel tinha projectado de passar por Chipre, mas a confusão cipriota actual arrefeceu o plano.

Curiosamente, este passo do PM Israelita de reatar relações com a Turquia, mesmo pagando indemnizações às famílias dos 9 turcos mortos aquando do ataque ao barco Marmara, e apresentando desculpas, fez-me pensar às palavras de De Gaule : " A França não tem amigos nem inimigos. Mas tem interesses."

Freitas Pereira

João Pulido disse...

Meu caro amigo

Mais um post pertinente e muito informativo.

Confesso, no entanto, que quando recebi o mail como o título “Penitência Pascal?” pensei noutro conteúdo.

Pensei era um vaticínio sobre a entrevista do "Eng." (Mestre) Pinto de Sousa que se adivinhava nada penitencial e muito menos reconciliadora...

Sobre o post, apenas refiro que Israel nunca dá ponto sem nó!
Venha de onde vier a pressão, tenha os objectivos que tiver, Israel tem a ganhar com o "dar o braço a torcer". Seguramente!

Boa Páscoa. Abraço.

João Pulido

Rui Miguel Ribeiro disse...

Sr. Freitas Pereira,

Disse bem De Gaulle: "Interesses"! Pena que haja muitos governantes que olhem por interesses espúrios em prejuízo do interesse nacional.

Rui Miguel Ribeiro disse...

Muito obrigado João!

Sim, tens razão relativamente a Israel.

Sobre Pinto de Sousa, trata-se de um impenitente contumaz. Nada a esperar de bom e muito menos humilde desse lado. Que o leve o diabo mais o sucessor dele.