23 março, 2010

Grande Vitória, Pequeno Troféu

GRANDE VITÓRIA, PEQUENO TROFÉU

Plantel do Sport Lisboa e Benfica com a 2º Taça da Liga.

O Benfica vem realizando uma época fabulosa, jogando muito bem, dominando a maioria dos adversários, esmagando e goleando com freuência, revelando uma ambição que o leva a continuar ao ataque mesmo com 3-0, cortando com a mesquinhez de defender o 1-0 e de desistir de jogar aos 2-0.

Muito se tem dito que a exuberância exibicional e de resultados ainda podia resultar em zero títulos no final da época, o que era verdade. Já não é. Com a vitória inequívoca na Taça da Liga, o Benfica garantiu um troféu para esta época. Pequeno (é a 3ª prova do calendário nacional)), mas um troféu.

7-1
Para os Benfiquistas, este triunfo tem o especial significado de ter sido um expressivo 7-1. 4-1 ao Sporting + 3-0 ao Porto, duas vitórias sucessivas sobre os grandes rivais por números claros, com nítida superioridade e apresentando em ambos os jogos uma mescla de titulares e de suplentes.
 
A prova dos nove desta época é o Campeonato Nacional e o jogo mais importante é o próximo, não por ser o seguinte, mas por ser contra o 2º classificado, o único que ainda pode disputar o título com o Benfica.
No entanto, aconteça o que acontecer no Benfica-Braga (e acredito na vitória do Benfica), nada apaga os grandes jogos feitos e as grandes alegrias dadas pelo Benfica nos últimos 6 meses. Nem a grande equipa do 30º Campeonato (1993/94) jogava tanto ao ataque e conseguia resultados tão impressionantes com esta frequência, pese o memorável 3-6 em Alvalade.

Como se diz hoje em dia: CARREGA BENFICA!!!


Javi Garcia, Carlos Martins e Óscar Cardozo celebram triunfo do Benfica.

P.S. Umas breves notas sobre a final da Taça da Liga em Faro:

a) Grande golo de Carlos Martins. Golaço mesmo!

b) Bela exibição de Rúben Amorim, coroada com a jogada do 3º golo.

c) Jorge Jesus tornou a armar bem a equipa, a definir a táctica e a fazer a gestão de esforço dos jogadores. Não se percebe, contudo, porque não fez entrar o Capitão da equipa, Nuno Gomes, em vez de um dos avançado titulares que precisariam de descanso.

d) Inacreditável que um Bruno Alves enraivecido tenha merecido 3 ou 4 cartões vermelhos e tenha visto um amarelo. Poucas vezes terei visto um jogador que de forma tão regular e consistente usa de violência gratuita para magoar os adversários. E nunca vi nenhum que gozasse desta impunidade. As entradas maldosas de Meireles também justificavam expulsão e…nada.
e) Na sequência da alínea anterior, o árbitro. Supostamente o melhor português, fez uma arbitragem cobarde do ponto de vista disciplinar, novamente em prejuízo do Benfica, tal como havia feito em Braga para o Campeonato. Incompetente ou desonesto, ele lá saberá.

16 março, 2010

A Rolha Laranja e o Oportunismo Rosa

A ROLHA LARANJA E
O OPORTUNISMO ROSA

Na IX Legislatura debateu-se na Assembleia da República legislação que, de forma simplificada, visava impedir o PCP de realizar votações de braço no ar, com o pretexto de que tal violava a liberdade dos militantes porque, obviamente, condiciona na hora de votar. Tive oportunidade de me manifestar contra essa proposta em sede do Grupo Parlamentar do PSD por entender que não se trata de um condicionamento indevido porque não era uma prática ilegal, mas principalmente, porque a adesão ao PCP é voluntária e os militantes que discordem das regras internas podem sair do partido a todo o momento.

