22 julho, 2013

Os Irrevogáveis

OS IRREVOGÁVEIS

 
A Gália de Goscinny e Uderzo tinha os Irredutíveis Gauleses que se alimentavam a poção mágica e javali e cujos expoentes máximos eram Astérix e Obélix. Com eles, Roma nunca conseguiu dominar toda a Gália.


Portugal de 2013 tem os Irrevogáveis, que não têm poção mágica, não caçam javalis, nem parecem fazer nada de útil. Com eles, Berlim domina completamente a Lusitânia.


OS IRREVOGÁVEIS:


Cavaco Silva assumiu-se como um irrevogável anti-democrata. O inefável Presidente quer que os 3 maiores partidos atinjam consensos, voluntariamente ou por imposição. Reitero que, para Cavaco a assunção de projectos diferentes e de soluções alternativas é um anátema (ver os pontos 3 e 4 dos Contras em http://tempos-interessantes.blogspot.pt/2013/07/cavaco-silva-out-of-box.html). Para ele e para a legião de comentadores do establishment, os eleitores deviam escolher entre três partidos que apresentam o mesmo programa. Não tarda, defenderão um partido único. A irrevogável intolerância também se fez sentir nas Selvagens, de onde Cavaco disparou contra aqueles que se opunham a um acordo e que trabalhariam para o evitar, como se tal fosse uma ignomínia. Pois então ousavam contrariar o PR? Finalmente, teve o dislate de dizer que o facto de os partidos terem participado em negociações prova que concordam com a solução que propôs, quando na realidade todos entraram contrariados no processo negocial e só a ele aderiram porque foram praticamente obrigados. Cavaco Silva fez too little too late e agora fica irrevogavelmente amarrado a um Governo que amparou para além do razoável durante dois anos e no qual já não confia.


Passos Coelho é um irrevogável agarrado ao poder. O homem preside a um governo que falha metas e projecções a um ritmo e dimensão alucinantes, demonstra uma total indiferença para com os seus concidadãos, somada a um servilismo perante a Alemanha, é odiado e desprezado por milhões de Portugueses, é desrespeitado por dois sucessivos nº 2 do Governo, mas recusa demitir-se. Abespinha-se perante a possibilidade de lhe roubarem um ano de poder. E mantém a desfaçatez de garantir em pleno Parlamento que tudo corre bem. Coelho é, como político, como governante e como pessoa, uma nódoa. Daquelas que não saem. É irrevogável.


Paulo Portas é o pai da irrevogabilidade. A sua demissão “irrevogável” vai ficar nos anais como o “Nem que Cristo desça à Terra!” de Marcelo Rebelo de Sousa. Como já foi defendido no Tempos Interessantes, (ver http://tempos-interessantes.blogspot.pt/2013/01/a-encruzilhadaalhada-do-cds.html e também http://tempos-interessantes.blogspot.pt/2013/07/portas-da-passos-para-sair-passos-leva.html) Portas viu uma janela de oportunidade para saltar do Governo, ver-se livre da inépcia petulante de Coelho e começar a preparar 2015 correndo por fora. Na ânsia de sair, Portas sobrestimou o carneirismo do seu rebanho. Para além das pressões externas que terá recebido, foi na resistência à demissão no próprio CDS que a irrevogabilidade começou a ser revogada. O obstinado apego ao poder de Coelho e as manobras de Cavaco fizeram o resto. Além dos custos da governação desastrosa e da crise, Portas terá de lidar com o desgaste causado por este flip-flop. O poder acrescido que terá no Governo será a oportunidade de tentar recuperar imagem e credibilidade. Porém, da forma que as coisas estão, mesmo sendo o membro do Governo politicamente mais talentoso, o mais provável é que Portas se afunde com o Titanic. Irrevogavelmente.


António José Seguro é o anti-Irrevogáveis. É contra a irrevogabilidade do Governo, contra a irrevogabilidade homogeneizadora de Cavaco, e contra a irrevogabilidade da austeridade de Passos Coelho. Também percebemos que está irrevogavelmente condicionado pelos dinossauros do PS com Soares à cabeça. Seguro saiu da crise mais seguro do que estava no plano interno, mas ontem ficou a saber que Cavaco vai voltar à carga com os consensos e compromissos e não é líquido que o instinto de sobrevivência que teve desta feita o salve do suicídio político na próxima. Embora tenha afastado no último ano a imagem inicial de tibieza, o país ainda não encara Seguro com a confiança de quem olha para uma alternativa válida. Esse é o drama de Seguro: entre as pressões da Troika, as dramatizações do Governo, os consensos do Presidente, algum condicionamento dentro do PS e as desconfianças de um eleitorado saturado de trapaceiros, é um inseguro irrevogável.


