CORTINAS DE FUMO
Cortina
de fumo, ou smoke screen.
Há 12 anos, um clube de futebol foi apanhado nas teias da
corrupção. Um dos aspectos curiosos desse processo foi o facto de muitos dos
apoiantes do réu (e o próprio), quando confrontados com as acusações, não as
negaram (nem admitiram), antes proclamavam que as escutas que permitiram
descobrir a marosca eram ilegais. Para eles, a culpa era irrelevante, só o
processo importava. Aquela marcava, este salvava.
Vem isto a propósito da divulgação de correspondência do
Democratic National Committee (DNC) dos Estados Unidos pelo Wikileaks. Essa
informação terá sido disponibilizada por hackers russos.
Essa correspondência revelava que o DNC, que é suposto gerir com imparcialidade e isenção as primárias do
Partido Democrata nas quais os candidatos disputam a nomeação do Partido à
candidatura presidencial, era apoiante de Hillary Clinton e crítico (e
até ofensivo) do Senador Bernie Sanders.
A descoberta não foi surpreendente, mas foi tudo menos
edificante, mais a mais envolvendo o favorecimento de uma candidata
caracterizada por comportamentos dúbios, opacos e com uma incapacidade quase
patológica de dizer a verdade e de se explicar de forma clara.
Pois a reacção da candidatura de Hillary Clinton, do DNC e,
pasme-se, de vários media, foi a de fazer um grande alarido com o facto de os
Russos terem penetrado o sistema informático do DNC, a gravidade do facto e a
malvadez da Rússia e de Putin. Passando ao lado da ironia destas queixas terem
vindo de um país como os Estados Unidos com um longo e comprovado cadastro de intrusões
cibernéticas em países terceiros, releve-se a menorização da falta de ética e
isenção do DNC, como se tal não fosse o cerne da questão.
Foi
mais útil brandir os fantasmas russos e acusar Donald Trump de ser conivente
com Putin, do que expor o enviesamento do DNC em favor de Clinton e em prejuízo
de um processo eleitoral limpo e transparente, adjectivos que, diga-se, não se
coadunam muito bem com os Clinton.
Mais cortinas de fumo, imagem de marca
dos Clinton..
Entretanto, foram descobertas mais 15.000 páginas de e-mails do
servidor privado que a então Secretária de Estado Hillary Clinton usava
indevidamente, à margem das regras e do bom senso. A reacção da candidatura de
Clinton foi acusar a organização conservadora Judicial Watch, que tem tentado,
judicialmente, conseguir a divulgação pública dos mails, de ser anti-Clinton. O
cerne da questão, o comportamento grave, “extremely careless” nas palavras
brandas do Director do FBI, não foi considerado relevante. O padrão é sempre o mesmo: comportamentos dúbios, eventualmente
ilegais, situações suspeitas, desculpas esfarrapadas e…cortinas de fumo, muito
fumo e dissimulação. Eis os Clinton.
Enquanto figuras e figurões continuarem a mover-se impunemente
por entre cortinas de fumo, ninguém se deve surpreender por haver cada vez mais
eleitores dispostos s apoiar candidatos ditos alternativos.
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