O URSO E OS QUE FAZEM FIGURA
DE URSO
Os Estados Unidos e
maioria dos países europeus vivem há uma década (com mais intensidade nos
últimos 4 anos) a obsessão, o medo e a fobia do Urso, da Rússia.
in “RiseUp Times” at https://riseuptimes.org/
Este conjunto de países, liderados pelos EUA, Reino Unido, Alemanha e França e que encontram na Polónia e Lituânia os seus seguidores mais militantes e radicais, temem a interferência de Moscovo em eleições, a sua proximidade com partidos nacionalistas, tremem perante o poderio militar russo (convencional, nuclear e químico) e a sua disponibilidade para o usar, repudiam o seu conservadorismo sócio-cultural e o seu nacionalismo e repugna-lhes que a Rússia defenda e promova o seu interesse nacional em casa e no mundo. Resumindo, os mais contidos desconfiam da Rússia e tentam contê-la, os mais radicais dedicam-lhe um ódio ilimitado de que resulta a permanente culpabilização e diabolização da Rússia. A culpa é, sempre, do Urso.
Esta postura é exagerada, largamente injustificada e contra-producente. Desde logo, como qualquer urso que se preze, o Urso russo reage com agressividade quando atiçado, acossado, ameaçado. As sanções, as acusações, as ameaças, o opróbrio, terão respostas minimamente equivalentes, mesmo que diferentes e a Rússia não irá mudar só porque Washington, Londres ou Berlim assim o querem. Pelo contrário, a Rússia entrincheirar-se-á mais e procurará mais afincadamente apoios e alianças alternativos, como já tem feito na Ásia, no Médio Oriente, em África, na Europa. A realidade é que não se consegue isolar a Rússia como o Irão ou a Coreia do Norte.
A Rússia está ali, encostada ao Centro-Leste europeu e não vai sair, nem desaparecer. O Urso e os seus gigantescos 17.000.000km2 vão permanecer e, mesmo que acossado ou até gravemente ferido, vai manter a capacidade de ferir e de matar. Tal realidade aconselha uma de-escalada das tensões como pedem/sugerem países com a Hungria, a Sérvia, a Bulgária e a Itália.
Convenhamos:
* Viver em
hostilidade face à Rússia por causa da Crimeia que é russa desde o século XVIII e que foi oferecida à Ucrânia
por capricho de um ditador e num contexto soviético (russo), não é razoável.
* Correr o risco de
envolvimento num conflito porque a Rússia reagiu a um coup d’état na Ucrânia
e sentiu-se ameaçada na sua área de influência, é um disparate.
* Deslocar tropas e equipamento militar pesado para o Báltico só
porque a Polónia e a Lituânia são russófobas e fazem chantagem emocional, não faz sentido.
O mais grave desta
política é que a Rússia NÃO É a principal ameaça geopolítica e estratégica para
o Ocidente no médio e longo prazo. Apesar de ser uma grande potência, a Rússia
tem limitações económicas, tecnológicas e demográficas que, mais do que a sua
capacidade, coartam a sua vontade e interesse em prosseguir uma postura de
ameaça ou agressão ao Ocidente. Este Urso, tal como os outros, reage, é
agressivo e ataca alvos poderosos se estiver ou se sentir em perigo ou
ameaçado. E esse é o estado do Urso russo quando vê a NATO e a EU a caminharem, literalmente, na direcção de
Moscovo, quando constata que a sua diminuída esfera de influência está sob
ataque e a diminuir, quando percebe que o Ocidente tem em marcha uma política
anti-russa de acossar, coagir e neutralizar o Urso.
Enquanto a Rússia
não é essa principal ameaça, aquela que realmente o é goza de bom
relacionamento e usufrui, não só da amizade e a cumplicidade do Ocidente, mas
também é tratada com um temor servil. Falamos da República Popular da China, a
aspirante a superpotência e real ameaça aos interesses ocidentais a médio
prazo.
A política seguida até aqui ataca o adversário
errado pelas razões erradas, dá lastro e tempo ao verdadeiro inimigo e ainda
contribui para a crescente aproximação entre o Urso e o Dragão. Errar 3 vezes desta
maneira é, não sendo Urso, fazer figura de urso.
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