Agora debate-se a dita Lei da Rolha no PSD, aprovada no Congresso de Mafra e destinada a conter a manifestação pública de dissensões internas em períodos eleitorais. Discordo desta proposta porque a unidade partidária e a comunhão de interesses e propósitos não se decreta. Ou se tem, ou não se tem. Além disso, mergulhou a questão da liberdade de expressão no PSD (questão ridícula pois é um partido onde toda a gente diz o que bem quer e lhe apetece e muitos ainda têm palco para o dizer) na agenda mediático-política, deixando para segundo plano a questão da eleição interna e da crise económica do país.

Este episódio abriu a porta para algumas alarvidades do PS. Primeiro foi Vitalino Canas, cujo tema político favorito é a vida interna do PSD, a falar em stalinismo no PSD (se a estupidez pagasse imposto….). Depois foi Francisco Assis a proclamar que ia levar a questão a plenário da AR e ao Tribunal Constitucional (e talvez ao Conselho de Segurança). O oportunismo é evidente: com a economia portuguesa comatosa e o PS ao leme, qualquer coisa serve para desviar as atenções. Agora, tentar credibilizar o ridículo elevando-o à (suposta) nobreza do debate parlamentar ultrapassa os limites da decência política e institucional e revela um estado de desespero no PS maior do que se supunha. Depois ficam surpreendidos com o descrédito em que mergulhou o Parlamento.


P.S. Uma nota final para Pedro Passos Coelho: absteve-se na votação desta norma no Congresso. Agora é o seu principal detractor. Fica-lhe mal. Quem tenta sempre cavalgar a espuma mediática pode acabar enrolado na areia.

06 março, 2010

Iraque: A Hora da Verdade

IRAQUE: A HORA DA VERDADE

in "The Economist"


Após o sucesso do surge implementado pela Administração de George W. Bush no final de 2006, o Iraque desapareceu gradualmente dos radares dos mass media, da opinião pública e dos governos ocidentais. É o habitual giroscópio noticioso na procura incessante da última novidade que desperte o interesse e a atenção da massa espectadora bocejante.
 

No entanto, este desaparecimento do Iraque é enganador, porque o Iraque, para o bem, ou para o mal, irá desempenhar um papel crucial no Médio Oriente no futuro próximo.

 Desde logo, o Iraque possui as segundas maiores reservas conhecidas de petróleo do mundo (a seguir à Arábia Saudita). Ainda no plano energético, uma vez operacionalizados os acordos assinados com grandes companhias petrolíferas ocidentais, o Iraque competirá com os Sauditas pelo top mundial de produção de crude.
 
Em termos estratégicos, o Iraque ocupa um espaço central no Médio Oriente, encaixado entre o Irão xiita e a Arábia Saudita sunita e fazendo ainda fronteira com a Turquia, ou seja, com os principais actores islâmicos da região, com a excepção do Egipto.
 

Tal significa que o que se passar no Iraque terá um impacto político significativo na região. Pelos mesmos motivos, a evolução interna iraquiana será condicionada pela influência e interferência dos seus principais vizinhos e, também, pelos Estados Unidos.
 
Amanhã, os Iraquianos votarão para eleger um parlamento pela terceira vez desde que a ditadura de Saddam Hussein foi derrubada. Da afluência às urnas e dos resultados apurados muito depende não só o futuro do Iraque, como também o do Médio Oriente.
Saber a dimensão da previsível vitória da principal coligação xiita (Aliança Nacional Iraquiana), avaliar até que ponto o Primeiro-Ministro Nouri al-Maliki (Coligação Estado de Direito) será recompensado ou penalizado pelos seus 3 anos de governação, perceber o grau de (in)sucesso das listas mais secularistas e trans-sectárias (Movimento Nacional Iraquiano), serão os parâmetros decisivos para se começar a perceber a linha evolutiva do Iraque nos próximos anos.
 

As principais questões a que se procura resposta são:

• O sectarismo étnico-religioso cederá terreno a projectos políticos nacionais alternativos?
 

• O secularismo prevalecerá sobre o fundamentalismo religioso?
 
 
• Será possível formar uma maioria parlamentar minimamente coerente?


