18 janeiro, 2011

Voto Branco

VOTO BRANCO

Se há 10, 15, 20 anos atrás me dissessem que não iria votar em Cavaco Silva (individualmente ou enquanto líder do PSD), eu escarneceria dessa possibilidade. Na verdade, numa ou noutra condição, já votei em Cavaco Silva 6 vezes ao longo de 21 anos, entre 1985 e 2006. No more.
 
Quase meia vida a votar em Cavaco Silva, o que me leva a arrepiar caminho? Mais a mais porque ele é, indubitavelmente o melhor candidato, aliás, o único credível. Mais espero que ganhe e estou convicto que o fará à 1ª volta. Contudo, estou numa fase da vida em que não estou disponível para votar em males menores ou no menos mau. Ou voto com convicção porque acho que se trata de um bom candidato ou um bom projecto político, ou não voto só porque um é Suficiente e os restantes são Medíocres ou Maus. Por outras palavras, não engulo sapos para além daqueles que sou absolutamente obrigado a engolir.

Para perceber a minha decisão, bastará recuar no “Tempos Interessantes” e ler os 3 posts escritos sobre Cavaco Silva:

“CAVACO SILVA”, 09/03/2006



http://tempos-interessantes.blogspot.com/2006/03/cavaco-silva.html

[…..] De Cavaco Silva espero qualidades que já demonstrou: seriedade, competência, determinação e lealdade perante os Portugueses. Espero que denuncie o que está mal e que apoie o que está bem. Espero um discurso directo, acutilante e inteligível. Espero que não prescinda de responsabilizar o poder. Espero solidariedade institucional sem favoritismos partidários, mas sem renunciar ao seu ideário político.
Em suma, espero que seja melhor.

Estas eram as minhas expectativas relativamente ao mandato de Cavaco Silva na altura da sua posse. Infelizmente, não correspondeu.

“QUEM É QUE CAVACO TEME?, 15/04/2007


O Presidente da República, Cavaco Silva, pronunciou-se em Riga, Letónia, contra a realização de um referendo nacional sobre um novo tratado europeu, prometido por TODOS os partidos parlamentares.

“Às vezes avança-se para essas coisas sem pensar bem nas consequências e, depois, discute-se como corrigir.” Corrigir? Corrigir o quê? O voto dos cidadãos? O voto dos mesmos que deram 4 vitórias a Cavaco Silva enquanto Presidente do PSD e candidato a PR?

Senhor Presidente: não há correcções à votação popular. O povo é soberano. Ou será que, se V. Excelência vetar ou impedir um referendo a um tratado europeu, eu também posso corrigir o voto que lhe entreguei nas eleições do ano passado?
[…]
Ou deverei antes perguntar, de que é que tem medo? Quem é que o Senhor Presidente da República teme? É o eleitorado soberano. O povo que serviu para o eleger, mas que não “serve” para se pronunciar em referendos.

A oposição ao referendo e o apoio ao rompimento de promessas eleitorais formais e taxativas foi um pecado maior de Cavaco. Diga-se que a sua oposição aos referendos vem de longe, mas não devia ter pactuado com a escapadela oportunista a compromissos eleitorais. O medo do e o desrespeito pelo eleitorado são inaceitáveis.

 
“Política v política”, 19/06/2010


Cavaco Silva: Promulgou a lei sobre o casamento homossexual assumidamente contra as suas convicções e princípios, factos conhecidos dos eleitores que o elegeram. O argumento justificativo (??) foi o da crise económica que devia centrar os esforços do Governo e do Parlamento. Por essa ordem de ideias, em situação de crise social poderá promulgar barbaridades no plano económico e se houver uma crise económica, aprovará legislação política ou eleitoral que lhe repugne. É, obviamente, uma desculpa esfarrapada, que o coloca longe do homem determinado e de convicções de outros tempos. Do mesmo modo, o meu voto em Cavaco, que era quase certo, é agora muito duvidoso. Embora admita que Manuel Alegre, um candidato comunista, ou o simpatizante da esquerda radical seriam piores presidentes, confesso que estou pouco inclinado a apoiar males menores.

Aqui tivemos Cavaco a vergar a espinha para agradar à esquerda, especialmente a radical. O calculismo eleitoral é claro, dando por adquirido o voto da direita e tentando pescar na esquerda. Comigo não resultou: o meu voto não é um dado adquirido e só a mim pertence.

