CASCATA
NUCLEAR ASIÁTICA:
ÍNDIA
Existem três potências nucleares na Ásia, Médio Oriente
exclusive: China, Índia e Paquistão. A meio daquilo a que chamo a cascata nuclear asiática, está a Índia.
A Índia detonou o seu primeiro engenho nuclear em 1974,
mas só em 1998 se tornou oficialmente uma potência nuclear. O arsenal nuclear
indiano serve três propósitos:
1- A afirmação como potência nuclear é uma questão de
status e prestígio e de afirmação como potência regional hegemónica ou
predominante (um pouco como o Irão).
2- Em segundo lugar, serve para enfrentar o Paquistão:
para o pressionar, para o dissuadir e para retaliar.
3- Menos publicitada é a 3ª função que é a de fazer frente
à República Popular da China, prioritariamente com uma função dissuasora e
secundariamente novamente como afirmação de poder no que considera ser a sua
área de influência: Ásia e Índico, do Mar Arábico até ao Estreito de Malaca.
O Paquistão, inimigo histórico da Índia, era em termos
operacionais o primeiro, quiçá o único, alvo do programa nuclear indiano.
Embora superior no plano militar, a Índia viu vantagens em ter um instrumento
dissuasor mais temível e, também, prevenir um eventual nuclear breakout paquistanês. Contudo, quando a Índia se tornou oficialmente nuclear em 1998 e Islamabad ripostou na mesma moeda, a situação da
Índia degradou-se na medida em que as armas nucleares do Paquistão mitigaram a
sua inferioridade convencional.
O confronto nuclear entre a Índia e o Paquistão está, de certa
forma, resolvido. Os dois países têm uma aproximada paridade nuclear, em
princípio ambos têm capacidade de responder a um first strike e ambos estão cientes de que as suas decisões
militares no plano convencional estão condicionadas pelo arsenal nuclear do
vizinho.
É então a terceira vertente que é, no presente e para o
futuro, mais interessante e importante. Embora tal surpreenda muita gente, o
principal investimento e desenvolvimento do programa nuclear da Índia nos
últimos anos e nos próximos, tem em vista a China, como os leitores de Tempos
Interessantes saberão (“Índia:
China na Mira” em http://tempos-interessantes.blogspot.pt/2012/04/india-china-na-mira-lancamentodo-agni-v.html .
A Índia sempre se considerou a potência hegemónica da
Ásia do Sul. A partir do fim da Guerra Fria as ambições da Índia aumentaram e o
vertiginoso crescimento económico deste século proporcionaram a New Delhi a oportunidade e os meios para se afirmar
como a potência dominante de uma vasta região que se estende, em terra, da
fronteira do Irão a Ocidente até à Indochina a Oriente e no mar por grande
parte do Índico, usando as referências ainda actuais de Afonso de Albuquerque,
de Ormuz a Malaca.
Estas ambições já vão muito além do Paquistão e esbarram
nas da China que, sendo um Estado ribeirinho do Pacífico, depende do Índico
para grande parte das suas rotas comerciais. Embora seja um facto pouco
mencionado, tal como com o Paquistão, a Índia também partilha uma longa (cerca
de 3500 km) e contenciosa fronteira com a China, onde os dois exércitos se
postam frente a frente e que inclui o Tibete que é, em si próprio, um assunto
sensível e contencioso.
A inferioridade nuclear (e não só) indiana relativamente
à China é muito grande, de tal modo que, em
caso de um conflito sino-indiano, a Índia correria o risco de ficar refém de um
blackmail nuclear chinês. Ora essa é uma situação de vulnerabilidade que
não conjuga bem com o estatuto de grande potência que New Delhi quer ostentar.
Daí que New Delhi tenha embarcado num programa que visa dar mais
alcance, mais potência, mais punch,
mais diversidade e menos vulnerabilidade ao seu arsenal nuclear, Tal passa por três vectores essenciais:
* Desenvolvimento
de mísseis capazes de atingir o heartland chinês.
* Desenvolvimento
de tecnologia MIRV (multiple independently targetable reentry vehicle) que
permite que um míssil transporte múltiplas ogivas nucleares que se separam e se
dirigem para diferentes alvos, multiplicando o efeito destruidor de um único
vector.
