28 abril, 2013

O "Modelo" Tsarnaev

BOSTON E O “MODELO” TSARNAEV

 
Uma das duas explosões na Maratona de Boston.


Oito anos após os atentados de Londres, um atentado terrorista de grande impacto mediático voltou a ocorrer no Ocidente. E digo “mediático” porque ao nível das vítimas mortais, as 3 de Boston ficam, felizmente, muito aquém das 2900 de New York, das 200 de Madrid e das 50 de Londres. Não obstante, o ataque não deixou de ser um sucesso do ponto de vista dos terroristas dado o referido impacto mediático, e a comoção e medo por ele gerados.

O atentado de Boston é o primeiro sucesso significativo de um modelo de terrorismo que vem sendo ensaiado pela Al Qaeda há alguns anos, designado por grassroots terrorism e/ou lonewolf attacks, que poderíamos traduzir como terrorismo doméstico e ataques de lobos solitários, respectivamente.

A razão de ser desta táctica, particularmente incentivada pela Al Qaeda para a Península Arábica baseada no Iémen, é a de que os sistemas de segurança no Ocidente são mais sofisticados, informados e omnipresentes do que há 12 anos atrás, pelo que o envio de terroristas profissionais e treinados a partir da Ásia do Sul ou do Médio Oriente, para desencadear mega-atentados como os de 11 de Setembro, é cada vez mais complicado.

Assim sendo, a maneira mais eficaz de continuar a atingir os EUA e a Europa com atentados, será recorrendo a muçulmanos residentes nos países-alvo, doutrinados no islamismo radical e imbuídos do espírito jihadista da Al Qaeda. Estes indivíduos, não referenciados pelos serviços de segurança, poderão levar a cabo atentados mais rudimentares e menos eficazes, mas manter a pressão sobre o Ocidente, dificultando o trabalho das polícias, porque o leque de potenciais atacantes torna-se muito mais vasto.


Curiosamente, Osama Bin-Laden não subscrevia esta metodologia, continuando a insistir que os seus seguidores produzissem novos 9/11. Sem resultado, como se sabe. Mas agora Bin-Laden está morto, a Al Qaeda central no Afeganistão e Paquistão está acossada e escondida e são alguns dos seus franchises que dão cartas na actualidade.

Muitos dos anteriores candidatos a terroristas falharam por incompetência, por acção dos serviços de segurança, por ambição desmedida na selecção dos alvos ou da tipologia dos ataques e alguns, como o underwear bomber, por falta de sorte.

Em Maio de 2010, na 1ª edição da “Inspire”, uma revista em língua inglesa online publicada pela Al Qaeda na Península Arábica, um dos seus membros, Adam Gadahn escreveu um artigo intitulado "A Call to Arms," em que aconselha os lonewolves a seguir três critérios na escolha de um alvo a atacar:

        A target with which they are well acquainted.

        A target that is feasible to hit

        A target that, when struck, will have a major impact.


Os irmãos Tsarnaev cumpriram os 3 requisitos e o resultado está à vista. O sucesso que os irmãos Tsarnaev tiveram no atentado da Maratona de Boston poderá constituir uma lição e um incentivo para outros grassroots terrorists ou lonewolves. A partir de agora, outros jihadistas podem ler as instruções teóricas da “Inspire” e inspirar-se na lição prática dos Tsarnaev. O “Modelo” Tsarnaev não augura nada de bom….


O resultado do ataque: as vítimas e o horror.

4 comentários:

Sérgio Lira disse...

Isso, Rui, se foi mesmo um atentado terrorista. Há algumas fotos contraditórias (por exemplo no que respeita à cor e ao formato da mochila, ou à forma de a carregar, ao resultado da explusão na própria mochila, ou aos bonés usados...). Todo o "drama" da morte do primeiro e da captura do segundo está, no mínimo, muito mal contado; as entradas ad hoc, sem lei nem mandato, em dezenas de casas particulares (justificadas pela "emergência" - como em Portugal td parece justificar-se pela emergência: suspende-se a Lei, as forças do poder actuam ilegalmente, etc.; parece uma epidemia de emergências...) também ficam por explicar cabalmente. Como nos casos do 11 de Setembro há coisas demais mal contadas e demasiados detalhes totalmente inconsistentes. Como na maior parte dos filmes americanos acerca destes temas (há um com bombas numa maratona...) o guoinista e os anotadores são de 2ª linha.

freitas pereira disse...

Todo atentado terrorista merece repudio, onde quer que seja. Tanto estes como os praticados pelos Estados. Porque o terrorimo de Estado também existe. O Sr. Sergio Lira deve saber que o Patriotic Act de Bush, que permite uma acçao larga da policia, mesmo em contradicçao com os direiros do homem continua em vigor.

O que me parece excessivo é o impacto internacional deste atentado, sempre lamentàvel, quando ao mesmo tempo uma acçao dum drone no Afganistao "limpou" toda uma familia de 5 crianças com os pais. Ninguém fala disso!! Estes dois pesos e duas medidas revoltam-me tanto como o atentado de Boston.

Mas também é vertade que nos EUA um mexicano e um negro nao "pesam" tanto como um WASP !

Resta que a existência de Al Qaida ou os seus alunos ou franchises constitui um problema de segurança onde quer que seja, no Magreb, no Sahel e "elsewhere" !

Também nao compreendi que o FBI e a CIA nao tivessem explorado melhor as informaçoes do Putin ! E este vai aproveitar para continuar a fazer contas com os Chéchénes do Caucaso.

PS) Peço desculpa para a ortografia mas escrevo no TGV de Paris num "notebook" ultrapasdsado !

Rui Miguel Ribeiro disse...

Sérgio,
Não sou grande adepto de teorias da conspiração... No entanto é verdade que desde o 9/11 foram cometidos abusos e exageros, mas em situações de verdadeira ameaça e emergência (não confundir com as caseiras) há sempre o risco de resvalar.

Rui Miguel Ribeiro disse...

Sr. Freitas Pereira,
Esse é um problema de complicada resolução. O terrorismo não vive sem os media que têm um efeito multiplicador do impacto do atentado, disseminando a comoção e o medo. Por um lado é preciso informar, por outro lado, os media actuais vivem numa histeria informativa, divulgando pequenos eventos ad nauseam, constituindo um incentivo-extra para os terroristas.
Quanto ao impacto diferente consoante a nacionalidade das vítimas, isso foi sempre assim: penaliza-nos mais a morte de 2 vizinhos do que de 20 desconhecidos a 10.000km de distãncia.
Finalmente a questão do FBI e da CIA, parece que mais do FBI, é difícil compreender, embora as ameaças, os suspeitos, as pistas sejam tantos, que deve ser uma tarefa hercúlea to make perfect sense of all that.