BRINCADEIRAS NA LÍBIA
Neste mapa da Líbia, pode ver-se a cidade de
Zintan nas Montanhas Nafusa perto da Tunísia, Tripoli um pouco a nordeste,
Misrata, mais a leste junto ao
Mediterrâneo e Benghazi, também na costa, já a caminho do Egipto.
Há um novo (recente) protagonista político-militar na
balbúrdia que dá pelo nome de Líbia: o General Khalifa Hafter.
O General Hafter conseguiu agitar ainda mais as águas.
Tem dado combate feroz às milícias islamitas da Brigada do Mártir de 17 de
Fevereiro em Benghazi, onde está baseado, contando para o efeito com o apoio de
unidades das forças especiais do Exército (??) Líbio (??) e também da Força
Aérea, que passaram para o seu lado à revelia do Governo.
Por outro lado, em Maio, na capital Tripoli, forças
leais ao mesmo Hafter, com o apoio das milícias de Zintan (cidade do Oeste da
Líbia), tomaram de assalto o parlamento. Este, dominado por forças islamitas,
pediu ajuda às milícias de Misrata, 3ª cidade da Líbia, situada entre Tripoli e
Benghazi.
O combate foi evitado, mas por pouco tempo.
Entretanto, foi nomeado um novo Primeiro-Ministro, mas o
anterior manteve-se em funções, pelo que podemos dizer que a Líbia teve dois Primeiro-Ministros e zero governos.
Mais recentemente, no final de Junho, realizaram-se
eleições para substituir o descredibilizado parlamento (General National
Congress), cujos resultados finais ainda se aguardam, mas dos quais pouco ou
nada se espera em termos de clarificação política.
A exportação de petróleo, entretanto parcialmente
retomada, continua contingente de precários equilíbrios de forças e de
interesses e da boa vontade das milícias regionais ou sectárias que controlam
grande parte do país.
Para não dar aso a que estes últimos desenvolvimentos
(eleições e exportações) gerem algum optimismo, na semana passada duas das principais milícias (Zintan e Misrata
novamente) envolveram-se em acesos combates pelo controlo do Aeroporto
Internacional de Tripoli. No calor da refrega, foram destruídos 90% dos aviões
aí parqueados.
E o governo nacional
já fez avançar o exército para dominar e desarmar as milícias e reassumir o
controlo do aeroporto?
Estava a brincar! Não é curial falar de reassumir o controlo de algo que nunca se
controlou. Após a queda do regime de Kadhafi em 2011, o aeroporto
foi ocupado por diversas milícias de menor expressão. Estas foram expulsas em
2012 pela milícia de Zintan que controla o Aeroporto de Tripoli até hoje.
Desculpem, estava a
brincar outra vez. O exército de que o governo dispõe é, ele próprio, de brincar. A
única diligência que o governo fez foi tentar negociar (suplicar?) um
cessar-fogo entre as duas poderosas milícias.
Ah, no caso improvável de estarem a pensar em voar para a Líbia,
esqueçam! O Aeroporto Internacional de Benghazi está encerrado desde Maio por
motivos de segurança (ou de falta dela) e de múltiplos protestos. Não, desta vez não estou a brincar.
Acentua-se, pois, a descida da Líbia para a anarquia, a
pulverização do poder político e militar, o esboroar da economia dependente do
petróleo, por sua vez refém dos poderes militares. Se a isto somarmos a
crescente presença de jihadistas, a Líbia é cada vez mais um Estado
disfuncional e um foco de instabilidade no Sahara e no Sahel.
Aliás, se o assunto
não fosse tão sério, a situação da Líbia seria mesmo uma brincadeira pegada!
P.S. Mesmo perante
este cenário caótico, Barack Obama conseguiu, num discurso na
Academia de West Point, salientar o sucesso da
intervenção militar na Líbia. Seriously? Ah, deve ter sido outra brincadeira
certamente.
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