31 dezembro, 2014

Man of the Year 2014

MAN OF THE YEAR 2014:
ABU BAKR AL-BAGHDADI
ABU BAKR AL-BAGHDADI
TEMPOS INTERESSANTES’ MAN OF THE YEAR 2014

Abu Bakr Al-Baghdadi, nascido Ibrahim Awad Ibrahim Al-Badri, líder do ISIL (Islamic State of Iraq and the Levant), posteriormente líder do Estado Islâmico e Califa desse Estado que abrange uma parte substancial do Iraque e a da Síria, é o “Man of the Year 2014” para Tempos Interessantes.


Salvo algum acontecimento de grande magnitude, esta escolha está feita desde o Verão, tal o impacto que este homem, até há pouco tempo imerso num semi-anonimato, teve nas Relações Internacionais, na Geopolítica do Médio Oriente, nos alinhamentos regionais e nas decisões das grandes potências.

Acima de tudo, Al-Baghdadi e a sua organização abalaram as estruturas políticas, a organização dos Estados e modificaram o mapa do Médio Oriente com um impacto como não há memória desde a Guerra dos 6 Dias em 1967.

O Estado Islâmico iniciou a sua escalada em duas frentes: Iraque e Síria. Mas foi nesta, no ambiente de caos e guerra civil, que começou a ganhar notoriedade internacional e a deixar as suas imagens de marca: eficiência e poderio militar, intransigência face a inimigos e teóricos aliados, brutalidade na afirmação desse poder e castigador impiedoso dos oponentes, dissidentes ou desobedientes.

Se na Síria foi o caos e a guerra que proporcionaram o ambiente para a afirmação do Estado Islâmico, no Iraque foi o governo sectário do Xiita Nouri Al-Maliki e as suas práticas discriminatórias e persecutórias dos Sunitas que proporcionaram o caldo político, social e mesmo militar para a ascensão do ISIL/Estado Islâmico e a criação do Califado.

Quais são, então, as proezas de Abu Bakr Al-Baghdadi que lhe valeram o titulo de “Man of the Year 2014” para Tempos Interessantes?

1- A criação de um Estado numa região onde nenhum é criado há 40 anos, feito que nem os Palestinianos conseguiram em quatro décadas de esforços.

2- Exercer controlo sobre um vasto território abrangendo o Nordeste e o Leste da Siria e o Oeste e parte do Norte do Iraque (ver “Estado Islâmico do Iraque Ocidental e da Síria Oriental” em http://tempos-interessantes.blogspot.pt/2014/06/estado-islamico-do-iraque-ocidental-e.html ), um território com uma dimensão aproximada da do Reino Unido que modificou, pelo menos por agora, o mapa politico do Médio Oriente: aquilo que o meu filho Afonso Duarte designou pela “mancha de café derramada no mapa do Médio Oriente”!


O Estado Islâmico: a “mancha de café derramada no mapa do Médio Oriente”.

3- Pôr em cheque, pela primeira vez num século, a herança de Sykes-Picot (ver “Sykes-Picot” em http://tempos-interessantes.blogspot.pt/2014/09/sykes-picot.html ), o desenho geopolítico do Médio Oriente traçado pelo Reino Unido e pela França em 1916, colocando em séria dúvida a integridade (que neste momento não existe) e a viabilidade futura do Iraque e da Síria.

4- Lançar a confusão e a insegurança nos principais actores geopolíticos do Médio Oriente: Irão, Arábia Saudita e Turquia. Teerão porque viu aumentada a ameaça à sua hegemonia e influência no Iraque e na Síria. Riyadh porque teme qualquer ameaça ao seu estatuto de liderança do Islão Sunita, bem como qualquer reedição da ameaça da Al-Qaeda na década passada. Ankara porque teme a desestabilização e o conflito nas suas fronteiras e o spillover do Estado Islâmico para o seu território e população.

