MAN OF THE YEAR 2014:
ABU BAKR AL-BAGHDADI
ABU BAKR AL-BAGHDADI
TEMPOS INTERESSANTES’ MAN OF THE
YEAR 2014
Abu Bakr Al-Baghdadi, nascido Ibrahim Awad
Ibrahim Al-Badri, líder do ISIL (Islamic State of Iraq and the Levant),
posteriormente líder do Estado Islâmico e Califa desse Estado que abrange uma
parte substancial do Iraque e a da Síria, é o “Man of the Year 2014” para Tempos Interessantes.
Salvo algum acontecimento de grande
magnitude, esta escolha está feita desde o Verão, tal o impacto que este homem,
até há pouco tempo imerso num semi-anonimato, teve nas Relações Internacionais,
na Geopolítica do Médio Oriente, nos alinhamentos regionais e nas decisões das
grandes potências.
Acima de tudo, Al-Baghdadi e a sua organização abalaram as estruturas políticas, a
organização dos Estados e modificaram o mapa do Médio Oriente com um impacto
como não há memória desde a Guerra dos 6 Dias em 1967.
O Estado Islâmico iniciou a sua
escalada em duas frentes: Iraque e Síria. Mas foi nesta, no ambiente de caos e
guerra civil, que começou a ganhar notoriedade internacional e a deixar as suas
imagens de marca: eficiência e poderio militar, intransigência face a inimigos
e teóricos aliados, brutalidade na afirmação desse poder e castigador impiedoso
dos oponentes, dissidentes ou desobedientes.
Se na Síria foi o caos e a guerra que
proporcionaram o ambiente para a afirmação do Estado Islâmico, no Iraque foi o
governo sectário do Xiita Nouri Al-Maliki e as suas práticas discriminatórias e
persecutórias dos Sunitas que proporcionaram o caldo político, social e mesmo
militar para a ascensão do ISIL/Estado Islâmico e a criação do Califado.
Quais são, então, as proezas de Abu
Bakr Al-Baghdadi que lhe valeram o titulo de “Man of the Year 2014” para Tempos
Interessantes?
1- A criação de um Estado numa região onde
nenhum é criado há 40 anos, feito que nem os Palestinianos conseguiram em
quatro décadas de esforços.
2- Exercer controlo sobre um vasto território
abrangendo o Nordeste e o Leste da Siria e o Oeste e parte do Norte do Iraque
(ver “Estado Islâmico do Iraque Ocidental e da Síria Oriental” em http://tempos-interessantes.blogspot.pt/2014/06/estado-islamico-do-iraque-ocidental-e.html ), um território com uma dimensão aproximada
da do Reino Unido que modificou, pelo menos por agora, o mapa politico do Médio
Oriente: aquilo que o meu filho Afonso Duarte designou pela “mancha de café derramada
no mapa do Médio Oriente”!
O Estado Islâmico: a
“mancha de café derramada no mapa do Médio Oriente”.
3- Pôr em cheque, pela primeira vez num
século, a herança de Sykes-Picot (ver “Sykes-Picot” em http://tempos-interessantes.blogspot.pt/2014/09/sykes-picot.html ), o desenho geopolítico do Médio Oriente
traçado pelo Reino Unido e pela França em 1916, colocando em séria dúvida a
integridade (que neste momento não existe) e a viabilidade futura do Iraque e
da Síria.
4- Lançar a confusão e a insegurança nos
principais actores geopolíticos do Médio Oriente: Irão, Arábia Saudita e Turquia.
Teerão porque viu aumentada a ameaça à sua hegemonia e influência no Iraque e
na Síria. Riyadh porque teme qualquer ameaça ao seu estatuto de liderança do
Islão Sunita, bem como qualquer reedição da ameaça da Al-Qaeda na década
passada. Ankara porque teme a desestabilização e o conflito nas suas fronteiras
e o spillover do Estado Islâmico para o seu território e população.
5- Lançar um pânico irracional nas principais
chancelarias ocidentais quanto ao seu impacto no presente e no futuro,
fazendo do Estado Islâmico, no plano mediático, aquilo que foi a Al-Qaeda na
década de 2000.
6- Provocar o mais timorato, temeroso e
indeciso Presidente dos Estados Unidos desde James Carter para uma nova guerra
no Médio Oriente, talvez a mais cruel ironia a abater-se sobre o pretenso “war
terminator”.
7- Conquistar de forma fulminante, desbaratando o Exército Iraquiano, (ver “O
Buraco Negro da 2ª Divisão” em http://tempos-interessantes.blogspot.pt/2014/06/buraco-negro-da-2-divisao.html) a cidade de Mosul, a segunda maior do
Iraque. Mosul onde, no dia 4 de Julho, Abu Bakr Al-Baghdadi fez a sua
primeira aparição pública após a sua entronização como Califa com a designação
de Califa Ibrahim, vestido com a túnica negra dos Abássidas, na Grande Mesquita
da Al-Nuri.
Abu Bakr Al-Baghdadi
como Califa Ibrahim na Grande Mesquita Al-Nuri em Mosul.
8- Tornar o Estado Islâmico no maior magnete
de combatentes jihadistas dos 5 continentes desde a Guerra do Afeganistão,
mobilizando milhares para combater sob o estandarte negro.
O Estado Islâmico vai buscar a sua inspiração
e ideário aos escritos originais de Maomé, a uma interpretação literal do Corão
e aos tempos gloriosos do Califado Abássida (750-1258). Concomitantemente,
Al-Baghdadi acredita na restauração do Califado dos Abássidas e das suas
práticas, que incluíam acolher os muçulmanos puros (o que exclui os Xiitas) e
os Cristãos e Judeus que se convertam, fujam ou se submetam. Os restantes são
passados a fio de espada. As suas crenças incluem a profecia de Maomé que o
Islão e os infiéis travariam uma grande e decisiva batalha no Norte da actual
Síria, perto da Turquia.
Os Califados
Islâmicos na Idade Média. O Califado Abássida, com capital em Bagdad e no qual
o actual Califado parece inspirar-se, conheceu o seu apogeu em meados do século
IX, dominando um contínuo territorial da Península Ibérica até à Pérsia.
Fundado num distante passado medieval, o
Califa Ibrahim e o Estado Islâmico vão estilhaçando o presente com uma mescla
de métodos antigos e modernos e moldando um futuro incerto, mas certamente
diferente do passado recente. Esse statu quo, o Estado Islâmico de Abu Bakr
Al-Baghdadi, modificaram-no, provavelmente de forma permanente.
Certo é que Al-Baghdadi tem trabalhado bem
para realizar a profecia de Maomé, velha de 13 séculos.
Posts anteriores com referências relevantes ao
Estado Islâmico:
“ESTADO ISLÂMICO DO
IRAQUE OCIDENTAL E DA SÍRIA ORIENTAL” em
“BURACOI NEGRO DA 2ª
DIVISÃO” em
“AINDA O ESTADO
ISLÂMICO” em
“ESTADO ISLÂMICO ≠AL-QAEDA” em
http://tempos-interessantes.blogspot.pt/2014/09/estado-islamico-al-qaeda.html