• O novo governo (que ainda deverá demorar uns meses a constituir) terá força política e coragem para reprimir as milícias e forças para-militares geradoras de insegurança?
 

• Que influência serão capazes de exercer as potências estrangeiras, especialmente o Irão, no novo quadro político iraquiano?
 
Brevemente veremos se a promessa de democracia no Iraque tem muita, alguma, ou escassa viabilidade. Seja como for, o que se passar amanhã e nas próximas semana na antiga Mesopotâmia não deveria ser-nos indiferente.

09 fevereiro, 2010

Get Real Obama

GET REAL OBAMA


Barack Obama é Presidente dos EUA e já era suposto vivermos num mundo melhor, mais fraterno, mais cooperante, mais seguro, mais ecológico. Infelizmente o saldo não é famoso. Eis uma sucinta conta-corrente.
 
Programa nuclear do Irão

Medidas:
• Cartas simpáticas dirigidas ao Líder Supremo Ayatollah Ali Khameney.
• Mensagem de Ano Novo aos Iranianos em Farsi (significa Persa e não farsa).
• Direct engagement com o Irão no âmbito das conversações 5+1-Irão

Resultados:
• Respostas às cartas: zero.
• Consequências do cartãozinho de Bom Ano Novo: zero.
• Resultados das negociações: zero.

Ponto da situação:
O programa nuclear do Irão prossegue em bom ritmo. As negociações estão num impasse. A mobilização das grandes potências para impor novas sanções a Teerão esbarra na oposição da China e da Rússia. A opção militar está excluída.

Última Hora: O Irão iniciou o upgrade do urânio enriquecido a 3.5% para 20%.

 
Desarmamento Nuclear

Medidas:
• Discurso em Praga anunciando a caminhada para um nuclear-free world.
• Revisão da Estratégia Nuclear dos EUA até ao fim do ano, fazendo o downgrade do seu papel.
• Negociações com a Rússia para fazer um follow-on treaty para o START I, que expirava(ou) a 5 de Dezembro de 2009.

Resultados:
• O prazo chegou, o prazo passou e novo tratado – zero. Há semanas que consta que está quase, mas há dois meses que se vive sem cobertura legal para as medidas de controle e verificação mútuas.
• A conclusão da Estratégia Nuclear foi adiada para a Primavera.
• Não há sinais de tentar fazer aprovar o Comprehensive Test Ban Treaty no Senado.

Ponto da situação:
Está quase, quase, mas ainda não há resultados em qualquer das frentes.

31 dezembro, 2009

It's 3 a.m. and the Red Phone Rings


IT’S 3 A.M. AND
THE RED PHONE RINGS
It’s 3 a.m. and the red phone rings foi, porventura, o mais mediático vídeo político das primárias norte-americanas de 2008. Com ele, Hillary Clinton pretendia passar a mensagem de que era importante ter alguém na Casa Branca com experiência, frieza e capacidade de decisão para atender o telefone vermelho em caso de emergência ou crise.

Pois bem, o telefone tocou no final de Agosto sob a forma de um relatório do comandante das forças da NATO e dos EUA no Afeganistão, General Stanley McChrystal, no qual era traçado um quadro negro da situação militar, política, securitária e sócio-económica do Afeganistão e apontava a necessidade imperativa de um surge (aumento significativo de tropas) na ordem dos 44.000 soldados para inverter o curso da guerra.

Na realidade o vídeo tinha razão de ser: o telefone tocou, tocou e tocou e…. nada. Três meses passaram e…zero. Só em Dezembro é que o telefonista de serviço arranjou coragem para atender. Não é fácil de entender. Então esta era a guerra de necessidade (a do Iraque era de escolha, má claro). A guerra boa versus a guerra má. Afinal a nova Administração já tinha feito (e bem) um aprofundado review do conflito em Fevereiro/Março e, presumivelmente, deve ter feito aferições do seu desenvolvimento entretanto.

