INSULTO GRATUITO
As generalizações podem ser perigosas e injustas. Esta é, além
do mais, grosseira pelo conteúdo e surpreendente pela origem.
Em entrevista ao Diário de Notícias de 07/06/06, Maria Filomena
Mónica declara que “Os Deputados são preguiçosos, incultos e eleitos de forma
errada.”
Curiosamente, compara os actuais deputados e sistema eleitoral
com os do século XIX, preferindo estes. Não sou um expert como Maria Filomena
Mónica (MFM), mas sei que muita da actividade parlamentar oitocentista se pautava
por uma retórica gongórica inconsequente e que muitos dos círculos uninominais
eram controlados por caciques locais.
Quanto às acusações aos Deputados actuais, revelam ignorância,
má fé, má educação e arrogância. Fui Deputado durante 3 anos, mas em relação à
qualidade dos Deputados, limitei-me a confirmar o que já pensava: como em todos
os meios sócio-profissionais, há os bons, os médios e os medíocres. Há
Deputados cultos, competentes, empenhados e esforçados e que fazem o melhor que
o sistema político-partidário lhes permite. É lamentável que uma investigadora
e universitária, alinhe no coro populista e demagógico que desqualifica a
praxis política e os seus agentes, como se estes fossem uma selecção dos
piores.
No que respeita o sistema eleitoral, parece partilhar da
ingenuidade de acreditar na panaceia dos círculos uninominais. Como se tal
impedisse a escolha dos candidatos pelas máquinas partidárias (ou pelos
caciques locais) e como se esses deputados, com os poderes que,
individualmente, detêm, pudessem decidir, fazer, ou executar promessas
eleitorais referentes ao seu círculo eleitoral.
O sistema precisa de alterações e melhorias, mas as ideias sobre
as quais se possa fazer uma boa reforma não irão, concerteza, surgir da
ignorância, da arrogância, ou do insulto gratuito.
3 comentários:
A questão dos ciclos uninominais merece atenção. É verdade que as máquinas partidárias podem dominar, como o fazem agora. Mas também há mais possibilidades de listas independentes vingarem. E, acima de tudo: i) aumenta a responsabilização dos eleitos, que têm o pescoço sob o cutelo; ii) aumenta a identificação (ou faltap dela) dos representados, por saberem quem os representa.
Por exemplo, eu não faço ideia quem é o número 2 pelo Porto no PSD e no PS (também pouco me interessa porque não embarco nessas naus...).
PVM
É pena que alguem com a formaçao academica como essa senhora tem pense dessa forma e a exponha dessa maneira, já que a sua função seria a de ajudar na formação e evolução de todos os portugueses. Como estudante, estagiei na Assembleia da República e deparei-me com todos os cenários, e o certo, é que há de tudo um pouco, mas na minha opinião, o povo português tem o parlamento que quer ter. Ou seja, eu deparo-me todos os dias com a falta de interesse, crescente, por parte de todas as pessoas, quer na politica, quer na economia, quer no panorama internacional...realidade trite esta, a de Portugal. Agora, alguem me explique por que razão temos de ouvir criticas, em vez de atitudes? E na minha visão, a grande mudança depende do povo...da sua maior participaçao nos actos eleitorais e, até nos debates parlamentares...antes de criticar, por favor participem e aí já poderão exigir tudo!
É verdade que a crise do regime democrático resulta de um círculo vicioso: as pessoas sentem-se mal representadas e queixam-se dos políticos, mas alheiam-se da política e o statu quo perpetua-se. Como pode haver tanta gente revoltada com o alegado incumprimento sistemático das promessas eleitorais e depois se vota sempre nos mesmos? E o problema não é só português: por toda a Europa Ocidental, são quase sempre os mesmos dois ou três partidos que alternada ou cumulativamente ocupam o poder.
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