Continuaremos a nossa marcha colectiva nominalmente sob a liderança destes 4 Irrevogáveis. Irrevogavelmente certos das respectivas bondades políticas por entre as florestas de erros crassos que vão cometendo, não surpreende que para muitos Portugueses estejamos condenados a um irrevogável declínio.

21 julho, 2013

Justiça e Racismo

JUSTIÇA E RACISMO

 

Os Estados Unidos vivem dias de agitação inflamada por causa do veredicto do caso Trayvon Martin – George Zimmerman, julgamento da morte daquele por este. Como é sabido, o tribunal inocentou Zimmerman que terá actuado em legítima defesa. A acusação não conseguiu provar o contrário.

A reacção de vários políticos, media e organizações não-governamentais saíram a público fazendo declarações espantosas e promovendo manifestações e fazendo pressão para que o inocentado fosse considerado culpado.

Um deles foi o lamentável Barack Obama com duas declarações: “If I had a son, he’d look like Trayvon,” (in Washington Post em http://www.washingtonpost.com/opinions/charles-krauthammer-the-zimmerman-case--a-touch-of-sanity/2013/07/18/35f30c00-efdd-11e2-a1f9-ea873b7e0424_print.html) e mais tarde: “Trayvon Martin could have been me 35 years ago,” (in Washington Post em http://www.washingtonpost.com/blogs/post-politics/wp/2013/07/19/obama-on-trayvon-martin-historical-context-important/?wpisrc=nl_pmpol), intervenções que, intencionalmente ou desastradamente, questionam uma decisão judicial contra a qual não se conseguiu suscitar objecções substantivas.

A realidade que subjaz ao furor à volta da sentença é a do preconceito racial. Grande parte da comunidade negra norte-americana acredita e/ou foi levada a acreditar que Zimmerman foi absolvido por ser branco e por a vítima ser negra e nada os convencerá do contrário, da mesma forma que não se manifestariam se os papéis fossem invertidos.

Infelizmente, as estatísticas do crime mostram que, por exemplo, em New York, 78% dos suspeitos em incidentes envolvendo armas de fogo são negros, dos quais, a esmagadora maioria jovens e do sexo masculino. Ora isto não é racismo, é um facto estatístico. Que pode ter muitas explicações sociais, económicas, ou políticas, mas quando se trata de combater o crime, ou de fazer criminal profiling, os motivos profundos não são relevantes, as probabilidades são.

O mais lamentável, para além da vida que se perdeu, é o aproveitamento que personalidades incendiárias e oportunistas como Al Sharpton fazem do sucedido, tentando crucificar em praça pública quem foi inocentado num processo judicial legítimo. Também é lamentável que uma televisão como a NBC adultere factos de forma deliberada para “realçar a tensão racial da hsitória” (in Expresso em http://expresso.sapo.pt/nbc-acusada-de-fabricar-racismo-de-george-zimmerman=f820575). Inaceitável é haver responsáveis políticos que afirmem que Zimmerman é um criminoso, quando acaba de ser considerado inocente por um tribunal. E não estamos a falar de um mafioso que eliminou testemunhas e subornou polícias para não ser condenado.

As pessoas que se promovem através de uma campanha de ódio, assente em falsos racismos estão a pôr em cheque a possibilidade de Zimmerman levar uma vida normal. Estarão mesmo a pôr a sua vida em risco. Mas para esses, se Zimmerman vier a ser abatido, talvez tenha pouco importância: afinal ele é apenas um branco.

20 julho, 2013

Síria: A Guerra Está Para Durar

SÍRIA: A GUERRA ESTÁ PARA DURAR

Os principais palcos da Guerra Civil na Síria no Verão de 2013. Pode-se ver a cidade de Al-Qusayr junto à fronteira nordeste do Líbano com a Síria.

in STRATFOR at http://www.stratfor.com   

Ao contrário das expectativas publicitadas por várias potências regionais e mundiais e pelo media internacionais, o regime de Bashar Al Assad não se desmoronou durante o ano de 2011 (a revolta na Síria começou em Março de 2011). Tampouco foi derrotado, ou implodiu em 2012. Em 2013, o regime de Damasco tem estado ao ataque registando vários sucessos militares significativos. Por outro lado, os rebeldes, apesar de contarem com os EUA entre os novos fornecedores de armas, encontram-se mais divididos e fragilizados.

