01 outubro, 2013

Assim Se Vê a Força do PC

 
ASSIM SE VÊ A FORÇA DO PC

 
Assim se vê a força do PC era um slogan gritado nas manifestações e comícios do PCP no tempo em que o Partido tinha um poder brutal na rua e nas empresas, tinha votações acima dos 15% e detinha mais de 50 câmaras municipais. Esses tempos não voltaram, mas lembrei-me deste slogan quando seguindo a noite eleitoral de Domingo ia ouvindo: PCP reconquista Alcácer do Sal, retoma Évora, volta a ganhar Beja e Vila Viçosa e Grândola e Loures. Veio-me à memória a ameaça/promessa de Odete Santos: “O Alentejo ainda será nosso outra vez!” Tinha razão. Já é.


A icónica bandeira vermelha com a foice e o martelo flutua em 34 câmaras municipais de Portugal.

O PCP é o grande vencedor das Autárquicas de 2013. Passou de 28 para 34 câmaras, incluindo concelhos importantes, como alguns do que referi. Além disso, foi o único partido que aumentou o nº de votos numa conjuntura de aumento da abstenção e do voto de protesto (brancos e nulos).


Quando conto a amigos estrangeiros a força eleitoral dos Comunistas em Portugal, somada à natureza ortodoxa do Partido, eles ficam, invariavelmente perplexos. Incrédulos mesmo. Mesmo naqueles países onde os respectivos PC’s tiveram peso e influência, como Itália, França, Espanha, Finlândia, após a Queda do Murro de Berlim e o colapso da União Soviética, estes partidos reformaram-se, mudaram (até de nome), esvaziaram-se e praticamente desapareceram.


Precisamente em 1992, na sequência da desintegração da URSS, um jornal de Guimarães, “O Povo de Guimarães”, com uma matriz acentuadamente de esquerda, fez um inquérito sobre o assunto, incluindo questões sobre o PCP, nomeadamente o que pensava sobre a opção de Álvaro Cunhal, contra a corrente da época, de manter inalterado o nome, programa, identidade e política do PCP. Sendo eu conotado com a “Direita”, ficaram surpreendidos por ter respondido que admirava a coerência e coragem dessa opção e que essa honestidade intelectual talvez desse frutos.


Et voilá. Volvidos 22 anos, o PCP é o único Partido Comunista com relevo na Europa Ocidental. As eleições de Domingo demonstraram a resiliência do PCP que, cada vez que parece estar em declínio irreversível, recupera, ganha votos e aumenta mandatos.


Continuo a estar a milhas do ideário do PC, mas reconheço aos seus militantes e apoiantes a capacidade de trabalho, de luta, de disciplina e de trabalho que permite que 11% dos votantes nele se revejam e votem. Para muitos, o PCP é a voz da resistência à opressão, da luta contra as injustiças, do apoio aos trabalhadores, da preocupação com os desfavorecidos. Tem implantação nacional, tem tradição autárquica onde exerce o poder, tem enorme influência no movimento sindical e capacidade de mobilização na rua.


Por tudo isso mais a crise dolorosa e a governação incompetente, o PCP ganhou, sem fantasmas internos, sem dissidentes, sem bicefalias acéfalas, sem tricas com os parceiros de coligação. Simplesmente ganhou mais 6 câmaras, mais 13.000 votos. 92 anos após a fundação, assim se vê a força do PC!


2 comentários:

Sérgio Lira disse...

Sem dúvida Rui. Se me perguntasses há 30 anos se eu imaginava possível um dia votar no PCP eu ter-te-ía respondido que NÃO, NUNCA, JAMAIS, EM TEMPO ALGUM!!! pois errado estava... não votei no PCP nestas eleições, mas poderia muito bem ter votado. E se as coisas continuarem da forma como vêm andando, isso acabarei por fazer - não sem violentar alguns princípios ideológicos que me custa quebrar... mas:

a) no PSD, neste PSD, não voto nem amarrado, nem sob tortura;

b) no PS (neste ou noutro qualquer) também não, que já fizeram pantominices (to say the least) para mais de um século (e porque têm lá o Lelo... se não fosse por mais nada, seria por isso, não se vota num partido que tem o Lelo!!!);

c) no CDS idem aspas na mesma data, pelo menos enquanto vigorar esta direcção - que eu não dou o meu voto a mentirosos, a saltapocinhas, a vira-casacas, a pessoas sem palavra - lamento muito, podem vir com as tretas estratégicas todas que quiserem: não voto nesse tipo de pessoa/partido (eu votei no CDS em função do seu programa - está escrito, não é treta de comício - no que respeita à fiscalidade e, PRINCIPALMENTE, para impedir a deriva "neo-liberal" que se adivinhava no PSD, moderando-a com democracia cristã [eu, que nem sou cristão!] - pois deu no que deu, e só se deixa enganar duas seguidas quem quer);

d) no BE não voto porque o BE não existe e se eu quiser dizer uns piropos não posso, e se eu quiser fumar uns charros não preciso deles para nada, ok? tá-se!;

f) ou seja, sobra o PCP... com quem não concordo na íntegra, mas que é honesto; que não me representará ideologicamente de forma completa, mas que é probo; que é anacrónico, mas eu também sou...

Se imagina isto possível há 30 anos? NÃO! mas é a dura realidade, criada por uma geração de canalha irresponsável, cretina, imbecil, calhorda, sanguessuga e, atrevo-me a dizê-lo, criminosa. Crime de lesa-Pátria para mim ainda é crime. Eu sei, sou anacrónico.

Rui Miguel Ribeiro disse...

Sérgio:

Revejo-me em quase tudo o que escreveste, mesmo em parte da análise que fazes do PCP. Mas não, não sou capaz de votar num Partido Comunista. Resta-me o voto de protesto, o voto branco...