Uma última nota, já da campanha eleitoral. Cavaco Silva reclamou cortes salariais no sector privado para que estes não fossem beneficiados em relação aos funcionários públicos cujos ordenados foram reduzidos. Isso significa que Cavaco Silva, não contente com a imoralidade de cortar os salários dos funcionários públicos, quer estender a imoralidade aos restantes Portugueses. Quando se tratou de sacrificar os Portugueses em nome de um pseudo-salvamento do sistema financeiro português e em benefício dos accionistas do BPN, já não houve igualdade de sacrifícios. Quando se vê o Governo a avançar com o TGV contra tudo e a favor de alguns, a moralidade fica na gaveta. O Estado e a clique que nele usufrui de uma golden share engordam à custa de impostos agiotários e não há proclamações inflamadas. Longe vão os tempos gloriosos de “Menos Estado e Melhor Estado”!

 
Não ponho em causa o valor e a bondade de muitas intervenções de Cavaco Silva durante o seu mandato, nem que foi bem melhor do que o seu antecessor (pior fora!). No entanto, não vou abdicar dos princípios e convicções. O saldo final não vale o meu voto. Pela segunda vez desde que voto, VOTO EM BRANCO!


22 comentários:

Anónimo disse...

Penso que vai gostar deste espaço Patriotico:

www.forumdefesa.com

Abraços

Sérgio Lira disse...

Pois é Rui, vamos para velhos e os velhos devem ter da vida e da dignidade uma visão menos romântica, mais exigente, mais sábia - pena que o nosso Presidente da Republica só tenha envelhecido nas más características.

O nosso sebastianismo levou-nos, em conjunto, a votar nele: ora para 1º ministro (um homem sapiente de coisas financeiras e de economia, que por isso poria "isto tudo" na ordem) ora para Presidente (um homem experiente, de princípios, que nunca deixaria a gentalha do PS "fartar vilanagem"). Ora, nem uma, nem outra: nem equilibrou a coisa pública nem impediu os desmandos socialistas.

...pois, mas o povo olha vê uma espécie de Salazar ressuscitado, professor de finanças e de economia, cara seca, palavras económicas, sempre sério (não se diz "trombudo" do mais alto magistrado, pois não?), que vive austeramente (o homem até faz marquises, como o povo, ora vejam lá) e que seria incapaz de tocar com um dedo na coisa pública, de procurar proventos pessoais, que morreria tão pobre quanto tinha ido para o poder - só não usa botas, que se saiba.

Balelas!!! este salazarismo serôdio é uma espécie de tinha, de pé-de-atleta-por-todo-o-corpo, agarrada à pele dos portugueses; não sai, nem com esfreganço de linhaça, vinagre e mostarda... por isso o homem - que não é tal poço de virtudes com quer fazer parecer, nem tão coerente com os princípios como apregoa, nem tão sábio na finança como anuncia, vai tornar a ser eleito, lamentavelmente. Mas (como tu) sem o meu voto.

Nuno Oliveira disse...

Caro Professor,
A deterioração da classe política transporta-nos – nestas eleições – à assumpção do mesmo juízo. Assim, pela primeira vez (creio), os nossos votos terão o mesmo destino. Um abraço.

João Figueiredo disse...

Subscrevo o post... e o voto em branco.
Abraço

Anónimo disse...

Caro professor mais um velhinho.

Voto nos PSD’s à 34 anos, sem nunca falhar, minto, nas últimas europeias votei na Laurinda Alves, desculpe mas esqueci-me o voto é secreto, espero que me perdoe.

Aos cinquenta depois de muitos cartazes colados, paredes decoradas e acutilantes discussões não esquecendo aquelas nervosas contagens de votos com o correr para as sedes ansiosos pelos resultados, sinto-me espoliado.
Para que tanto trabalho não remunerado? Tudo em pró de um ideal tão simples: Paz, Pão e Democracia.
Será só o nosso egoísmo, o individualismo e o oportunismo que não nos deixam concretiza-lo?

Agora encontro-me numa fase mais sensível e exigente como dizia a minha querida cunhada que aquela maldita doença levou “Nós queixamo-nos muito do pouco que nos falta e agradecemos pouco o tanto que temos”, também sei que nada pode ser comparado, o tempo é outro, mas é para todos, por isso continuo a brigar por esse sonho, mas com esta gente omnipresente torna cada dia mais difícil.
Presentemente comovo-me por quase tudo e por quase nada, uma imagem, uma palavra, uma atitude um gesto é o suficiente para não conter este saco lacrimal.
Jamais poderei esquecer aquele início de tarde…
Toda a família “real” perfilada em Belém aguardando calma e serenamente a entrada de Sua Santidade. Ao olhar para aqueles netos a inveja que senti, que sorte, que felicidade, poder ouvir, falar ou mesmo tocar em magnificente Homem…
A minha filha que almoçava comigo olhou para mim e perguntou. Estás a chorar pai? Porque?
Por nada filha, por nada. Sabes minha filha estou a ficar demasiado lamechas.
Caro professor não tenho paciência para hipócritas e judas.
Também voto em BRANCO.