Durante o primeiro ano da Guerra Civil, o governo alawita conheceu bastantes reveses, perdas de território, atentados de grande gravidade e deserções significativas. 2012 foi o ano de estancar a hemorragia, estabilizar a situação e registar alguns ganhos (e perdas). Já 2013 tem corrido bem a Al Assad: o grande momento das forças armadas sírias foi a reconquista da cidade de Al-Qusayr, importante nó rodoviário, estratégico no controle das comunicações entre Damasco e Alepo (a 2ª cidade da Síria) e entre a capital a zona costeira, berço dos Alawitas e ainda entre a Síria e o norte do Líbano.

A partir daí, o Governo Sírio intensificou a ofensiva na província de Homs, onde os rebeldes têm estado sob pressão e em muitos casos reduzidos a bolsas de resistência isoladas. Concomitantemente, o exército sírio e respectivos aliados para-militares preparam já o assalto a Alepo, que se imagina será desencadeado em força quando Homs estiver totalmente sob controle do regime.

Estes sucessos serão atribuíveis a três factores:

1- Depois da hemorragia de 2011, o regime e o exército reorganizaram-se, adaptaram-se ao novo combate que enfrentavam, apresentaram-se com renovada coesão e moral e arregimentaram novas forças (irregulares) para reforçar a sua capacidade de combate. Tais realidades tenderão a reforçar-se com os sucessos militares no terreno.

2- O apoio do Hezbollah no terreno constituiu um reforço assinalável, nomeadamente na reconquista de Al-Qusayr, onde participaram activamente entre 6.000 a 8.000 tropas da milícia xiita libanesa. Este reforço é particularmente relevante dado que se trata de tropas treinadas e bem armadas, capazes de integrar de pronto e em pleno o esforço de guerra.

3- A continuação dos apoios do Irão e da Rússia. O Irão fornece financiamento, fuel, treino, armamento e talvez algumas unidades de forças especiais. A Rússia fornece protecção internacional, nomeadamente na ONU, armamento e munições e formadores para o manuseamento de algum equipamento mais sofisticado.

4- A perda de fôlego dos rebeldes, motivado pela recuperação militar e anímica das tropas governamentais, pela décalage de equipamento em relação ao inimigo e por fracturas cada vez mais notórias entre a miríade de facções que os compõem. As últimas semanas têm sido preenchidas com relatos de ataques e atentados de forças jihadistas contra membros supostamente seculares dos rebeldes, protagonizados pela Al Qaeda para o Iraque e o Levante. Não é difícil perceber o efeito que terá nos combates se grupos rebeldes, além de enfrentarem as forças governamentais, também tiverem de se bater contra os seus aliados/inimigos.

Assiste-se, pois, a dois movimentos convergentes: o fortalecimento militar do governo sírio e o enfraquecimento dos rebeldes. Pensamos que o desenlace da batalha pela posse de Alepo será vital no desenho da evolução do conflito a curto-médio prazo. O governo tentou tomar posse da totalidade da cidade há um ano atrás e não conseguiu. A tarefa não se afigura nada fácil, apesar de a preparação estar a ser mais cuidada.

Por outro lado, os rebeldes resistirão até ao limite, cientes de que novo fracasso de grande dimensão faria recuar as suas pretensões de forma potencialmente duradoura e provocar estragos na moral e coesão (que já não é muita) de forma devastadora.

Nada está ainda decidido. Tal como regime não estava liquidado há 18 meses atrás, também agora os rebeldes não estão fora de combate. É aliás minha convicção que o combate por Alepo será inconclusivo e que chegaremos ao final de 2013 com a guerra num impasse. Certo é, que Al Assad está agora melhor do que já esteve e que os rebeldes se encontram na posição contrária.
P.S. Uma pequena provocação extra-post: Qual o governo que durará mais tempo? O de Al Assad, ou o de Passos Coelho? Vai uma aposta?

12 julho, 2013

Cavaco Silva Out of the Box

CAVACO SILVA OUT OF THE BOX

 
Cavaco Silva conseguiu surpreender toda a gente na sua comunicação ao país sobre a crise política em Portugal. Eu, como a maioria das pessoas, pensava que ele iria, mais uma vez, dar luz verde e carta-branca ao Governo, abençoando a segunda proposta apresentada por Passos Coelho, que previa a manutenção de Portas no governo e uma reestruturação da orgânica, dos poderes e dos nomes do governo.

