OS IRREVOGÁVEIS
A Gália de
Goscinny e Uderzo tinha os Irredutíveis Gauleses que se alimentavam a poção
mágica e javali e cujos expoentes máximos eram Astérix e Obélix. Com eles, Roma
nunca conseguiu dominar toda a Gália.
Portugal de 2013
tem os Irrevogáveis, que não têm poção mágica, não caçam javalis, nem parecem
fazer nada de útil. Com eles, Berlim domina completamente a Lusitânia.
OS IRREVOGÁVEIS:
Cavaco Silva assumiu-se
como um irrevogável anti-democrata. O inefável Presidente quer que os 3 maiores partidos
atinjam consensos, voluntariamente ou por imposição. Reitero que, para Cavaco a assunção de projectos diferentes e de
soluções alternativas é um anátema (ver os pontos 3 e 4 dos Contras em http://tempos-interessantes.blogspot.pt/2013/07/cavaco-silva-out-of-box.html).
Para ele e para a legião de comentadores do establishment,
os eleitores deviam escolher entre três partidos que apresentam o mesmo
programa. Não tarda, defenderão um partido único. A irrevogável intolerância
também se fez sentir nas Selvagens, de onde Cavaco disparou contra aqueles que
se opunham a um acordo e que trabalhariam para o evitar, como se tal fosse uma
ignomínia. Pois então ousavam contrariar o PR? Finalmente, teve o dislate de
dizer que o facto de os partidos terem participado em
negociações prova que concordam com a solução que propôs, quando na realidade
todos entraram contrariados no processo negocial e só a ele aderiram porque
foram praticamente obrigados. Cavaco
Silva fez too little too late e agora fica irrevogavelmente amarrado a um
Governo que amparou para além do razoável durante dois anos e no qual já não
confia.
Passos Coelho é um
irrevogável agarrado ao poder. O homem preside a um governo que falha metas e projecções a
um ritmo e dimensão alucinantes, demonstra uma total indiferença para com os
seus concidadãos, somada a um servilismo perante a Alemanha, é odiado e
desprezado por milhões de Portugueses, é desrespeitado por dois sucessivos nº 2
do Governo, mas recusa demitir-se. Abespinha-se perante a possibilidade de lhe roubarem um ano de poder. E mantém a
desfaçatez de garantir em pleno Parlamento que tudo corre bem. Coelho é, como político, como governante e
como pessoa, uma nódoa. Daquelas que não saem. É irrevogável.
Paulo Portas é o pai da irrevogabilidade. A sua demissão
“irrevogável” vai ficar nos anais como o “Nem que Cristo desça à Terra!” de
Marcelo Rebelo de Sousa. Como já foi defendido no Tempos
Interessantes, (ver http://tempos-interessantes.blogspot.pt/2013/01/a-encruzilhadaalhada-do-cds.html e também http://tempos-interessantes.blogspot.pt/2013/07/portas-da-passos-para-sair-passos-leva.html) Portas viu uma
janela de oportunidade para saltar do Governo, ver-se livre da inépcia
petulante de Coelho e começar a preparar 2015 correndo por fora. Na ânsia de
sair, Portas sobrestimou o carneirismo
do seu rebanho. Para além das pressões externas que terá recebido, foi na
resistência à demissão no próprio CDS que a irrevogabilidade começou a ser
revogada. O obstinado apego ao poder de Coelho e as manobras de Cavaco fizeram
o resto. Além dos custos da governação desastrosa e da crise, Portas terá de
lidar com o desgaste causado por este flip-flop. O poder acrescido que terá no
Governo será a oportunidade de tentar recuperar imagem e credibilidade. Porém, da forma que as coisas estão, mesmo
sendo o membro do Governo politicamente mais talentoso, o mais provável é que
Portas se afunde com o Titanic. Irrevogavelmente.
António José Seguro é o
anti-Irrevogáveis. É contra a irrevogabilidade do Governo, contra a
irrevogabilidade homogeneizadora de Cavaco, e contra a irrevogabilidade da
austeridade de Passos Coelho. Também percebemos que está irrevogavelmente condicionado
pelos dinossauros do PS com Soares à cabeça. Seguro saiu da crise mais seguro
do que estava no plano interno, mas ontem ficou a saber que Cavaco vai voltar à
carga com os consensos e compromissos e não é líquido que o instinto de
sobrevivência que teve desta feita o salve do suicídio político na próxima.
Embora tenha afastado no último ano a imagem inicial de tibieza, o país ainda
não encara Seguro com a confiança de quem olha para uma alternativa válida.
Esse é o drama de Seguro: entre as pressões da Troika, as dramatizações do
Governo, os consensos do Presidente, algum condicionamento dentro do PS e as
desconfianças de um eleitorado saturado de trapaceiros, é um inseguro
irrevogável.
Continuaremos a
nossa marcha colectiva nominalmente sob a liderança destes 4 Irrevogáveis.
Irrevogavelmente certos das respectivas bondades políticas por entre as
florestas de erros crassos que vão cometendo, não surpreende que para muitos
Portugueses estejamos condenados a um irrevogável declínio.