04 junho, 2006

Cavaco Silva, 1 - Maioria de Esquerda, 0

 
 
CAVACO SILVA, 1 – MAIORIA DE ESQUERDA, 0

O Presidente da República devolveu ao Parlamento a lei sobre a paridade entre os géneros (que tinha como medida mais controversa a imposição de um mínimo de 33% de candidatos de qualquer um dos dois sexos nas listas candidatas à Assembleia da República, ou aos órgãos municipais.

Se não tivesse votado no Prof. Cavaco Silva com convicção, estaria agora a começar a dar por bem empregue o meu voto. Este Governo de esquerda reciclada, para disfarçar políticas económicas e sociais pouco socialistas (exceptuando o aumento da carga fiscal), tenta esquerdizar-se no plano dos costumes, esperando manter satisfeito certo eleitorado mais ideologicamente marcado e sensível às medidas sociais de natureza fracturante, para recorrer à fórmula de um antigo Secretário-Geral da JS.

As quotas para as mulheres na política são uma temática já antiga, que colhe bastantes apoios na vanguarda intelectual estabelecida na capital e não tem custos (orçamentais). Infelizmente para o PS e para Portugal, é uma má ideia: em primeiro lugar, as mulheres já são claramente maioritárias em áreas vitais como a frequência do ensino superior e ocupam lugares que poucos imaginariam há 20 anos atrás, tudo indicando que este é um trend sustentado que nos permite supor que a esfera política também irá mudar nesta área; em segundo lugar, porque as quotas lançariam um manto de suspeita de falta de mérito por parte de mulheres que hoje em dia ascendem na carreira e ocupam cargos importantes em função do seu valor técnico-profissional e não porque lhes foi disponibilizada uma benesse legal; em terceiro lugar, porque o Estado tem de permitir que as pessoas e as organizações respirem e tenham margem de manobra para evoluir dentro dos seus ritmos, capacidades e necessidades em vez de se imiscuir de forma sufocante na nossa vida diária.

Foi bom ver um Presidente da República a agir sem estar condicionado a preocupações com o politicamente correcto e a actuar fora das balizas ideológicas de uma certa esquerda cujo prazo de validade já terminou, mas que mantém o seu acesso privilegiado ao espaço mediático. A bem da política e do país, espero que o Parlamento reflicta bem sobre o destino a dar a esta embrulhada que, nem sequer responde a nenhum dos principais preocupações dos Portugueses.


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