À 46ª FOI DE VEZ
No dia 31 de Outubro o
parlamento libanês realizou a 46ª tentativa de eleger um novo Presidente da República.
E à 46ª tentativa foi de vez, o Líbano pôs fim a um hiato de dois anos e meio
sem Presidente.
Embora se
tenha tratado de um desenvolvimento positivo, o sistema político libanês deverá continuar marcado pelo impasse e pelo
conflito condicionado como está por rivalidades intra-sectárias, conflitos
inter-sectários, somados às manobras e interferências de potências externas com
interesses no país, são o que ditam verdadeiramente o curso dos acontecimentos.
Pouco ou nada
mudará também porque os protagonistas são os mesmos desde há décadas e quando
morrem ou são assassinados, são substituídos por filhos ou irmãos que seguem o
trilho do antecessor. Senão, vejamos os protagonistas:
MICHEL AOUN, 81 anos,
Cristão.
Líder do Movimento Patriótico Livre
Primeiro-Ministro 1988/90
Presidente da República desde 31 de
Outubro 2016
HASSAN NASRALLAH, 56
anos, Xiita.
Secretário-Geral do Hezbollah desde
1992 (há 24 anos)
SAAD HARIRI, 46 anos,
Sunita.
Líder da
Aliança 14 de Março e do Movimento do Futuro desde 2005 (há 11 anos)
Primeiro-Ministro
desde 22 de Novembro de 2016
Filho e
sucessor de Rafic Hariri, duas vezes PM: 1992-1998 e 2000-2004. Foi assassinado
em 2005.
NABIH BERRI, 78 anos,
Xiita.
Presidente do Parlamento desde 1992
(há 24 anos)
Líder do Partido Amal desde 1980 (há
36 anos)
4 vezes Ministro
WALID JUMBLATT, 67
anos, Druzo.
Líder do partido Socialista
Progressista desde 1977 (há 40 anos)
Ministro uma vez
SAMIR GEAGEA, 66 anos,
Cristão.
Líder do 2º maior partido Cristão,
Forças Libanesas, desde 1986 (há 20 anos)
SULEIMAN FRANGIEH, 51
anos, Cristão.
Líder do Partido Marada desde 1982
(há 34 anos)
Neto, filho e sobrinho dos 3 líderes
anteriores do Marada
O avô,
Suleiman Frangieh, foi Presdiente da República de 1970 a 1976.
Os 4 Frangieh
lideraram o Marada desde a fundação até ao presente. 50 anos!
Perante esta
superestrutura dirigente ossificada que ocupa os cargos de tipo há 30/40 anos,
com toda a bagagem de conflitos, alianças, traições, ódios pessoais ou
sectários e contas a ajustar, é difícil imaginar um exercício de superação que,
se não foi conseguido nas décadas anteriores, dificilmente sê-lo-á na presente
conjuntura de guerra e confronto no Médio Oriente.
O Líbano, além
de ser um mosaico sectário, também é um tabuleiro de xadrez onde se confrontam
a Síria, que vê no Líbano como um território que lhe foi amputado, o Irão, que
tem no Líbano o seu acesso ao Mediterrâneo e a Israel, a Arábia Saudita, que
almeja reverter a influência sírio-iraniana e Israel que não quer ver o sul do
Líbano transformado novamente numa plataforma de lançamento de ataques contra
si.
País pequeno,
com escassos meios, dividido entre Cristãos, Xiitas, Sunitas, Druzos, entre
outros, acossado de vários lados, refém de uma milícia (Hezbollah) que opera
acima da lei e que detém um poder militar ímpar, assoberbado por mais de um
milhão de refugiados da Guerra da Síria a que acresce pelo menos meio milhão de
refugiados palestinianos, o Líbano sobrevive sempre perto do abismo onde já
caiu com as intervenções sírias e israelitas e, principalmente, com a Guerra
Civil de 1975-90.
Perante esta
conjuntura, demorar dois anos e meio e 46 votações para eleger o Presidente da
República, por muito caricato que seja, é um problema menor.
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