PALMIRA E
RAMADI
Palmira: há 2000 anos no Império Romano; até há
poucos dias na Síria; hoje no Estado Islâmico…
Nas últimas semanas, o Estado Islâmico registou mais duas vitórias
retumbantes: conquistou a histórica cidade de Palmira, na Síria e a capital da
província de Anbar, Ramadi, no Iraque.
Estes êxitos não significam que o Estado Islâmico esteja na crista da onda
e em vias de triunfar nas duas frentes da sua guerra. Significam, porém, que as
notícias sobre a sua morte a curto prazo eram manifestamente prematuras.
Nos últimos meses fomos lendo a habitual sucessão de relatos animadores:
os ataque aéreos destruiram poços de petróleo, tanques, infra-estruturas, e
mataram n militantes do Estado
Islâmico. Frequentemente os relatos são de uma precisão curiosa: destruição de
2 pickups, um depósito de armas, três unidades logísticas, um tanque e 17
militantes mortos. Por sua vez, as notícias sobre as ofensivas do Exército
Iraquiano relatavam a morte de x guerreiros do Estado Islâmico em
Anbar, mais y em Ninive e ainda z em Sulahidin. Desconfio sempre de relatos de guerra quando registam sucessivas
perdas e baixas apenas de uma das partes e não se percebe no terreno uma
correspondência desses desequilíbrios.
O que
se percebe é que o Exército e as forças de segurança do Iraque voltaram a falhar
miseravelmente, sendo que Ramadi, além das tropas regulares, também estava
defendida pela unidade de elite (?) Golden Division.
Também
se percebe que os EUA, ou não sabem o que se passa no terreno, o que não é
impossível dado que em 75% das saídas da aviação americana os aviões regressam
às bases sem disparar um míssil e sem largar uma bomba por falta de alvos, ou
têm andado a pintar uma imagem da guerra que é uma miragem.
Finalmente
percebe-se, de facto já há um ano, que o Governo do Iraque é pouco mais do que um
boneco. Lançou uma ofensiva sobre Tikrit que se baseou no poder das milícias
xiitas. Mesmo assim, precisou do apoio aéreo dos EUA para desbloquear o impasse
no cerco à cidade. O Primeiro-Ministro Haider Al Abadi ainda participou numa
parada vitoriosa em Tikrit, mas agora já teve de chamar as famigeradas milícias
xiitas para tentar recuperar Ramadi.
Abadi
precisa das milícias xiitas, precisa do Irão (de quem a maioria das milícias
depende) e precisa do apoio aéreo, do treino e do armamento dos EUA. Só não
parece precisar do Exército Iraquiano. Porém, em Tikrit as milícias não foram
suficientes e em Ramadi a USAF não conseguiu impedir o êxito do Estado
Islâmico. É cada vez mais questionável a viabilidade do Iraque nos moldes
actuais.
O
Estado Islâmico, que tem estado indubitavelmente sob pressão chega a meados de
2015 numa posição favorável:
* Na
Síria, a conquista de uma cidade de
média dimensão como Palmira, dá-lhe prestígio e o controlo do
deserto central sírio e das respectivas vias de comunicação.
* No
Iraque, a conquista de Ramadi mudou a narrativa de declínio irreversível e
desferiu um duro golpe na moral dos adversários, ao jeito de Mosul, Parte II.
* Entre
o Iraque e a Síria, a conquista de Al-Tanf, o último
posto fronteiriço que não estava na sua posse, conferiu ao Estado Islâmico o completo
controlo da fronteira sírio-iraquiana, a zona de costura entre as duas partes
do Califado.
É
hoje quase certo que em 2016 ainda haverá Estado Islâmico, o Califado do século
XXI.
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