16 dezembro, 2016

Alepo É de Assad




ALEPO É DE ASSAD

Mais de 3 anos após ter perdido (parcialmente) a cidade de Alepo, o regime de Al Assad está a consumar a reconquista da maior cidade da Síria.

 

Alepo: Antes e Depois….
in “PP PetaPixel” em http://petapixel.com/


Para tal, Damasco contou com 3 factores vitais: o apoio dos seus aliados externos (Rússia, Irão e milícias libanesas, iraquianas e afegãs), a forma implacável e persistente como foram conduzidos o cerco e ataque a Alepo e a passividade dos aliados dos rebeldes. Estes 3 factores comportam as suas lições:

1- DAR O CORPO AO MANIFESTO
Damasco contou com um forte apoio dos seus aliados, mas não foi um apoio moral ou de aplauso; Russos, Iranianos, Libaneses, Iraquianos e Afegãos, forneceram armas, treino e equipamento, mas também intervieram a fundo no combate dando, literalmente o corpo ao manifesto, e esse apoio fez a diferença no terreno, majorando as capacidades do desgastado Exército Árabe Sírio.

2- DOA A QUEM DOER
O ataque a Alepo foi muitas vezes brutal e cruel como tem sido, aliás, a Guerra da Síria, provocando imenso sofrimento e destruição. Porém, não justificando, a verdade é que não é fácil nem muitas vezes possível, fazer a guerra seguindo à risca o manual de instruções. Uma guerra urbana, a conquista (ou a defesa) de uma grande cidade terá sempre custos e violência acrescidos. A abordagem doa a quem doer foi muitas vezes desumana, mas no contexto de brutalidade vigente, foi eficaz para os fins da Síria e dos seus aliados.

3- DEFENDER A BOLA COM OS OLHOS
A expressão defender a bola com os olhos vem do futebol e retracta a situação em que o guarda-redes, impotente para deter o remate, se limita a acompanhar a bola com o olhar, rogando que não entre. Tal foi a atitude-base dos aliados e apoiantes dos rebeldes. Não acho que fosse boa ideia meterem-se no vespeiro de Alepo, mas fazer declarações grandiloquentes, ameaças ocas, protestos, choros e indignações não ia, como não foi, ajudar os rebeldes a parar a marcha de Sírios, Russos e Iranianos. E a bola entrou.

Na guerra, hard power, objectivos bem definidos, boa planificação, estratégia, saber o percurso e percorrê-lo com determinação e ter alguma flexibilidade perante os imponderáveis, são condimentos fundamentais. A Síria, a Rússia e o Irão estavam na posse desses elementos e usaram-nos de forma implacável. Costuma dizer-se que the devil is in the details, mas isso não foi um problema para esta coligação que ignorou os detalhes e focou-se no essencial: derrotar os rebeldes e retomar o controlo total de Alepo. Por isso ganharam. Ninguém mais o fez e, também por isso, perderam.

Os custos foram elevados? Foram. Mas isso fazia parte dos tais detalhes. No fim, o que conta é a realidade e esta diz-nos que o regime sírio retomou a cidade. Alepo é de Assad outra vez. 

1 comentário:

Joaquim de Freitas disse...

Lúcido e realista. Muito bom, Caro Professor. E Bom Natal.