HU EM WASHINGTON
A visita de Hu Jintao, Secretário-Geral do Partido Comunista Chinês, a Washington correu bem. Não que tenha havido grandes avanços em temas importantes das Relações Internacionais globais ou nos diferendos bilaterais, mas simplesmente porque nada correu mal.
Refere-se que na anterior visita, em 2005 com George W. Bush na Casa Branca, a visita foi considerada oficial e não de estado, nem teve banquete de gala (só um almoço) e que houve umas gaffes. Como desta vez a visita foi considerada como sendo “de estado”, como houve banquete, como as gaffes não surgiram e as duas partes emitiram mensagens de cordialidade, aí está o sucesso!
Not so fast. Nestes dias ouviram-se e leram-se muitas críticas dirigidas àqueles que prevêem um futuro pouco harmonioso nas relações sino-americanas. Vozes tão distintas como as de Henry Kissinger, que na sua velhice amoleceu muito em relação aquilo que era, defendia e fazia há 30/40 anos atrás, acusaram quem defende essa evolução como apóstolos de uma nova Guerra Fria entre os EUA e a China.
Contudo, a realidade não desapareceu nem se transfigurou com os brindes de Obama e de Hu. As divergências sobre a abordagem aos problemas colocados pela Coreia do Norte mantêm-se. O posicionamento em relação aos programas nucleares do Paquistão e do Irão é diferente, para não falar dos problemas na frente económica, nomeadamente a questão cambial.
Mais importante do que estes temas é a ascensão político-militar da Pequim que, mais cedo ou mais tarde, a colocará em rota de colisão com Washington. Os Estados Unidos são a potência militar no Extremo Oriente, poder esse sustentado na forte presença naval, nas bases espalhadas por toda a região e no estacionamento de tropas no Japão, na Coreia do Sul e em Guam.
A China, na sequência do seu sucesso económico, vem assumindo uma política externa crescentemente agressiva, nomeadamente face aos seus vizinhos, enquanto, paralelamente, lançou um forte programa de modernização militar que, a médio prazo, poderá pôr em cheque a supremacia norte-americana no Pacífico Ocidental.
Se tal vier a acontecer, nenhuma das duas potências poderá recuar sob pena de entregar os pontos estratégicos e as vitais rotas marítimas vitais, desde Malaca até à Península da Coreia, ao controlo do adversário (sim, nesta altura serão abertamente adversários).
O Mar do Sul da China (South China Sea), zona de atrito da China com os seus vizinhos e com os EUA.
É evidente que as coisas não têm que ser assim, mas os países da região (Japão, Singapura, Vietname) já se aperceberam que o trend é este e não é uma cimeira simpática que vai alterar as tendências estruturantes. Simplesmente não é provável que uma grande potência em ascensão se satisfaça permanentemente com a segunda posição, nem que uma potência dominante aceite de bom grado partilhar a sua hegemonia e muito menos a sua substituição.
4 comentários:
O activistpost.com tem bons artigos sobre o avanço da China e consequente perda de hegemonia dos EUA.No entanto há uma elite financeira internacional que não tem fronteiras nem pátria,a qual parece ter formado um de facto governo mundial na sombra!
www.nwoobserver.wordpress.com
Caro Bilder,
O avanço da China não tem que se irreversível, desde que seja enfrentado de forma adequada.
Quanto ao "governo-sombra", nem precisamos de sair de Portugal para perceber que muitas decisões políticas com contornos "estranhos", parecem prosseguir interesses específicos, que não o interesse comum, ou público.
Olá Professor,
Cada vez que visito o seu blog aprendo sempre!!! Fantástico e mais uma vez obrigaga por continuar com os seus ex-alunos,
eu diria ainda alunos, pois continuamos a aprender consigo!!
Helena
Obrigado Helena. It's very sweet of you.
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