Em vez disso, Cavaco Silva encontrou uma fórmula que não agradou a Gregos nem a Troianos. Aliás não agradou a PSD e CDS porque chumbou a proposta conjunta; não agradou a PS, PCP e BE porque vetou eleições imediatas.

Quais são os prós e contras da iniciativa do Presidente?

PRÓS

1- Cavaco Silva pensou out of the box, qualidade que se pensava já não ter. Não se resignou ao óbvio, não se submeteu à coligação e apresentou um caminho alternativo.
 
2- Cavaco Silva conseguiu de uma assentada entalar os 3 partidos que, de formas, em graus e em tempos diferentes são os responsáveis pelo estado catastrófico a que Portugal chegou.
 
3- Cavaco Silva mostrou um cartão vermelho a prazo ao Governo. Sim, ao colocar um prazo de validade de um ano e apenas por causa da duração do resgaste até essa data, Cavaco colocou um rótulo de desconfiança sobre o Governo. É mais do que merecido. A incompetência irrevogável de Passos Coelho e os malabarismos de Portas não lhe deixaram alternativa. Acredito que o tenha feito contrafeito tendo em conta o apoio incondicional que foi dando ao Governo. Mas até Cavaco se encheu. É obra!

CONTRAS

1- Cavaco Silva menorizou e criticou as eleições como forma de resolução do problema. Não o deve fazer porque, para o melhor e para o pior, é o exercício mais nobre em Democracia.
 
2- Cavaco Silva sobrevalorizou as reacções dos mercados e ainda por cima o seu discurso provocou um impacto semelhante nos juros da dívida soberana ao da demissão de Paulo Portas. Aqui não há volta a dar. Cavaco Silva enferma do mesmo mal que Sócrates, Coelho e Portas: tem terror da Troika, é incapaz de assumir uma atitude de firmeza perante ela e tem uma visão ajoelhada do interesse nacional.
 
3- O horror ao confronto político. Cavaco, talvez ainda estacionado nas suas mega-maiorias de 1987 e 1991, não aceita que o confronto, a divergência e a diferença são ingredientes incontornáveis da Democracia. A sua insistência num consenso à volta de políticas que provocam revolta na maioria da população é uma aberração. Mesmo apreciada por muitos comentadores do establishment, não deixa de ser isso mesmo: uma aberração.
 
4- A proposta/exigência de um entendimento macro-político entre PSD, PS e CDS para o período 2013-2017 é um atentado à Democracia. A Democracia requer alternativas (que é diferente de alternância). Se a intenção de Cavaco vingar, teremos em Julho de 2014 os 3 maiores partidos a concorrerem com uma plataforma comum, reduzindo os eleitores descontentes com ela a optarem entre o PCP, o BE, o MRPP, o PPM, alguns grupúsculos, ou o voto branco ou nulo. Muito mau.
 
5- Se a proposta de Cavaco vingar, teremos estrada livre para a ascensão de projectos de índole totalitária em 2014 e mais além. O descontentamento generalizado não vai desaparecer por obra e graça do Mega Bloco Central e o PS deixará de canalizar parte desse descontentamento. Restam o alheamento (abstenção), o protesto (brancos e nulos) e a extrema-esquerda (PCP e BE), que será a grande vencedora.

Resumindo, a proposta de Cavaco não foi tão má quanto pensei, mas mesmo assim é má. Os contras superam largamente os benefícios e não me refiro à quantidade (5-3), mas sim à bondade destes versus a gravidade daqueles. Resta ainda saber a resposta à million Dollar question: qual é o Plano B de Cavaco Silva?

Talvez nunca venhamos saber. Certo, certo é que estamos nas mãos de Cavaco Silva, Passos Coelho, Paulo Portas e António José Seguro. Isso é, só por si, muito deprimente.

04 julho, 2013

Cavaco e Morsi: Diferenças e Semelhanças

CAVACO E MORSI:
DIFERENÇAS E SEMELHANÇAS

 
Aníbal Cavaco Silva é Presidente da República de Portugal desde 2006. Mohammed Morsi foi Presidente da República do Egipto do Verão do ano passado até…ontem. Pelo conjunto de valores, crenças e convicções, pelo país, pela idade, pelo percurso político, nada parece aproximá-los, excepto o facto de serem ou terem sido Chefes de Estado. A realidade pode não ser assim tão linear. Senão vejamos:


DIFERENÇAS:

* Cavaco é Presidente há 7 anos e ninguém o tira de lá. Morsi foi Presidente 1 ano, findo o qual foi corrido e detido.