* Desenvolvimento
de uma capacidade nuclear submarina que confira um maior grau de
invulnerabilidade a um ataque surpresa, chinês ou qualquer outro.
INDIA
|
Prithvi-1
|
Operational
|
150 km
|
Liquid
|
Prithvi-2
|
Operational
|
250 km
|
Liquid
|
|
Prithvi-3
|
Development
|
350 km
|
Solid
|
|
Dhanush
|
Operational
|
400
|
Liquid
|
|
Sagarika/K-15 (SLBM)
|
Tested
|
750
|
Solid
|
|
Agni-1
|
Operational
|
700 km
|
Solid
|
|
Agni-2
|
Operational
|
2,000 km
|
Solid
|
|
Agni-3
|
Operational
|
3,000 km
|
Solid
|
|
Agni-4
|
Tested
|
3,500 km
|
Solid
|
|
Agni-5
|
Development
|
5,000 km
|
Solid
|
Todos estes vectores estão em movimento:
O Agni-5, com um alcance de 5000 km (Pequim dista 3200 km de New Delhi) poderá atingir Xangai e Pequim; já foi testado e deve estar
operacional em 2015.
A tecnologia MIRV encontra-se em fase de desenvolvimento
e o seu vector, o Agni-6, deve entrar em pleno desenvolvimento a partir do
próximo ano quando terminar o ciclo de desenvolvimento do Agni-5. O Agni-6, que oficialmente não existe e cujas
configurações são em boa parte classificadas, deverá ter um alcance de mais de
6000 km, o que o coloca na categoria de ICBM (Intercontinental Ballistic
Missile), cobriria a totalidade do
território chinês. Estima-se que transporte 4 a 6 ogivas nucleares.
Ainda mais adiantada está a componente submarina da tríade
nuclear. A aquisição do submarino nuclear INS Chakra à Rússia e
a construção do INS Arihant (que já faz testes de mar) estão a conferir à
marinha de guerra indiana proficiência na utilização de submarinos nucleares. O
próximo passo será artilhar o Arihant com mísseis nucleares. O K-15 com um
alcance de 700 km e que poderá ser usado contra o Paquistão já completou os
testes preliminares. Já o K-4, que tem um alcance de 3500 km, deverá ser the weapon of choice destes submarinos,
ainda está em fase de testes.
Não é difícil perceber que o dossier Paquistão está por agora encerrado e que todo o programa
nuclear indiano está direccionado para outras latitudes. Como ninguém
investe biliões de Dólares para desenvolver mísseis com um alcance de 5000/6000
km para atingir alvos a 500/1000 km, é óbvio que o alvo da Índia é a República
Popular da China.
Este gráfico permite perceber o redireccionamento do programa
nuclear e de mísseis da Índia, com os testes de mísseis de maior alcance a
suplantarem os de curto alcance.
In January,
a report by the Ministry of Defence Integrated Headquarters expressed fears
that the People’s Liberation Army Navy (PLAN) is building “expeditionary
maritime capabilities” and could use nuclear-powered submarines and area denial
weapons to threaten warships in the region.
As motivações são várias, mas eu destacaria a emergente
competição geopolítica entre os dois gigantes
demográficos. Essa rivalidade irá muito
além da disputa pelas demarcações fronteiriças e abrange as rotas marítimas do
Índico e as suas ligações ao Pacífico, ao Médio Oriente e ao Mediterrâneo, as áreas de influência em países
estrategicamente relevantes, como a Birmânia, o acesso privilegiado a
recursos minerais e energéticos.
Não é previsível que esta rivalidade resvale para um
conflito militar a médio prazo, mas a fraqueza militar de um, poderá pôr em
cheque as suas ambições. Nesse âmbito, o
nuclear, tal como a capacidade de projecção de poder, assume um papel de
relevo: não tanto para usar, mas para prevenir o seu uso por terceiros. Assim,
a Índia não procura superioridade e nem sequer a paridade nuclear com a China,
mas apenas uma capacidade retaliatória credível que sirva de dissuasão
efectiva.
Os Agni, os submarinos nucleares e os MIRV darão exactamente
isso à Índia, uma apólice contra a maioria dos riscos…
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