Na verdade, as questões são diferentes. Em primeiro lugar, os encómios ao conflito no Afeganistão visavam aproveitar politicamente a demonização do conflito do Iraque e atacar George W. Bush primeiro e John McCain depois. Por azar, agora já não há Bush nem McCain e o Iraque está bem melhor do que o Afeganistão (depois de um surge ao qual os Democratas e Obama se opunham).

Em segundo lugar, há os custos políticos de ser Presidente em tempo de guerra: a esquerda do Partido Democrata abomina a guerra; o mainstream democrata é muito céptico e quer uma guerra light versão Vice-Presidente Biden (algumas tropas especiais e uns drones lança-mísseis e os Taliban à solta a tomarem o poder); os Republicanos querem pôr a carne toda no assador; Barack Obama não quer abandonar o conflito cuja importância proclamou mas quer sair do Afeganistão o mais depressa possível, custe o que custar. Converter este cenário complexo numa equação política vitoriosa é um exercício quase impossível.

O resultado foi, como seria de esperar um mix. Positivo, o incremento substancial de tropas americanas (30.000), embora aquém do que terá sido pedido por McChrystal (40.000 a 44.000). A retórica oficial refere um surge de 35.000 homens, contabilizando 5.000 que serão enviados por outros Países da NATO. É óbvio que esses 5.000 não existem, nem existirão. Os aliados europeus, com poucas excepções, são mais ágeis a falar do que a agir, especialmente quando se trata de operações militares em teatro de guerra; como tal, mesmo com artifícios do género “o batalhão X que devia regressar em Janeiro vai permanecer no Afeganistão mais 3 meses”, se conseguirá atingir esse número o que é, aliás, lamentável.

Na realidade, só um significativo aumento do poderio militar dos EUA/NATO no Afeganistão, permitirá levar a cabo a estratégia de counter-insurgency, a única proposta que permite acalentar esperanças fundadas de um êxito, mesmo que relativo, da missão de estabilizar o país e erradicar os seus elementos ou grupos mais radicais e perigosos. Tal passa por centrar o esforço de guerra na protecção da população e dos centros populacionais mais significativos, procurando garantir a segurança dos Afegãos e a estabilidade social. Só assim haverá as condições básicas para promover o desenvolvimento económico e infra-estrutural e convencer os Afegãos cépticos ou indecisos de que o futuro será melhor com o actual governo e de que é seguro apostar no sucesso da NATO e na derrota dos Taliban.

Francamente negativo foi o anúncio de um deadline de 18 meses para iniciar a retirada. Supostamente, para pressionar o governo afegão a arrepiar caminho e para dar tempo ao novel exército afegão para assumir o grosso da luta contra os Taliban. Na realidade, o factor principal foi a vontade que Obama tem de fugir a sete pés do Afeganistão e a necessidade de dar um rebuçado à ala pacifista maioritária no Partido Democrata, à qual pertence. Falta a Obama o fighting spirit e a consciência geopolítica de que o poder e a disponibilidade para o usar ainda são factores incontornáveis nas Relações Internacionais.

Dentro de 18 meses, o exército afegão ainda não terá a dimensão e a capacidade para arcar autonomamente com o esforço de guerra. Pior do que isso, é que os Taliban e a Al-Qaeda também vêem e lêem as notícias e sabem que lhes basta resistir durante 18 meses e esperar que o inimigo comece a fazer as malas. Então sim, o espírito de Saigão poderá voltar para assombrar a Casa Branca, poderá não haver margem para gastar mais uns meses a deliberar e a escolha poderá ser apenas entre a derrota total e o reforço maciço de tropas. Por outras palavras, um beco sem saída. É evidente que os 18 meses não são inocentes: para além de placar o Partido Democrata, em Julho de 2011 estar-se-á a 16 meses das eleições presidenciais norte-americanas e Obama quer retirar as tropas do Afeganistão a tempo de o Afeganistão sair da mente e da memória do eleitorado, ou seja, a prioridade é vencer em 2012; a guerra está em segundo plano.