* Cavaco pouco fala e vê a banda passar. Morsi despediu, demitiu, mudou, ameaçou, angariou poder, fez mudanças.


* Cavaco pede a continuidade da política governativa, enquanto o país ruge por mudança. Morsi exige a sua continuidade do país, enquanto milhões de Egípcios se revoltam exigindo que se vá embora.

 
SEMELHANÇAS:

* Cavaco dá posse a uma senhora no cargo de ministro das finanças que substituia o demissionário nº 2 do Governo, sem saber que o novo nº 2 também se demitira horas antes. Morsi discursa anunciando que vai instruir as forças militares e de segurança para repor a ordem no país, sem saber que estas já arquitectaram o seu derrube.


* Cavaco pede estabilidade e entendimento aos partidos e vê o líder do PS, após uma audiência com ele, proclamar a necessidade de novas eleições já com data sugerida. Morsi recebe uma nota do Comando das Forças Armadas a informá-lo que já não é Presidente.


* Cavaco pede estabilidade governativa e consenso entre os partidos. Temos instabilidade governativa, partidos que não se entendem nem se querem entender e forças sociais desavindas.


* Morsi rejeitava o que achava que era um bluff do exército, afirmava a estabilidade do seu poder e o apoio e legitimidade populares.


Enfim, a maior semelhança entre eles é que nem Cavaco, nem Morsi estão sintonizados com os respectivos povos, nem um nem outro promove as pretensões populares e ambos são surdos aos sinais que lhes chegam da sociedade.


O resultado é que Cavaco é recebido com vaias e insultos em muitos dos sítios onde se desloca e Morsi saiu do palácio presidencial a toque de baioneta.


Vale a Cavaco as diferenças entre Portugal e o Egipto: enquanto Cavaco sofre uns quantos enxovalhos, Morsi não sabe sequer qual vai ser o seu destino.

Portas Dá Passos Para sair, Passos Leva com a Porta na Cara

 PORTAS DÁ PASSOS PARA SAIR


PASSOS LEVA COM A PORTA NA CARA

E a tragicomédia continua. Farto de ver Passos a tirar-lhe o tapete e a ignorá-lo, Portas decidiu dar-lhe com a porta na cara.

 
É com indisfarçável satisfação que verifico que o cenário apontado em Tempos Interessantes no primeiro post deste ano, “A Encruzilhada/Alhada do CDS” publicado a 3 de Janeiro, se concretizou anteontem. Sugiro a sua rápida leitura em http://tempos-interessantes.blogspot.pt/2013/01/a-encruzilhadaalhada-do-cds.html. Reproduzo o penúltimo parágrafo desse post:

 
Penso que a saída do CDS do governo dependerá de duas coisas: encontrar o timing certo e o pretexto convincente. Um pouco como na guerra, é vital, por motivos tácticos e operacionais, encontrar o timing asado para maximizar ganhos e minimizar perdas. E tal como na guerra, o motivo ou o pretexto é importante para mobilizar as tropas e convencer os indecisos. Se o pretexto nos for dado, é mais fácil. Contudo, um bom general também deverá ser capaz de o encontrar, ou inventá-lo, se necessário for.
 
 
Exactamente 6 meses depois, o post materializou-se.
 
 
Para Paulo Portas foi, porventura, a última oportunidade de se escapulir deste fatídico governo antes do colapso. O seu principal inimigo no governo, Vítor Gaspar, deu-lhe a oportunidade com a sua patética demissão. Passos Coelho, ao nomear Maria Luís Albuquerque contra a vontade de Portas e contra o mais elementar bom senso, deu-lhe o pretexto de que este necessitava.
Contudo, nem tudo correu bem a Paulo Portas. Pelo que se ouve e lê, a estrutura directiva do CDS ficou totalmente à margem da decisão do líder. Sem ser preciso ouvir e ler, percebe-se que essa estrutura não gostou. Finalmente, outra vez pelo que se ouve e lê, houve alguns/vários/bastantes elementos dessa estrutura que discordaram da estratégia da ruptura. Portas teve o timing e o pretexto, falhou na metodologia.
Seguidamente, Passos tentou entalar Portas na porta de saída numa comunicação ao país em que salienta o carácter incompreensível da demissão.
 
