CARTÃO LARANJA
As Eleições Europeias em Portugal tiveram resultados surpreendentes, pelo menos tendo como referência as cada vez mais duvidosas sondagens que vão sendo publicadas. A primeira nota vai para o galopante desinteresse que o eleitorado revela por estas eleições, nas quais 63% dos Portugueses se abstiveram de votar. Curiosamente, se às eleições se aplicasse o requisito de afluência que, injustificadamente se impõe aos referendos, não teríamos deputados eleitos para o Parlamento Europeu. Nem Portugal, nem 18 outros países da UE. Para cúmulo, dos que votaram, 6% votou branco ou nulo, o que configura um voto de protesto em relação às propostas apresentadas. No final, a vitória do PSD representa um cartão laranja ao Governo do PS. A ver vamos se a cor do cartão passa a amarelo ou a vermelho nas Legislativas de Outubro.
Uma breve análise de umas eleições em que houve 4 vencedores e um derrotado.
PSD: O PSD é o grande vencedor das eleições obtendo sozinho a mesma votação que teve em 2004 em coligação com o CDS. Esta vitória é concludente e pertence, fundamentalmente a Manuela Ferreira Leite e a Paulo Rangel. Ambos conseguiram manter uma linha de rumo que passou por fazer uma campanha de clara denúncia das deficiências da governação socialista, de aproveitamento da falta de jeito do cabeça de lista do PS e de evitar entrar no jogo sujo que o PS tentou introduzir na campanha.
Os resultados catapultam o PSD e a sua líder para um Verão mais tranquilo de preparação para os embates de Outono, retiram-lhe pressão e colocam-na no adversário. Convém, contudo, temperar o entusiasmo. O PSD subiu 3% relativamente às Legislativas de 2005 e ainda está aquém do patamar normalmente atingido pelo partido vencedor em Portugal (acima dos 35%). A grande diferença está no trambolhão monumental do PS. Manter a pressão e encontrar nova solução ganhadora em Outubro é o grande desafio que Manuela Ferreira leite tem pela frente.
PS: O PS registou uma queda eleitoral colossal, cerca de 18%, quer a referência seja a das Europeias de 2004, ou as legislativas de 2005. Esta votação é uma penalização dura e merecida por uma governação crescentemente arrogante, desfasada das aspirações dos Portugueses e escudada na maioria absoluta e em sondagens simpáticas mas falíveis. Para completar a receita do desastre, a catastrófica escolha de Vital Moreira para cabeça de lista, o candidato mais desajeitado e inepto e incompetente de que há memória recente. No entanto, Vital não saiu numa rifa azarada, foi escolhido pelo Secretário-Geral do PS, José Sócrates, que assim sai duplamente chamuscado destas eleições.
Obviamente, o PS está longe de estar eliminado das eleições de Outubro. A questão é saber se terá percebido que o afrontamento gratuito de classes profissionais como os professores, funcionários públicos, enfermeiros, ou polícias, espremer a classe média e esbanjar dinheiros públicos em projectos faraónicos, desagrada às pessoas e tem custos eleitorais. Não acredito que o PS mantenha o rumo daqui para afrente como os seus dirigentes anunciaram no spin pós-eleitoral. Há demasiado em jogo em Outubro para o comboio rosa continuar a acelerar rumo ao abismo. Contudo, a renovação da maioria absoluta é cada vez mais uma miragem e não estou a ver Sócrates dependente de Louça, Jerónimo, ou Portas para aprovar orçamentos e legislação fundamental na próxima legislatura. Assim, ainda mais do que o PS, Sócrates sai machucado destas eleições.
BE: Aumentar de 1 para 3 deputados de 4% para 11% e ultrapassar PCP e CDS, configura um estrondoso sucesso eleitoral e faz crescer as expectativas para as legislativas. Este é o 1º problema: é mais fácil para um partido de protesto ter um bom registo em eleições secundárias como as europeias do que nas eleições mais importantes que são as legislativas. O 2º prende-se com a utilização a dar a um eventual grande resultado no Outono: faz coligação com um PS eventual vencedor minoritário? Ou continua a fazer oposição? Penso que irá pela 2º via, mas para quem é eterna oposição há limites naturais de crescimento que remetem para o 3º, 4º ou 5º lugar.