Resta ter fé que a estratégia do General McChrystal dê frutos até ao Verão de 2011, para o bem de todos nós e não apenas para o de Barack Obama e do Partido
Democrata.

02 outubro, 2009

"Será que as Pessoas Gostam de Sofrer?"

“SERÁ QUE AS PESSOAS GOSTAM DE SOFRER?”

“Será que as pessoas gostam de sofrer?” Este foi o desabafo espontâneo do meu filho Afonso Duarte (10 anos), ao ver as projecções eleitorais na noite de Domingo. De forma simplista e reflectindo a sua percepção daquilo que o rodeia, não deixa de ser uma compreensível manifestação de estupefacção.

Afinal, sofremos com subidas de impostos, com despesas públicas em projectos faraónicos, com uma crise económica que parece crónica e que é anterior à crise financeira mundial, com o desemprego crescente, com o estado omnipresente, com a educação maltratada, com o espezinhamento dos professores, com a proibição de reprovações, com o aumento do crime e da insegurança, com o bloqueio da justiça, com o controlo da comunicação e a represália contra a crítica. Não obstante, no final pouco importam as motivações dos eleitores: construtiva, de protesto, destrutiva, ou masoquista, são os resultados que relevam.

Valha a verdade que a vitória do PS de Sócrates foi muito pálida comparada com a de 2005: o PS perdeu meio milhão de votos, o seu registo baixou 9% e o grupo parlamentar terá menos 25 deputados. Muito longe, portanto, da “vitória extraordinária” proclamada pelo respectivo Secretário-Geral na noite eleitoral. Ironicamente, o partido vencedor perdeu votos, percentagem e deputados para TODOS os outros 4 partidos!

A segunda ironia das eleições residiu no score eleitoral do PSD, que foi praticamente igual à derrota supostamente catastrófica do PSD de Pedro Santana Lopes em 2005. O PSD cresceu menos de meio por cento, uns residuais 0.4%, que lhe valeram mais 3 deputados, fruto da queda eleitoral do PS! Apesar de estar melhor do que há um ano atrás, o PSD de Manuela Ferreira leite não teve imaginação, nem chama e poucas ideias, embora tivesse razão em várias matérias económicas e sociais. Infelizmente, sucedeu ao PSD o que eu previa por altura das eleições internas e que reafirmei neste blog no início de 2009.

Para quem é de direita, restou a satisfação de ver a (essa sim) extraordinária performance eleitoral do CDS. Paulo Portas seleccionou um conjunto de temas a que o centro-direita é sensível e tocou preocupações com as quais muitos cidadãos empatizam, nas áreas da segurança, segurança social, economia, agricultura e fiscalidade e manteve-se afastado dos fait-divers. Foi a única voz credível do arco democrático fora do centrão. Quem queria uma alternativa não-totalitária ao “bloco central”, sí tinha o CDS. O resultado foi o melhor em 26 anos e o CDS tornou-se no fiel da balança no Parlamento. Bless or curse, adiante se verá.


O tonitruante BE teve uma noite eleitoral agridoce. Doce, a duplicação do número de deputados, a ultrapassagem ao PCP e o final da maioria absoluta socialista. Amarga, a fuga do CDS (+5 deputados) e a impossibilidade de fazer maioria com o PS, o que lhe reduz o poder e a influência.

Finalmente, o PCP. Sobe e desce. Sobe ligeiramente o número de votos e ganha um mandato na AR. Desce no ranking de 3º para 5º e desce no amor-próprio. Mas resiste e aumenta o número de deputados pela terceira eleição consecutiva.

A abstenção subiu para perto dos 40%, mostrando que ao entusiasmo eleitoral dos media não corresponde necessariamente o dos eleitores. Penso que corremos o risco de caminharmos para uma situação em que o período eleitoral se torne num conjunto de rituais que envolvem e excitam a classe política e jornalística e dos quais a população se afasta e desinteressa.

Aproximam-se tempos interessantes, o que, como se sabe, não é necessariamente bom.

