IRAQUE: A HORA DA VERDADE
in "The Economist"
Após o sucesso do surge implementado pela Administração de George W. Bush no final de 2006, o Iraque desapareceu gradualmente dos radares dos mass media, da opinião pública e dos governos ocidentais. É o habitual giroscópio noticioso na procura incessante da última novidade que desperte o interesse e a atenção da massa espectadora bocejante.
No entanto, este desaparecimento do Iraque é enganador, porque o Iraque, para o bem, ou para o mal, irá desempenhar um papel crucial no Médio Oriente no futuro próximo.
Desde logo, o Iraque possui as segundas maiores reservas conhecidas de petróleo do mundo (a seguir à Arábia Saudita). Ainda no plano energético, uma vez operacionalizados os acordos assinados com grandes companhias petrolíferas ocidentais, o Iraque competirá com os Sauditas pelo top mundial de produção de crude.
Em termos estratégicos, o Iraque ocupa um espaço central no Médio Oriente, encaixado entre o Irão xiita e a Arábia Saudita sunita e fazendo ainda fronteira com a Turquia, ou seja, com os principais actores islâmicos da região, com a excepção do Egipto.
Tal significa que o que se passar no Iraque terá um impacto político significativo na região. Pelos mesmos motivos, a evolução interna iraquiana será condicionada pela influência e interferência dos seus principais vizinhos e, também, pelos Estados Unidos.
Amanhã, os Iraquianos votarão para eleger um parlamento pela terceira vez desde que a ditadura de Saddam Hussein foi derrubada. Da afluência às urnas e dos resultados apurados muito depende não só o futuro do Iraque, como também o do Médio Oriente.
Saber a dimensão da previsível vitória da principal coligação xiita (Aliança Nacional Iraquiana), avaliar até que ponto o Primeiro-Ministro Nouri al-Maliki (Coligação Estado de Direito) será recompensado ou penalizado pelos seus 3 anos de governação, perceber o grau de (in)sucesso das listas mais secularistas e trans-sectárias (Movimento Nacional Iraquiano), serão os parâmetros decisivos para se começar a perceber a linha evolutiva do Iraque nos próximos anos.
As principais questões a que se procura resposta são:
• O sectarismo étnico-religioso cederá terreno a projectos políticos nacionais alternativos?
• O secularismo prevalecerá sobre o fundamentalismo religioso?
• O novo governo (que ainda deverá demorar uns meses a constituir) terá força política e coragem para reprimir as milícias e forças para-militares geradoras de insegurança?
• Que influência serão capazes de exercer as potências estrangeiras, especialmente o Irão, no novo quadro político iraquiano?
Brevemente veremos se a promessa de democracia no Iraque tem muita, alguma, ou escassa viabilidade. Seja como for, o que se passar amanhã e nas próximas semana na antiga Mesopotâmia não deveria ser-nos indiferente.
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