5- Lançar um pânico irracional nas principais chancelarias ocidentais quanto ao seu impacto no presente e no futuro, fazendo do Estado Islâmico, no plano mediático, aquilo que foi a Al-Qaeda na década de 2000.

6- Provocar o mais timorato, temeroso e indeciso Presidente dos Estados Unidos desde James Carter para uma nova guerra no Médio Oriente, talvez a mais cruel ironia a abater-se sobre o pretenso “war terminator”.

7- Conquistar de forma fulminante, desbaratando o Exército Iraquiano, (ver “O Buraco Negro da 2ª Divisão” em http://tempos-interessantes.blogspot.pt/2014/06/buraco-negro-da-2-divisao.html) a cidade de Mosul, a segunda maior do Iraque. Mosul onde, no dia 4 de Julho, Abu Bakr Al-Baghdadi fez a sua primeira aparição pública após a sua entronização como Califa com a designação de Califa Ibrahim, vestido com a túnica negra dos Abássidas, na Grande Mesquita da Al-Nuri.



Abu Bakr Al-Baghdadi como Califa Ibrahim na Grande Mesquita Al-Nuri em Mosul.

8- Tornar o Estado Islâmico no maior magnete de combatentes jihadistas dos 5 continentes desde a Guerra do Afeganistão, mobilizando milhares para combater sob o estandarte negro.

O Estado Islâmico vai buscar a sua inspiração e ideário aos escritos originais de Maomé, a uma interpretação literal do Corão e aos tempos gloriosos do Califado Abássida (750-1258). Concomitantemente, Al-Baghdadi acredita na restauração do Califado dos Abássidas e das suas práticas, que incluíam acolher os muçulmanos puros (o que exclui os Xiitas) e os Cristãos e Judeus que se convertam, fujam ou se submetam. Os restantes são passados a fio de espada. As suas crenças incluem a profecia de Maomé que o Islão e os infiéis travariam uma grande e decisiva batalha no Norte da actual Síria, perto da Turquia.


Os Califados Islâmicos na Idade Média. O Califado Abássida, com capital em Bagdad e no qual o actual Califado parece inspirar-se, conheceu o seu apogeu em meados do século IX, dominando um contínuo territorial da Península Ibérica até à Pérsia.
in STRATFOR em www.stratfor.com

Fundado num distante passado medieval, o Califa Ibrahim e o Estado Islâmico vão estilhaçando o presente com uma mescla de métodos antigos e modernos e moldando um futuro incerto, mas certamente diferente do passado recente. Esse statu quo, o Estado Islâmico de Abu Bakr Al-Baghdadi, modificaram-no, provavelmente de forma permanente.

Certo é que Al-Baghdadi tem trabalhado bem para realizar a profecia de Maomé, velha de 13 séculos.



Posts anteriores com referências relevantes ao Estado Islâmico:

“ESTADO ISLÂMICO DO IRAQUE OCIDENTAL E DA SÍRIA ORIENTAL” em

“BURACOI NEGRO DA 2ª DIVISÃO” em

“AINDA O ESTADO ISLÂMICO” em

“ESTADO ISLÂMICO ≠AL-QAEDA” em
http://tempos-interessantes.blogspot.pt/2014/09/estado-islamico-al-qaeda.html

Pinguins




PINGUINS


Anteontem vi o filme “Penguins” com os meus 3 filhos, Afonso Duarte, Sofia e Sara. Tal como o “Fury” que vi umas semanas antes, o “Penguins” é cheio de acção e de combate. Os 4 pinguins formam uma equipa de acção altamente treinada e eficaz, mas tal como na em “Fury” e na realidade, conhecem dissabores e dor. Porém, as semelhanças acabam aí.




Em “Penguins” há um final feliz em que os bons são salvos, os maus punidos e os protagonistas terminam a voar alegremente em família.

Desejo-lhes, pois, um 2015 como o dos pinguins: longe das fúrias que se abatem sobre nós no dia a dia e mais perto da felicidade e da família!





O trailer de “Penguins”.