O Parlamento vai recuperar parte da influência e prestígio perdidos o que é bom porque é (devia ser) o cerne do sistema democrático.

A estabilidade política vai estar omnipresente no discurso, sendo que o politicamente correcto e o interesseiro a sobre-valorizam, confundindo-a por vezes com paz poder ou com a calma do pântano (this rings a bell…).

A bipolaridade do sistema político-partidário português foi enviada para a surtigas, numa eleição em que os partidos médios saíram globalmente triunfantes. Também isso terá sido bom para um sistema demasiado viciado.

Ah! As Legislativas e as Autárquicas vão ficar separadas outra vez: estas serão em 2013 e aquelas terão lugar em 2011. Até lá!

NOTA: Os resultados e mandatos referidos no post excluem, como é óbvio, os 4 deputados a eleger pelos círculos da emigração.

P.S. Este post foi escrito há dois dias, mas não consegui colocá-lo no Blog. Também aqui alguém terá tentado calar uma voz incómoda!!! loool

26 junho, 2009

Ilusões Persas



ILUSÕES PERSAS


Nas eleições presidenciais iranianas, o Presidente cessante, Mahmoud Ahmadinejad, conseguiu uma expressiva vitória com 63% dos votos, esmagando a concorrência, deixando o segundo posicionado, Mir Hossein Moussavi com 32% e os dois restantes com votações abaixo dos 2%.

Este resultado provocou surpresa e consternação no Ocidente, esperançado que estava que um candidato dito reformador removesse do poder um Presidente radical, beligerante, desbocado e perigoso.

A surpresa, a desilusão e as reacções, derivam de um conjunto de ilusões fundadas mais em esperança e desejo do que em hard facts.


AS ILUSÕES PERSAS DO OCIDENTE

1- Os Iranianos estão fartos de Ahmadinejad e dos Ayatollahs radicais que os governam e, perante uma alternativa reformadora credível abraçá-la-ão entusiasmados. Na verdade, muitos Iranianos de classe média urbana estarão saturados do Presidente do Irão e das suas políticas externa (agressiva), económica (ruinosa) e social (castradora), mas o populismo de Ahmadinejad, os generosos subsídios e outras prebendas distribuídas pelo Presidente durante o boom petrolífero garantiram-lhe vasto apoio nas camadas populares (maioritárias) e nas províncias.

2- O Irão está longe de ser uma democracia, apesar das eleições. A existência de um Líder Supremo não eleito com reais e supremos poderes, o carácter teocrático do regime e as múltiplas interferências dos ayatollahs, nomeadamente na triagem dos candidatos presidenciais, as limitações às liberdades de expressão e de imprensa, são demonstrativos do cariz não-democrático da dita república islâmica. Esperar que os detentores das alavancas do poder abram mão dele de forma suave e conformada, é outra ilusão.

3- Mir Hossein Moussavi é um liberal, moderado e reformador? Só com boa vontade se poderia chegar a essa conclusão. Poder-se-á dizer que, comparado com Ahmadinejad, qualquer um faz boa figura, mas Moussavi é, há 30 anos, parte do establishment iraniano: protagonista do encerramento das universidades iranianas e de purgas de professores na época da Revolução, Ministro dos Negócios Estrangeiros que defendeu a internacionalização da revolução islâmica e Primeiro-Ministro na altura do lançamento do programa nuclear do Irão. Ou seja, tal como com Khatami, Presidente de 1997 a 2005, o mais que se poderia legitimamente esperar seria um abrandamento dos aspectos mais agressivos e radicais da postura interna e externa do regime, mas sempre dentro das estritas balizas estabelecidas pelo Ayatollah Ali Khamenei e pelo Conselho dos Guardiões.

4- Teerão reflecte o pulsar político do Irão. Não é assim e os resultados eleitorais comprovam-no, mas é a realidade que os correspondentes ocidentais conhecem e extrapolam-na para o país inteiro, o     que cria outra ilusão.