PCP: Melhor resultado dos últimos 15 anos num caso notável e único na Europa Ocidental de resistência de um partido comunista ortodoxo. Muito mérito na liderança da contestação social, sindical e de rua, para compensar menor brilho mediático e parlamentar relativamente ao Bloco. O azar do PC foi ter tido apenas menos 2000 votos do que o BE que lhe tiraram o 3º lugar (simbólico) e o 3º deputado (real). Tendo ganho mais distritos do que o próprio PS (3 contra 2), o PCP tem condições para recuperar o 3º posto em Outubro, mas a simpatia popular de Jerónimo de Sousa começa a ser curta para as exigências eleitorais dos comunistas.
CDS: Desceu para 5º partido pela primeira vez desde 1985, mas sai vencedor por dois motivos: ganhou outra vez 2 deputados, mas desta vez num universo de 22 em vez dos 24 de 2004; e teve 8%, mais do dobro do que as sondagens lhe conferiam e que configuravam um resultado terminal para o CDS de 2 a 3%. O facto de no debate pós-eleitoral se ter recuperado o cenário AD e enterrado o famigerado fantasma do bloco central, é, em si mesmo, confirmação de que o resultado de Portas e Nuno Melo conjugado com o do PSD recuperou alguma importância daqueles no panorama político-partidário português.
Sondagens: Uma miséria. Semanas a fio a proclamarem a vitória folgada do PS: erro miserável. Semanas a fio a proclamarem a extinção do CDS: tão fora da realidade que parece má fé. Por uma questão de transparência e credibilidade, deveria ser obrigatório a publicação e publicitação de quadros comparativos das diversas sondagens com os resultados eleitorais, para as pessoas poderem separar o (pouco) trigo do (muito) joio. Já não bastava os árbitros a condicionar resultados!
Extrema Esquerda: A esquerda geneticamente totalitária teve 21% dos votos! É notável. Mais uma área em que nos destacamos na Europa, onde não há nenhuma situação remotamente comparável Ah! Há pouco tempo atrás, na Áustria os partidos totalitários tiveram 30%, mas esses são dos totalitários maus, são da extrema direita. Para já, o nosso voto de protesto fica-se pelos totalitários bons, os da extrema esquerda.
Uma breve análise de umas eleições em que houve 4 vencedores e um derrotado.
PSD: O PSD é o grande vencedor das eleições obtendo sozinho a mesma votação que teve em 2004 em coligação com o CDS. Esta vitória é concludente e pertence, fundamentalmente a Manuela Ferreira Leite e a Paulo Rangel. Ambos conseguiram manter uma linha de rumo que passou por fazer uma campanha de clara denúncia das deficiências da governação socialista, de aproveitamento da falta de jeito do cabeça de lista do PS e de evitar entrar no jogo sujo que o PS tentou introduzir na campanha.
Os resultados catapultam o PSD e a sua líder para um Verão mais tranquilo de preparação para os embates de Outono, retiram-lhe pressão e colocam-na no adversário. Convém, contudo, temperar o entusiasmo. O PSD subiu 3% relativamente às Legislativas de 2005 e ainda está aquém do patamar normalmente atingido pelo partido vencedor em Portugal (acima dos 35%). A grande diferença está no trambolhão monumental do PS. Manter a pressão e encontrar nova solução ganhadora em Outubro é o grande desafio que Manuela Ferreira leite tem pela frente.
PS: O PS registou uma queda eleitoral colossal, cerca de 18%, quer a referência seja a das Europeias de 2004, ou as legislativas de 2005. Esta votação é uma penalização dura e merecida por uma governação crescentemente arrogante, desfasada das aspirações dos Portugueses e escudada na maioria absoluta e em sondagens simpáticas mas falíveis. Para completar a receita do desastre, a catastrófica escolha de Vital Moreira para cabeça de lista, o candidato mais desajeitado e inepto e incompetente de que há memória recente. No entanto, Vital não saiu numa rifa azarada, foi escolhido pelo Secretário-Geral do PS, José Sócrates, que assim sai duplamente chamuscado destas eleições.