Alberto Martins

Anónimo disse...

Não é uma boa política, coleguinha!!! Numa segunda volta, pode sempre sair um qualquer poeta alegre. Lembre-se do Freitas do Amaral, se já era nascido.....
Beijos.
Isabel Ponce de Leão

Sónia Isabel J.Rosa disse...

Que o voto em branco não se apresente como única alternativa ao candidato Cavaco Silva. Andam por aí mais cinco em campanha,e muito honestamente, todos me parecem muito bons, o difícil é escolher! Claro que, e tal como afirmou um excelente humorista da nossa praça, há sempre um ou outro que melhor enfeita um centro de mesa. Com a falta de entusiasmo que estas eleições me causam é bem possível que vote tendo em conta este critério. Digo-o, infelizmente, sem qualquer ironia.

Anónimo disse...

Estou completamente de acordo, mas prefiro votar nulo.

Maria

Anónimo disse...

Grande Rui Miguel.
Por mim, até vou um bocadinho mais longe.
Grande abraço.

RGS

Rui Miguel Ribeiro disse...

Caro Anónimo,

De facto é bastante interessante. Agradeço a atenção.

Rui Miguel Ribeiro disse...

Caro Sérgio,

Pois é, o porte sério de uns, a postura de durão de outros, a falta de princípios de muitos e a ausência de visão de quase todos, deixa-nos onde estamos: num beco sem saída.

Anónimo disse...

Caro Professor Rui Miguel,
Os nossos cidadãos não estão alertados para fazer uso pleno deste instrumento (voto), pelo que será sempre uma luta inglória.
A "lobotomia" política é um processo irreversível e em curso.
Forte abraço
Jorge Brochado

Rui Miguel Ribeiro disse...

Caro Nuno Miguel,

Só é pena que tenha sido uma confluência de aspectos negativos que tenha feito convergir os nossos votos...
Abraço

Rui Miguel Ribeiro disse...

Pois é João Carlos, unidos no encarnado e no branco, hehehe!

Rui Miguel Ribeiro disse...

Caro Alberto,
Agradeço muito o seu comentário e a sinceridade e sentimento das suas palavras.
Também eu me comovo mais com as coisas desde que tenho Filhos e ainda mais desde que deixei de ter Pai. Também eu tenho cada vez menos tolerância para com o abuso, a incompetência, a falta de princípios, o oportunismo, a corrupção, no exercício daquilo que devia ser o serviço público.
Como diria o Eça, "Não há pachorra!"

Rui Miguel Ribeiro disse...

Cara Isabel,

Já, já era nascido (antes não fosse), mas nunca temi o mesmo desenlace, como não veio de facto a acontecer. Cavaco concorria a um 2º mandato, o que é uma enorme vantagem, Alegre não tem o estofo político que Soares tinha na altura e ainda beneficiou do apoio de um PCP mais pujante do que o actual.
Beijinhos

Rui Miguel Ribeiro disse...

Cara Sónia Isabel,

Benvinda aos comentários do "Tempos Interessantes". Fico contente por te ver por cá!!!
Espero que tenhas encontrado o "centro de mesa" adequado. Eu fiquei pela decoração minimalista: em branco ;-)

Rui Miguel Ribeiro disse...

Cara Maria,

Prefiro a mensagem que o "branco" trasnporta, apesar de algum risco inerente.

P.S. É óptimo "rever-te"!!!

Rui Miguel Ribeiro disse...

Caro Rui,

Até temo perguntar até onde decidiu ir....

Rui Miguel Ribeiro disse...

Caro Jorge Brochado,

Muito boa, essa da "lobotomia política em curso"! E na verdade, os Portugueses não valorizam devidamente o poder que o voto ainda tem. Porém , acabo de ouvir na SIC que houve +erto de 200.000 votos brancos! Pode ser que seja um sinal...

Sérgio Lira disse...

Ora, com previsto, lá ganhou. Com menos meio milhão de votos que na primeira eleição, o que deveria convidar a alguma vergonha na cara em vez daquele discurso ressabiado e azedo com que nos presenteou, mas enfim, lá ganhou.

Neste Portugal em que o mortos já não votam vai para 30 anos, mas em que os vivos agora também não (problemas informáticos! já ouvi melhor...) a farsa continua. Vale tudo nesta democracia pantomineira: dissolver parlementos com maiorias absolutas estáveis, impedir cidadãos de votar por causa de cartões com "chips", etc. etc. Uma festa!

Rui Miguel Ribeiro disse...

Sérgio: Deve ser o Simplex no seu melhor - simplificaram ao ponto de já não precisares/poderes votar. Eu pergunto-me se os eleitores não poderiam accionar judicialmente o inepto do MAI por lhes sonegar um direito constitucional.