5- As eleições foram uma completa fraude. Francamente, não acredito. Aponta-se como um indício de fraude o facto do Ministério do Interior ter proclamado Ahmadinejad vencedor no dia seguinte às eleições, o que até não é surpreendente se a margem de votos para Moussavi tiver sido tão grande, mas ninguém questiona como Moussavi pôde reclamar vitória no próprio dia das eleições. Além do mais, falsificar uma vitória por 13 milhões de votos, seria uma fraude de dimensões épicas e, portanto, pouco provável.

Daqui não se pode deduzir alguma simpatia pelo regime de Qom, perdão de Teerão, que é opressor do seu povo, retrógrado, belicoso e perigoso para a estabilidade do Médio Oriente e para a segurança do mundo através do seu programa nuclear. Ora, isto não é, bem pelo contrário, um país e uma situação acerca dos quais se possa ter quaisquer ilusões, sob pena de se sofrer forte desapontamento.

14 junho, 2009

Direita Volver

DIREITA VOLVER


in "The Economist", 11 June  2009

 
Os partidos de direita e centro-direita venceram as Eleições Europeias em 20 dos 27 Estados-Membros da União Europeia, incluindo a Alemanha, Reino Unido, França, Itália, Espanha, Polónia e Holanda, ou seja, os 7 maiores países. Os partidos socialistas/trabalhistas perderam em toda a linha, sendo nalguns casos esmagados (Alemanha, Reino Unido, Hungria e até em Portugal).

Os partidos radicais (de direita e esquerda) registam ganhos significativos em vários países, como o Reino Unido, Holanda, Portugal, Itália, Hungria, Dinamarca, Finlândia, Áustria e Eslováquia.

A abstenção nestas eleições foi de 57%, batendo novo record de afastamento das urnas na Histórias de 30 anos de eleições directas para o Parlamento Europeu.


VITÓRIA DA DIREITA
Estes resultados contrastam de forma impressionante com os gritos de alarme e de triunfalismo que se ouviram da esquerda quando rebentou a crise financeira no ano passado. Alarme perante os excessos do capitalismo selvagem, a ganância dos investidores e a própria existência de mercado e de iniciativa e criatividade privada que fugisse ao estrito controle do Estado (que é intrinsecamente sábio e bom como se sabe). Triunfalismo porque, como disse José Sócrates, o liberalismo abriu falência e o socialismo estatizante está de volta e em força.

Pelos vistos, a maioria dos cidadãos na maioria dos países europeus não pensa exactamente assim. Eu sei que a direita europeia não é um paradigma de liberalismo económico, mas é o mais próximo que se pode encontrar no Velho Continente. E os resultados foram tão homogéneos e até avassaladores de Londres a Roma, de Lisboa a Varsóvia, que se pode considerar que os valores mais liberais para a economia e mais conservadores na segurança e na sociedade triunfaram em toda a linha. O que é manifestamente bom.

ASCENSÃO DOS RADICAIS
Os diversos radicalismos que pululam pela Europa fora, tiveram umas boas eleições. Fascistas, Comunistas, racistas, eco-radicais, piratas todos registaram sucessos, ora subindo votações e elegendo mais representantes, ora conseguindo eleger deputados pela primeira vez. O cenário é clássico: recessão e crise económica, desemprego ascendente e rendimentos decrescentes, grandes comunidades imigrantes pouco integradas e receitas idênticas e sem grande esperança dos partidos do mainstream. Resultado: procura de alternativas onde elas existem, cada vez mais longe do centro.

NÃO VOTAMOS
A cada eleição directa para o Parlamento Europeu, a abstenção sobe, atingindo nalguns países valores estratosféricos: Eslováquia – 81%; Lituânia – 79%; Rep. Checa – 72%. 57% dos Europeus não se deu ao trabalho de votar e em cerca de 20 países a abstenção superou os 50%. Se dúvidas houvessem, os eleitorados tornaram a demonstrar o seu empenho no processo de construção e integração europeia e no reforço dos poderes do PE. Só não vê quem não quer. E quem não quer ver, recusa-se a tirar as ilações devidas perante estes números…