PEDRADA
NO CHARCO
O número de mandatos conquistados pelos 7 partidos que fizeram
eleger deputados nas eleições de 2012 e 2015.
Como muitos esperavam e outros temiam, o partido de
esquerda radical Syriza ganhou as eleições na Grécia.
Tratou-se do 2º terramoto eleitoral que confirmou e
agravou os resultados do terramoto de 2012. O Syriza obteve uma vitória
claríssima que o deixou no limiar da maioria absoluta. A Nova Democracia sofreu
pesada derrota, registando o menor nº de mandatos de sempre. O PASOK, um dos
dois partidos historicamente dominantes num sistema bipolarizado ficou reduzido
à insignificância: 7º lugar e meros 13 deputados, o preço de fazer de lacaio da
Nova democracia na ânsia de se manter no poder. O Partido da Aurora Dourada, de
extrema-direita, alcançou o 3º lugar.
Este é o resultado da fraude política protagonizada um pouco por
toda a Europa pelos partidos que dominam o sistema político e monopolizam o
poder desde a II Guerra Mundial. Os Partidos
Conservadores/Democratas-Cristãos e Socialistas/Social-Democratas/Trabalhistas
têm governado a seu bel-prazer, com políticas cada vez mais idênticas,
aplicando nos últimos anos, à escala europeia, o dogma imposto pela Alemanha e
avalizado por instituições internacionais como a Comissão Europeia, o FMI, o
BCE e a OCDE.
Como já foi escrito em Tempos
Interessantes, a fórmula do pensamento único, o slogan “não há outro
caminho”, a imposição externa e interna de políticas desumanas e contra-producentes,
são uma negação da verdadeira democracia.
Estas eleições foram, aliás, um modelo de negação
democrática por parte de vários actores, nomeadamente a Alemanha e os membros
da famigerada Troika, cujas declarações de ameaça e chantagem foram uma indecente
e inaceitável ingerência na política interna, na soberania e no exercício
democrático dos Gregos. Parece claro que a super-estrutura europeia está cada
vez mais ousada na afirmação de uma tutela não-democrática sobre a Europa.
Como era evidente, a chantagem revelou-se contra-producente e,
pela primeira vez na História recente, um partido alternativo venceu eleições e
formou governo. Trata-se de uma verdadeira pedrada no charco.
Contudo, ainda nada de substantivo mudou. Os Gregos
votaram num caminho verdadeiramente alternativo. O próximo passo será a capacidade do Syriza resistir às pressões,
ameaças e chantagens que Angela Merkel e os seus sequazes inevitavelmente
exercerão sobre a Grécia. Aí se verá de que estirpe é feito Alexis Tsipras e se
a pedrada agita o charco, ou se continuamos em águas pantanosas. A resposta
reside na resiliência dos Gregos.
P.S. O rumo que a política tem levado na EU e nos seus
Estados-Membros, para além de, felizmente, ter destruído o oligopólio político,
também fomentou a ascensão dos totalitarismos. O 3º lugar da Aurora Dourada é uma sinistra bofetada de luva negra nos
fautores do statu quo europeu. O próprio Partido Comunista (KKE) ficou à
frente (5º lugar) da versão socialista da Grécia (PASOK).
P.P.S. Vergonhoso o comunicado do PSD na sequência das
eleições na Grécia. Desde que tem o presidente que tem, o partido vai de
despautério em despautério. Verdadeiramente lamentável.
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4 comentários:
Para quem utiliza diariamente transportes públicos e escuta os queixumes azedos e mais que justificados do povo português, diria que a vitória grega é partilhada e festejada por portugueses que se sentem solidários e de certa forma vingados pela forma execrável como têm sido conduzidos os destinos dos países sul-europeus, sob a direcção da UE, com a conivência dos respectivos (des)governos. Aguardemos pelas nossas eleições. Tenho cá um palpite que alguns dirigentes partidários, desde domingo, já só dormem com soníferos.
Subscrevo na íntegra o seu comentário Estella.
Infelizmente não vejo jeito, nem protagonistas de jeito, para se afirmarem como alternativas ao centrão roikiano.
Excelente, excelente, excelente ! Tudo dito e bem dito, Senhor Professor.
Cumprimentos
Freitas Pereira
Obrigado Sr. Freitas Pereira! :-)
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