O NÓ INDO-PAQUISTANÊS
O T-90, de fabrico
russo, é uma peça vital da estratégia Cold Start.
No passado dia
18 de Setembro, um comando jihadista atacou uma base militar indiana em
Cachemira e conseguiu liquidar 18 soldados.
Imediatamente,
como de costume, a Índia culpou o Paquistão pelo ataque; embora seja provável,
ainda não é líquido que os atacantes viessem do Paquistão e ainda menos que
tivessem apoio ou direcção do Exército ou do ISI (Inter-Service Intelligence - Serviços
Secretos Paquistaneses).
Como também é
habitual, a liderança indiana, neste caso o Primeiro-Ministro Narendra Modi e o
Ministro da Defesa trovejaram retaliações. Finalmente, como também é habitual,
pouco se viu de público, notório e relevante ao nível da retaliação. A Índia
afirma ter feito um raid de forças especiais em que teria matado muitos
militantes. O Paquistão nega que a Índia tenha entrado no seu território, mas
que iniciou um duelo de artilharia que provocou a morte de dois soldados
paquistaneses.
Apesar das
ameaças, das pressões de poderosos grupos nacionalistas na Índia e até do
ocasional clamor da opinião pública, os
ataques terroristas na Índia, levados a cabo por grupos paquistaneses não
provocaram significativas retaliações de New Delhi. Porque não, mais a mais
sendo esta bem mais poderosa do que o Paquistão?
Muitos podem não
gostar da resposta, mas esta resume-se em duas palavras: ARMAS NUCLEARES.
O míssil nuclear Haft
IX (Vingança) é o antídoto paquistanês para o Cold Start.
Pois é, a
receita que tão bem resultou entre a União Soviética e os Estados Unidos,
também vai resultando entre Islamabad e New Delhi. Senão vejamos:
Suponhamos que
uma organização paquistanesa, por exemplo, o Lashkar-e-Taiba (LeT) desencadeia
um ataque terrorista de grande impacto em Bombaim, lançando o caos na capital
económica da Índia. O Governo quer retaliar e a população exige-o. Se optar por
uma invasão em larga escala do Paquistão, este poderá retaliar com um contra-ataque
nuclear contra alvos importantes na Índia para a fazer recuar. Esta, por sua
vez, retaliará e teremos um cenário de destruição e morte sem precedentes nos
últimos 70 anos. Não é viável.
Então, os Indianos desenvolveram uma estratégia designada
Cold Start que consiste numa ou várias incursões localizadas, rápidas e
demolidoras em território paquistanês, executadas por forças mecanizadas,
com apoio aéreo, mas não penetrando profundamente em território inimigo para
não ameaçar os centro do poder político e militar e evitar uma retaliação
nuclear maciça.
Contudo, a
seguir ao tit, vem o tat (tit for tat), ou mais eruditamente,
gera-se uma situação de estímulo-resposta, neste caso uma escalada militar.
Então, o Paquistão apostou no
desenvolvimento e emprego de armas nucleares tácticas, ou de teatro (battlefield nuclear weapons), que têm
menor alcance e potência e se destinam especificamente a travar e destruir as
forças inimigas, mas não os centros de decisão, nem as grandes cidades.
Neste caso, a força invasora seria dizimada com armas nucleares, melting
the Cold Start. A expectativa de Islamabad é que, dado o carácter
limitado destas armas, elas não desencadearão uma retaliação total da parte da
Índia.
Resumindo: grupos
terroristas paquistaneses atacam a Índia que não retalia com receio de provocar
um conflito nuclear. Por isso, a Índia desenvolve uma estratégia convencional
(Cold Start) para contornar o problema: Seguidamente, o Paquistão desenvolve
uma contra-estratégia nuclear que neutraliza a anterior. E tudo regressa à
estaca zero neste múltiplo conflito assimétrico: terrorismo, guerra
convencional, conflito nuclear.
Então, menos
mal. O Paquistão e a Índia ficam num nó, de pés e mãos atados e nada de muito
mau acontece: uns ataques terroristas, uns duelos de artilharia mais ou menos inconsequentes,
queixas, acusações, ameaças e bravatas e tudo volta à normalidade, até à
próxima vez.
No entanto,
nem tudo neste conflito é irracional; os actos, bons ou
maus, têm alguma razão de ser, um objectivo, uma CAUSA. E esse é que é o nó
original. Enquanto a Índia e o Paquistão não desatarem esse nó (o que é
altamente improvável), a dinâmica de conflitos assimétricos permanecerá, bem
como, o risco de escalada até ao patamar nuclear. Ah, esse nó também tem nome:
chama-se CACHEMIRA.
P.S. Brevemente será publicado um post sobre Cachemira.
1 comentário:
Não acredito que recorram ao nuclear. Este serve apenas como arma de contenção, apesar do risco da sua existência (comprovado por desastres/acidentes Chernobyl, Fukushima, por exemplo). As consequências são imprevisíveis e a caça pode voltar-se contra o caçador.
Excluo (?) a possibilidade remota de um qualquer louco/suicida ter acesso ao armamento nuclear e muito boa gente antecipar o encontro com o Criador!
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