MINSK ≠ DONETSK
O BM-21 Grad Multile-Launch Rocket System, um dos armamentos
mais populares no conflito da Ucrânia.
in RADIO
FREE EUROPE/RADIO LIBERTY em http://www.rferl.org/content/ukraine-separaatists-sophisticated-weaponry/25462211.html
A Crise da
Ucrânia já dura há um ano e meio, mas não evoluiu muito nos últimos 6 meses. Façamos
uma check-list da situação actual.
* A componente militar do
conflito tem estado em banho-maria.
* Não obstante o ponto
anterior, continua a haver recontros esporádicos com variáveis níveis de
violência que podem incluir a utilização de armamento pesado, nomeadamente
artilharia.
* O Acordo de Minsk II
entre a Rússia, a Alemanha, a França e a Ucrânia está em vigor, mas o máximo
que alcançou foi o (incompleto) congelamento do conflito.
* Não se verifica a
concretização dos objectivos estruturantes de Minsk que poderiam conduzir à
resolução do conflito.
* Os países europeus
mantêm e prolongam o conjunto de sanções que impuseram à Rússia em 2014.
* A Crimeia continua
firmemente parte integrante da Rússia.
* Os EUA amainaram a
retórica vitriólica vis-a-vis a Rússia e o Secretário de Estado John Kerry até
visitou a Rússia em Maio.
* Os independentistas do
Leste da Ucrânia não desistiram de alargar o território sob o seu controlo.
* Apesar das dificuldades
económicas, Vladimir Putin continua a registar níveis estratosféricos de
popularidade: 86% na última sondagem do Levada Centre.
* Continua a ser uma
incógnita o endgame de Putin na Ucrânia.
* A Crise da Ucrânia saiu
dos holofotes da maioria dos media. O Estado Islâmico substituiu a Rússia no
topo das preocupações de Washington.
As regiões de Donetsk e Luhansk.
Há
fundamentalmente duas hipóteses:
1- A manutenção do statu quo. Tal significa que os confrontos armados
manter-se-ão mas serão pontuais e limitados no espaço, nos meios e nas
consequências. Significará, também, que o conflito não será resolvido e o
problema continuará presente.
2- Renovados e sustentados ataques dos independentistas visando a
consolidação e /ou expansão do território que controlam, o que representará um
risco acrescido de escalada interna e externa.
A primeira
hipótese é, neste momento, a mais provável. Tal tenderá a conduzir à eternização do problema até ser considerado
um frozen conflict, como outros na antiga União Soviética, gradualmente
esquecido.
Este cenário resultará na normalização da anormalidade com a Ucrânia permanentemente amputada da sua área mais
oriental que estará sob a protecção/controlo de Moscovo. A região de Donetsk e Luhansk ficará com um estatuto híbrido, nem
dentro nem fora da Ucrânia, tal como a Transdniéstria em relação à Moldova.
Ou, alternativamente, proclama-se um estado independente, reconhecido por
Moscovo, a exemplo da Abkázia e da Ossétia do Sul relativamente à Geórgia.
A segunda hipótese, menos provável mas bem
possível, provocará uma situação de
ruptura definitiva, com as regiões revoltosas a expandirem e a consolidarem
território, ganhando massa crítica, tornando-se mais viáveis, mais úteis a
Moscovo e mais penalizadores para Kiev.
A recente
decisão dos países europeus de prolongar as sanções à Rússia por mais 6 meses
pode ter efeitos contraproducentes. Seria expectável que, depois do Acordo
Minsk II, fosse dado um sinal positivo, um incentivo à Rússia para inverter, ou
pelo menos travar a marcha dos acontecimentos. É claro que as principais
potências europeias (com alguma pressão de Washington) não pensaram assim e os
países que se têm mostrado reticentes ou críticos das sanções (Grécia, Hungria,
Chipre, Itália) não tiveram a coragem ou a força para vetar o prolongamento.
Assim sendo, a tentação de maximizar os ganhos no terreno e penalizar ainda
mais Kiev não tem como contraponto o engodo da redução das sanções.
Em lume brando ou fervilhante, o conflito da Ucrânia vai continuar.
A realidade diplomática dos salões de Minsk permanecerá muito distante da crua
realidade da guerra em Donetsk.
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