PAZ VIOLENTA
Military situation,
as of 2019 Under control of the Afghan government and NATO Under control
of the Taliban, Al-Qaeda, and Allies
in “Wikipedia” em https://en.wikipedia.org/wiki/War_in_Afghanistan_(2001%E2%80%93present)#/media/File:Taliban_insurgency_in_Afghanistan_(2015–present).svg
Em 29 de Fevereiro do corrente ano, os Estados Unidos e
o Emirato Islâmico do Afeganistão, mais conhecido e reconhecido como os
Taliban, assinaram em Doha, no Qatar, um Acordo de Paz para o Afeganistão
(“Agreement for Bringing Peace to Afghanistan”).
Os pontos fundamentais do Acordo são:
1- Garantias de que o
Afeganistão não será usado como plataforma para desencadear ataques contra os
EUA ou os seus aliados.
2- Garantir a retirada
gradual, ao longo de 14 meses, das tropas dos EUA e da NATO estacionadas no
Afeganistão.
3- Um cessar-fogo
abrangente e permanente entre as partes.
4- O desencadear de
conversações de paz entre o governo do Afeganistão e os Taliban, envolvendo uma
gradual libertação de prisioneiros por ambas as partes.
As medidas relativas à retirada militar, à troca de
prisioneiros, às negociações intra-afegãs e ao levantamento de sanções são
todas calendarizadas de molde ao processo estar finalizado no primeiro semestre
de 2021.
Contudo, passar das palavras, mesmo que escritas e
subscritas, aos actos, vai uma distância considerável. Na realidade, os únicos
itens que estão efectivamente em execução são a cessação de ataques dos Taliban
aos militares dos EUA e da NATO e a primeira fase da retirada desses mesmos
militares do Afeganistão.
Os pontos de desentendimento são:
1- Os Estados Unidos
querem executar a total retirada do Afeganistão e pôr um fim a um envolvimento
militar no país que dura há quase duas décadas.
2- Os Taliban sabem-no e
não vão provocar os Americanos, mas continuam a agredir o Exército Afegão
(ANDSF - Afghan National Defence and
Security Force) e a protelar as negociações com Cabul enquanto que se
vai aproximando o timing da retirada.
3- O governo afegão
vem-se debatendo com o confronto político entre o Presidente Ashraf Ghani e o
perdedor das presidenciais, Abdullah Abdullah. A querela ficou recentemente resolvida,
mas, entretanto, foram desbaratados mais de dois meses, gastos num impasse
político e na passividade perante a agressão dos Taliban.
4- O governo do Afeganistão
e os Taliban não se entendem no que respeita a libertação de prisioneiros por
ambas as partes.
Resumindo:
Os Estados Unidos querem sair e estão dispostos a
temporizar a sua reacção à agressividade dos Taliban para não desperdiçar ou
pôr em cheque o seu desiderato de sair do Afeganistão.
Os Taliban, aproveitam a ambivalência americana para
intensificar os ataques contra o exército afegão: mais de trezentos ataques
apenas na segunda metade de Março. Embora os militares dos EUA continuem a
bombardear os Taliban em apoio do ANDSF, os Taliban parecem pensar que vale a
pena aumentar a pressão sobre o governo, provavelmente tentando entrar em
negociações com uma posição fortalecida.
Os Taliban ainda não assumiram de forma pública e inequívoca
o rompimento com a Al Qaeda e outros grupos terroristas, condição sine qua non
do Acordo de Fevereiro.
O Governo Afegão aceitou algo contrariado a troca de
prisioneiros e adoptou uma postura defensiva perante os ataques dos Taliban. Um
ataque a uma maternidade de Cabul que deixou 24 mortos e 16 feridos levou o
Presidente Ghani, finalmente, a decidir que o ANDSF passasse para a ofensiva.
O cenário está, portanto, revestido de incertezas,
geradoras de desconfiança e potenciadoras de conflito. Entre desentendimentos,
o crescendo de violência e as negociações paradas, o futuro do Afeganistão
afigura-se cada vez mais lúgubre num cenário de Paz Violenta.
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