Obviamente, o PS está longe de estar eliminado das eleições de Outubro. A questão é saber se terá percebido que o afrontamento gratuito de classes profissionais como os professores, funcionários públicos, enfermeiros, ou polícias, espremer a classe média e esbanjar dinheiros públicos em projectos faraónicos, desagrada às pessoas e tem custos eleitorais. Não acredito que o PS mantenha o rumo daqui para afrente como os seus dirigentes anunciaram no spin pós-eleitoral. Há demasiado em jogo em Outubro para o comboio rosa continuar a acelerar rumo ao abismo. Contudo, a renovação da maioria absoluta é cada vez mais uma miragem e não estou a ver Sócrates dependente de Louça, Jerónimo, ou Portas para aprovar orçamentos e legislação fundamental na próxima legislatura. Assim, ainda mais do que o PS, Sócrates sai machucado destas eleições.
BE: Aumentar de 1 para 3 deputados de 4% para 11% e ultrapassar PCP e CDS, configura um estrondoso sucesso eleitoral e faz crescer as expectativas para as legislativas. Este é o 1º problema: é mais fácil para um partido de protesto ter um bom registo em eleições secundárias como as europeias do que nas eleições mais importantes que são as legislativas. O 2º prende-se com a utilização a dar a um eventual grande resultado no Outono: faz coligação com um PS eventual vencedor minoritário? Ou continua a fazer oposição? Penso que irá pela 2º via, mas para quem é eterna oposição há limites naturais de crescimento que remetem para o 3º, 4º ou 5º lugar.
PCP: Melhor resultado dos últimos 15 anos num caso notável e único na Europa Ocidental de resistência de um partido comunista ortodoxo. Muito mérito na liderança da contestação social, sindical e de rua, para compensar menor brilho mediático e parlamentar relativamente ao Bloco. O azar do PC foi ter tido apenas menos 2000 votos do que o BE que lhe tiraram o 3º lugar (simbólico) e o 3º deputado (real). Tendo ganho mais distritos do que o próprio PS (3 contra 2), o PCP tem condições para recuperar o 3º posto em Outubro, mas a simpatia popular de Jerónimo de Sousa começa a ser curta para as exigências eleitorais dos comunistas.
CDS: Desceu para 5º partido pela primeira vez desde 1985, mas sai vencedor por dois motivos: ganhou outra vez 2 deputados, mas desta vez num universo de 22 em vez dos 24 de 2004; e teve 8%, mais do dobro do que as sondagens lhe conferiam e que configuravam um resultado terminal para o CDS de 2 a 3%. O facto de no debate pós-eleitoral se ter recuperado o cenário AD e enterrado o famigerado fantasma do bloco central, é, em si mesmo, confirmação de que o resultado de Portas e Nuno Melo conjugado com o do PSD recuperou alguma importância daqueles no panorama político-partidário português.
Sondagens: Uma miséria. Semanas a fio a proclamarem a vitória folgada do PS: erro miserável. Semanas a fio a proclamarem a extinção do CDS: tão fora da realidade que parece má fé. Por uma questão de transparência e credibilidade, deveria ser obrigatório a publicação e publicitação de quadros comparativos das diversas sondagens com os resultados eleitorais, para as pessoas poderem separar o (pouco) trigo do (muito) joio. Já não bastava os árbitros a condicionar resultados!
Extrema Esquerda: A esquerda geneticamente totalitária teve 21% dos votos! É notável. Mais uma área em que nos destacamos na Europa, onde não há nenhuma situação remotamente comparável Ah! Há pouco tempo atrás, na Áustria os partidos totalitários tiveram 30%, mas esses são dos totalitários maus, são da extrema direita. Para já, o nosso voto de protesto fica-se pelos totalitários bons, os da extrema esquerda.
7 comentários:
Gostei da fina ironia dos "totalitarismos bons". É um excelente retrato da condescendência de que gozam por cá.
PVM
Estas eleições demonstraram, claramente, o total desinteresse/desinformação dos cidadãos, em relação ao projecto europeu. Parece-me que o cartão não foi só para o PS e o Governo Sócrates, mas também para o segundo maior partido - PSD. A votação é muito baixa e se há vencedores claros destas eleições, são o BE e o PCP. O que me leva a concluir que os cidadãos estão a ficar fartos dos habituais partidos do poder, dos senhores Dias Loureiros e Lopes da Mota, dos Freeports e dos BPNs. Além disso, não me lembro dos candidatos terem debatido o que realmente estava em jogo... a Europa.
http://passagensdavida.blogspot.com/2009/06/perdeu-europa.html
PS: "totalitarismos bons"?!
