HISTERIA DA CRIMEIA
Localização e
caracterização dos incidentes entre forças aéreas e navais da Rússia e de
países europeus nos Mares do Norte, Báltico e Negro.
in “THE WASHINGTON POST em http://www.washingtonpost.com/world/russia-unnerves-its-neighbors/2014/11/23/ef79e1d0-738a-11e4-9c9f-a37e29e80cd5_graphic.html
A anexação da
Crimeia pela Rússia ainda provoca considerável dose de histeria. Em alguns,
despertou um terror irracional de que a Rússia vai arremeter contra todos os
vizinhos e reconstituir o Império Russo, ou o Soviético, ou ambos. Para outros,
é um pretexto para prosseguir uma agenda específica.
No Báltico, essa
agenda pode incluir uma eventual adesão da Suécia e da Finlândia à NATO; a
instalação de contingentes permanentes de tropas e/ou material militar de
países da NATO na Polónia; ou um incremento de exercícios militares e patrulhas
aéreas na Letónia, Lituânia e Estónia.
No Mar Negro,
inclui a instalação de pessoal dos EUA no país no âmbito do programa de Defesa
Anti-Míssil (BMD) e a aquisição de mais material militar.
Aliás, o aumento
da despesa militar já é um facto na Polónia, Roménia, Finlândia, Suécia,
Lituânia e na falida Ucrânia, que anunciou que vai triplicar o orçamento da
defesa em 2015.
Não é difícil
adivinhar quem mais aproveitará com este fluxo de dinheiro para as indústrias
de defesa.
O pretexto para a
mais recente vaga de histeria foram os vôos mais ou menos provocatórios de
aviões militares russos por toda a orla marítima europeia e mais além, que não
pouparam Portugal (ver “Vêm Aí os Russos!” em http://tempos-interessantes.blogspot.pt/2014/10/blog-post.html ).
Esses vôos contêm
mensagens: e elas são, claramente, teste,
demonstração de força, provocação e intimidação. Não são, seguramente, a
preparação de um ataque ou invasão. Algumas reacções parecem mostrar que estão
a ser bem sucedidos. Elisabeth Rehn, antiga Ministro da
Defesa da Finlândia, declarou ao Washington Post “It’s
going in a terrifying direction. It’s only been 100 years since we gained our
independence from Russia. Crimea was a part of Russia, too. Will they try to
take back what belonged to them 100 years ago?” How dramatic!
Mais sensato, Erkki Tuomioja, Ministro dos Negócios Estrangeiros da
Finlândia, considera que, “From a Russian point of view, it’s the most stable
and least problematic frontier they have, and I believe they want to keep it
that way as long as they have no reason to believe that the Finnish territory
would be used for hostile action.” http://www.washingtonpost.com/world/europe/finland-feeling-vulnerable-amid-russian-provocations/2014/11/23/defc5a90-69b2-11e4-bafd-6598192a448d_story.html
É evidente que a
Rússia não tem qualquer interesse em provocar conflitos com países como a
Suécia, a Finlândia, ou mesmo a Polónia e o que está em causa não é a pertença
à NATO, mas sim os benefícios que Moscovo podia colher de tal aventura (virtualmente
nenhuns) e os custos (provavelmente enormes).
Embora seja co me
desejável que um país que se sinta ameaçado, invista mais na sua defesa,
fomentar um clima de pânico e histeria em nada beneficia o país envolvido.
Existe um grupo
de países, nomeadamente a Polónia, a Lituânia e a Roménia, que querem arrastar
a NATO para Leste, adoptando uma atitude totalmente hostil e até agressiva em
relação à Rússia. Para a maioria dos Estados-Membros da Aliança Atlântica, tal
não é uma boa política nem reflecte os seus interesses. Contudo, esses países
parecem contar com o apoio dos Estados Unidos-
Brandir o espantalho da
Crimeia é oportunismo de quem prossegue interesses específicos e usa um exemplo
real, mas não replicável na esmagadora maioria dos países europeus. A Rússia não quer
invadir os Estados Bálticos, a Polónia, ou a Roménia e muito menos a
Escandinávia. Apenas quer evitar que estes países sejam base e plataforma para
forças exógenas que possam representar uma ameaça à Rússia e aos seus
interesses. O uso da força por parte de Moscovo não extravasará dos países
vizinhos onde já tem uma presença militar directa ou indirecta: Ucrânia,
Moldova e Geórgia. E mesmo isso não significa que o faça em qualquer um deles no
futuro.
A histeria à volta da Crimeia,
ela mesmo um caso encerrado, visa manter acesa a chama anti-russa e fomentar novos
avanços na esfera de influência da Rússia, na área de especial interesse para
Moscovo. Esta postura, em vez de promover a segurança dos Estados do
Centro-Leste da Europa, promove a incerteza e potencia o conflito.
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