05 setembro, 2016

Cortinas de Fumo



CORTINAS DE FUMO

Cortina de fumo, ou smoke screen.

Há 12 anos, um clube de futebol foi apanhado nas teias da corrupção. Um dos aspectos curiosos desse processo foi o facto de muitos dos apoiantes do réu (e o próprio), quando confrontados com as acusações, não as negaram (nem admitiram), antes proclamavam que as escutas que permitiram descobrir a marosca eram ilegais. Para eles, a culpa era irrelevante, só o processo importava. Aquela marcava, este salvava.

Vem isto a propósito da divulgação de correspondência do Democratic National Committee (DNC) dos Estados Unidos pelo Wikileaks. Essa informação terá sido disponibilizada por hackers russos.

Essa correspondência revelava que o DNC, que é suposto gerir com imparcialidade e isenção as primárias do Partido Democrata nas quais os candidatos disputam a nomeação do Partido à candidatura presidencial, era apoiante de Hillary Clinton e crítico (e até ofensivo) do Senador Bernie Sanders.

A descoberta não foi surpreendente, mas foi tudo menos edificante, mais a mais envolvendo o favorecimento de uma candidata caracterizada por comportamentos dúbios, opacos e com uma incapacidade quase patológica de dizer a verdade e de se explicar de forma clara.

Pois a reacção da candidatura de Hillary Clinton, do DNC e, pasme-se, de vários media, foi a de fazer um grande alarido com o facto de os Russos terem penetrado o sistema informático do DNC, a gravidade do facto e a malvadez da Rússia e de Putin. Passando ao lado da ironia destas queixas terem vindo de um país como os Estados Unidos com um longo e comprovado cadastro de intrusões cibernéticas em países terceiros, releve-se a menorização da falta de ética e isenção do DNC, como se tal não fosse o cerne da questão.

Foi mais útil brandir os fantasmas russos e acusar Donald Trump de ser conivente com Putin, do que expor o enviesamento do DNC em favor de Clinton e em prejuízo de um processo eleitoral limpo e transparente, adjectivos que, diga-se, não se coadunam muito bem com os Clinton.

Mais cortinas de fumo, imagem de marca dos Clinton..

Entretanto, foram descobertas mais 15.000 páginas de e-mails do servidor privado que a então Secretária de Estado Hillary Clinton usava indevidamente, à margem das regras e do bom senso. A reacção da candidatura de Clinton foi acusar a organização conservadora Judicial Watch, que tem tentado, judicialmente, conseguir a divulgação pública dos mails, de ser anti-Clinton. O cerne da questão, o comportamento grave, “extremely careless” nas palavras brandas do Director do FBI, não foi considerado relevante. O padrão é sempre o mesmo: comportamentos dúbios, eventualmente ilegais, situações suspeitas, desculpas esfarrapadas e…cortinas de fumo, muito fumo e dissimulação. Eis os Clinton.

Enquanto figuras e figurões continuarem a mover-se impunemente por entre cortinas de fumo, ninguém se deve surpreender por haver cada vez mais eleitores dispostos s apoiar candidatos ditos alternativos.



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