Na resposta, Portas dá uns passos atrás, na esperança de devolver a responsabilidade da crise a Passos ou, na impossibilidade de consumar a ruptura, conseguir um acordo leonino para o CDS.

 
Voltando ao post de 3 de Janeiro de 2013, o CDS está em plena encruzilhada, da qual dificilmente sairá airosamente. Resta-nos citar a última frase desse texto:

 
Aguardemos pois, o que fará o CDS quando se der a conjugação do timing e do pretexto/motivo.

 

 

02 julho, 2013

Gaspar Post-Mortem

GASPAR POST-MORTEM

 
Vítor Gaspar morreu. Politicamente é claro, mas morreu. Eu sei que após ele virá outro, no caso outra, que por acaso até foi sua cúmplice, ou pelo menos subordinada. Por isso, resolvi escrever um post post-mortem sobre Vítor Louçã Rabaça Gaspar, nome que encerra algumas curiosidades e ironias. Mas não vou por aí.

Independentemente de ter expectativas negativas relativamente a Maria Luís Albuquerque, só o facto de me ver livre de aturar aquele guarda-livros monocórdico, mesquinho, arrogante, incompetente e subserviente (a soldo de?) a Berlim, dá-me um certo alívio e conforto.

Penso que a generalidade do país partilha desta moderada satisfação por ver Gaspar partir. Eu sei que ainda ontem vi quem dissesse que viria o tempo em que os Portugueses reconheceriam os méritos do guarda-livros, supostamente porque há indicadores que melhoraram, como a balança externa.

Não creio que tal aconteça. Quaisquer que tenham sido os ganhos, foram obtidos com um custo brutal suportado pelos Portugueses, especialmente pela classe média, os funcionários públicos e os reformados e pensionistas.

Posso vangloriar-me de ter comprado um McLaren, se para tal tive de roubar, coagir, enganar e até espancar os meus amigos e vizinhos? É óbvio que não.

O mesmo se aplica a Gaspar que durante dois anos espoliou a maioria dos Portugueses, semeando miséria com desplante total e uma olímpica indiferença. Foi o nº 2 de um governo composto por dois partidos que se reclamam humanistas e que maltratou os Portugueses de forma desumana, destruindo a economia e destruindo a vida das pessoas.

Destruindo sim, porque a redução brutal dos rendimentos via aumentos fiscais, suplementos ao IRS, confisco de subsídios, aumentos do IVA, aumentos das contribuições para a CGA, eliminação de deduções fiscais, alteração maliciosa dos escalões de IRS, aumento unilateral do horário de trabalho, aumento dos dias de trabalho, que efeitos é que têm na vida das pessoas que têm compromissos com a banca, com os fornecedores de serviços básicos, com a família, com os filhos e que têm pouca ou nenhuma folga nos rendimentos? Efeitos graves, devastadores em muitos casos.

Isto nunca interessou a Gaspar e esse é o pior dos males. É isso que faz dele um indivíduo velhaco, sem carácter e sem humanismo e destituído de consciência social e é isso que o torna inelegível para governar. O desprezo pelas pessoas faz de Vítor Gaspar um ser desprezível. Nem um RIP merece.
 
 
 
P.S. Não quero deixar de fazer uma referência à atitude persecutória que Gaspar teve em relação aos funcionários públicos, penalizados até ao limite de todas as formas possíveis. Nunca ocorreu ao Sr. Gaspar, talvez por incapacidade, que primeiro redimensiona-se as funções do Estado e depois é que se ajusta o Estado ao seu novo papel. E respeitando as pessoas. Ironicamente, o próprio Gaspar é um espécie de funcionário público de carreira, com a diferença que beneficiou de rendimentos e mordomias que jamais estrão ao alcance da esmagadora maioria dos funcionários públicos.

P.P.S. Nomear para Ministro das Finanças uma Secretária de Estado que traz a mácula de séria suspeita de ter mentido ao Parlamento (já para não mencionar o facto de ter trabalhado com Gaspar), é mais uma  erro político crasso de Passos Coelho. No surprise.

P.P.S. Anteontem, a Isabel enviou-me uma SMS informando-me de que o Sr. Gaspar se demitira. Hoje, ao telefone com o pediatra dos meus 3 filhos, ele disse-me que acabara de receber um SMS anunciando a demissão de Paulo Portas. Parece que tenho de estar mais atento às notícias. Não obstante, com o texto terminado, decidi acrescentar este 3º post-scriptum e publicá-lo na mesma.