THE FRIENDS OF SYRIA
A Síria, as suas principais cidades e os seus
vizinhos.
in STRATFOR em www.stratfor.com
Vejamos, então as
motivações dos amiguinhos da Síria.
Bem, na verdade, teremos de ser selectivos, porque o Grupo dos Friends of Syria
conta com 90 (noventa!!!) países e mais alguns territórios e organizações com
estatutos diversos. Não perdendo tempo com as motivações e a amizade de países
como o Belize, Timor Leste, Zâmbia, Honduras, ou Estónia, vamos escolher 6:
Turquia: A amizade turca pela Síria data dos
tempos em que esta foi, durante séculos, uma província do Império Otomano. Num
tempo em que a Turquia, na falta da hegemonia otomana, quer recuperar alguma da
influência perdida em 1918 e afirmar-se como uma potência regional, a Síria é
uma peça fundamental no xadrez de Ankara. Por um lado, trata-se da maior
fronteira da Turquia; por outro lado, sendo Damasco um aliado do Irão,
concorrente regional da Turquia, colocando a Síria na sua esfera de influência
é uma espécie de 2 em 1 para os Turcos: um ganho para eles e uma perda para Teerão.
Por outro lado, o problema curdo, que também existe na Síria, é suficiente
para soar campainhas de alarme na Turquia. Se dúvidas houvesse quanto à forma
como Ankara encara a Síria, basta recordar o MNE Turco, Davutoglu a dizer que a
Turquia “não toleraria” uma região autónoma curda dentro da Síria. Contudo, se
dúvidas houvesse quanto ao impacto actual das palavras de Davutoglu, recordemos
duas declarações de 2011:
Turkish Foreign Minister Ahmet Davutoglu told Syrian President Bashar al
Assad on Aug. 15 that all military operations must end "immediately and unconditionally,"
Reuters reported. Davutoglu warned al Assad that these were his final words to
Syrian authorities.
in Stratfor, 15 de Agosto de 2011
in Stratfor, 15 de Agosto de 2011
Turkey has given the Syrian regime its last opportunity to step down and
will not remain idle, Turkish Foreign Minister Ahmet Davutoglu said at a Nov.
15 news conference, Reuters reported.
in Stratfor, 15 de Novembro de 2011
in Stratfor, 15 de Novembro de 2011
Qatar: Este pequeno país (12.000km2 e 2.000.000 de
habitantes) é o novo dínamo político-diplomático do Médio Oriente. O seu
voluntarismo assenta no facto de ser um país gaseificado (2º exportador mundial de gás natural atrás da Rússia e
à frente da Noruega) e com vontade de ter um protagonismo bem superior à sua
dimensão. O Qatar liderou o apoio aos rebeldes na Líbia, apoia a Irmandade
Muçulmana no Egipto e também esteve e está na linha da frente na Síria, sendo
um dos maiores opositores do regime. Também apoia os rebeldes com armas. A sua
agenda passa por fomentar regimes islâmicos moderados, mas a agenda doméstica é
diferentes, onde a preponderância do sultão não é posta em causa.
Arábia Saudita: A agenda saudita para a Síria é
simples e passa pelo derrube de Al Assad e pelo terminus da aliança síria com o
Irão. Como a Arábia Saudita nutre grande desconfiança pela Irmandade Muçulmana,
apoiada pela Turquia e Qatar, prefere apoiar grupos islamitas salafistas e
jihadistas que, diga-se, têm sido os mais eficazes no combate ao regime de
Damasco.
Estados Unidos: Desde o Verão de 2011 que Obama e
Clinton repetem o slogan “Assad must go”. O certo é que, volvidos 25 meses do
início das hostilidades, Bashar Al Assad ainda não foi. Os EUA têm resistido e
bem a intervir na Síria, mas Obama dá mostras de estar a ceder ao lobby
intervencionista. Os EUA querem que Assad vá e que venha um regime secularista,
democrático e inclusivo. Ora isso não está nas cartas. A oposição síria é uma
amálgama incoerente e pouco unida de adeptos da Irmandade, de salafistas de
jihadistas da Al Qaeda, de curdos e de secularistas. Se Washington decidir
enviar armamento sofisticado não sabe ao certo quem o vai manusear e com que
fins. Se intervier directamente, estará a meter-se num vespeiro.
França e Reino Unido: A exemplo do que sucedeu na Líbia,
estes dois países defendem uma postura pró-activa na Síria, especialmente a
França que continua a sonhar com um papel relevante e influente no Levante. As
incógnitas e os riscos referidos para os EUA são aplicáveis a Paris e a
Londres: riscos muitos; perspectiva de ganhos: poucos. Aliás, o que estes três
países mais podem realisticamente ambicionar é acabar com o eixo
Damasco-Teerão. Isso seria bom, mas tal pode ser alcançado com um regime
islâmico mais radical, o que teria, também, os seus custos.
Os ditos amigos da Síria são, na
verdade, amigos da facção da oposição síria que mais agrada a cada um deles. A
maioria dos amigos da Síria não faz
ideia como melhor expressar essa amizade.
E todos os amigos com alguma
relevância tem a sua agenda própria que tem pouco ou nada a ver com os Sírios.
É a Real Politik. Veremos quem a pratica com mais competência.
P.S. Sim, Portugal também faz parte dos Friends of Syria. Inclusive, há cerca de
um ano atrás, o MNE Paulo Portas participava em reuniões internacionais sobre a
Síria e fazia discursos inflamados contra o algoz de Damasco e a violação dos
direitos humanos. Entretanto, tem andado atarefado com um algoz no próprio
governo e com outros atropelos aos direitos dos cidadãos. E o diabo no meio de nós
é sempre o pior.
P.P.S. O Irão, a Rússia e a China também são
amigos da Síria. Só que são amigos da outra Síria, da Síria dos Alawitas e de
Al Assad. Abordaremos esse lado da história proximamente.
P.P.P.S. Sim, ainda há Israel. É um caso mais
claro: não é amigo de ninguém e não tem amigos na Síria. O que não significa
que não tenha preferências….
1 comentário:
Caro Professor.
Dentro daquilo, a que nos habituou, isto é: análise brilhante e pragmática.
Obrigado!
Um abraço
Nuno Caiano
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