RUSSOS E AMERICANOS
ENTALAM TURCOS
No norte da Síria
pode ver-se, a amarelo, o território controlado pelos Curdos e, a cinza
azulado, a cunha que os Turcos
conseguiram com a operação Euphrates Shields a noroeste.
Na sua saga de perseguição dos Curdos, a Turquia lançou em Outubro de 2016 uma operação militar na Síria designada Euphrates Shield. Os objectivos eram, em primeiro lugar, impedir que os avanços das forças curdas provindas do nordeste e do noroeste da Síria as levasse a unir os dois territórios, assim criando um contínuo no norte da Síria ao longo da fronteira com a Turquia; e depois, reverter pelo menos parte dos substanciais ganhos territoriais obtidos pelo YPG, o principal braço armado dos Curdos da Síria.
O primeiro foi cumprido com sucesso, apesar das baixas substanciais incorridas: os Turcos e os seus sequazes sírios lograram tomar a cidade de Al-Bab, que passou a ser uma cunha entre os cantões curdos de Afrani (a oeste) e de Kobani (a este).
O pior sucedeu quando os Turcos voltaram a sua atenção para a
cidade de Manjib ocupada pelo YPG, apenas para verem o seu caminho barrado por
unidades dos exércitos russo e norte-americano, obstáculos esses, que levaram
ao término prematuro da Operação Euphrates Shield.
Então, a Turquia começou a planear incursões no norte da Síria para
enfraquecer os Curdos e retirar-lhes território. Contudo, a Rússia, preocupada com a perspectiva de uma forte presença
militar turca na Síria e os EUA,
preocupados com os efeitos negativos que os ataques turcos ao YPG teriam sobre
a operação de conquista de Raqqa ao Estado Islâmico, movimentaram forças para o norte, efectivamente criando um cordão
sanitário entre Turcos e Curdos.
Desta forma, a Rússia e os EUA bloquearam o desiderato de Ancara de
continuar a flagelar os territórios controlados pelo Curdos Sírios, tendo estes
podido participar de forma decisiva na recente conquista de Raqqa e tendo
mantido uma posição hegemónica no norte da Síria.
Enquanto houver tropas russas e americanas de permeio, Ancara não
arriscará um confronto com estas potências para prosseguir os seus objectivos
na Síria. Os riscos e os custos seriam demasiado elevados.
Não obstante, o objectivo não desaparecerá e o dia virá em que
Russos e Norte-Americanos partirão e os Turcos, os Sírios em geral e os Curdos
em particular, permanecerão. É improvável que os respectivos objectivos irreconciliáveis
não se mantenham até lá. Por agora, enquanto não se abre nova janela de
oportunidade, os Turcos desesperam com os maiores fornecimentos de armamento
americano aos Curdos e com o bloqueio russo-americano e ainda pelo estabelecimento
de cooperação militar transfronteiriça entre o YPG e o Exército do Iraque.
A Turquia foi
entalada por Moscovo e Washington, mas a História diz-nos que, no final, são os
Curdos quem costuma terminar entalado. A ver vamos.
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