As sondagens dão uma indicação de voto aos eleitores quando apontam quem deverá ficar em 1º, 2º, 3º lugares e as respectivas percentagens de voto. Só por isso deveriam ser proíbidas e são-no em alguns países. Além disso, estão a tornar-se suspeitas de serem mal feitas ou pouco sérias porque se enganam sempre relativamente aos pequenos partidos, os quais vêm a ter sempre mais votantes do que os indicados nas tais sandagens.
Uma boa boa parte do eleitorado acaba por ser induzido a escolher apenas de entre os partidos que são apontados nas sondagens como a ficar em 1º ou 2º lugares. E assim se influência o resultado da votação, sempre no sentido apontado pelas sondagens. Trata-se de uma tendência desportiva, porque aí ou se ganha ou se perde. Mas na política não é bem assim, pois quem fica em 2º, 3º ou 4º lugares também influência o poder e essa influência é tanto maior quanto maior for a representatividade. Apenas não contam os votos que não chegam para eleger representação na assembleia.
Ganhar com maioria absoluta também é muito diferente de ter que procurar uma coligação ou governar sem ela, pois assim terá que ceder e ter em conta outras políticas. Por vezes nem isso é possível fazer uma coligação e governar na dependência do voto parlamentar é a única solução que é também a mais democrática.
Além disso, os grandes partidos costumam atrair a si grupos de interesses que influuenciam a orientação da governação e isso chama-se de corrupção. Ora aí está mais uma razão para não se votar massivamente num qualquer partido.
Zé da Burra o Alentejano
As sondagens dão uma indicação de voto aos eleitores quando anunciam previamente as percentagens de voto previstas para quem deverá ficar em 1º, 2º, 3º ou 4º lugares, o que influencia o resultado da votação, sempre no sentido das sondagens, pois uma boa parte do eleitorado acaba por ser induzido a escolher apenas de entre os partidos que são apontados nas sondagens como ficando em 1º ou 2º lugares. Trata-se de uma tendência desportiva, onde ou se ganha ou se perde. Só por isso as sondagens deveriam ser proibidas e são-no em alguns países. Além disso, estão a tornar-se suspeitas de serem mal feitas ou pouco sérias porque se enganam sistematicamente a favor dos grandes partidos. No final, apesar de tudo, os pequenos partidos acabam por ter sempre mais votantes do que os indicados nas sondagens.
Na política não é como no desporto, pois quem fica em 2º, 3º ou 4º lugares também acaba por influenciar o poder. Apenas não têm qualquer influência a abstenção, os votos brancos ou os dados a partidos que não chegam a eleger representantes para a assembleia. Também é muito diferente ganhar com maioria absoluta ou relativa, pois se a maioria for relativa o partido ganhador terá que procurar fazer uma coligação ou governar sem ela e na dependência do voto parlamentar. Em qualquer dos casos há que ter em conta outras políticas e outras sensibilidades. Por vezes é essa a única solução e é a democracia que fica a ganhar nestes casos.
Os grandes partidos são alvos de cobiça de interesses particulares que os apoiam esperando receber compensações em retorno quando aqueles forem poder e mais fácil será o retorno se tiverem uma maioria absoluta, por isso um povo politicamente esclarecido deve fugir sempre de dar maiorias absolutas a quem quer que seja, embora todos os partidos as peçam.
Zé da Burra o Alentejano
É verdade Paulo, é uma "herança de Abril" que não se dissipa.
Caro João,
De facto o PSD não teve um grande resultado em termos absolutos, mas nas actuais circunstâncias, ganhar era o máximo a que o Partido podia aspirar, sendo verdade que o mais relevante foi a hecatombe do PS, que ficou abaixo da % do PSD de Santana Lopes!
Os "totalitarismos bons" é uma referência jocosa à desigualdade de tratamento dos totalitarismos de esquerda e de direita em Portugal, nos media e até na Constituição.
Caro Zé da Burra, o Alentajano,
Tal como escrevi no post, as sondagens são cada vez mais suspeitas. Não sou a favor da proibição de sondagens, no entanto, a dimensão dos erros é de tal modo grave e gravosa para a Democracia que aceitaria considerar um sistema de restrição de actividade em período pré-eleitoral às empresas que apresentarem resultados demasiado desafasados da realidade.
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