SÍRIA: A GUERRA ESTÁ PARA
DURAR
Os principais palcos da Guerra Civil na Síria no Verão de 2013. Pode-se
ver a cidade de Al-Qusayr junto à fronteira nordeste do Líbano com a Síria.
Ao contrário das
expectativas publicitadas por várias potências regionais e mundiais e pelo
media internacionais, o regime de Bashar Al Assad não se desmoronou durante o
ano de 2011 (a revolta na Síria começou em Março de 2011). Tampouco foi
derrotado, ou implodiu em 2012. Em 2013, o regime de Damasco tem estado ao
ataque registando vários sucessos militares significativos. Por outro lado, os
rebeldes, apesar de contarem com os EUA entre os novos fornecedores de armas,
encontram-se mais divididos e fragilizados.
Durante o primeiro
ano da Guerra Civil, o governo alawita conheceu bastantes reveses, perdas de
território, atentados de grande gravidade e deserções significativas. 2012 foi
o ano de estancar a hemorragia, estabilizar a situação e registar alguns ganhos
(e perdas). Já 2013 tem corrido bem a Al Assad: o grande momento das forças
armadas sírias foi a reconquista da cidade de Al-Qusayr, importante nó rodoviário,
estratégico no controle das comunicações entre Damasco e Alepo (a 2ª cidade da
Síria) e entre a capital a zona costeira,
berço dos Alawitas e ainda entre a Síria e o norte do Líbano.
A partir daí, o
Governo Sírio intensificou a ofensiva na província de Homs, onde os rebeldes
têm estado sob pressão e em muitos casos reduzidos a bolsas de resistência isoladas.
Concomitantemente, o exército sírio e respectivos aliados para-militares
preparam já o assalto a Alepo, que se imagina será desencadeado em força quando
Homs estiver totalmente sob controle do regime.
Estes sucessos serão
atribuíveis a três factores:
1- Depois da
hemorragia de 2011, o regime e o exército reorganizaram-se, adaptaram-se ao
novo combate que enfrentavam, apresentaram-se com renovada coesão e moral e arregimentaram
novas forças (irregulares) para reforçar a sua capacidade de combate. Tais
realidades tenderão a reforçar-se com os sucessos militares no terreno.
2- O apoio do Hezbollah
no terreno constituiu um reforço assinalável, nomeadamente na reconquista de
Al-Qusayr, onde participaram
activamente entre 6.000 a 8.000 tropas da milícia xiita libanesa. Este reforço
é particularmente relevante dado que se trata de tropas treinadas e bem
armadas, capazes de integrar de pronto e em pleno o esforço de guerra.
3- A continuação dos
apoios do Irão e da Rússia. O Irão fornece financiamento, fuel, treino, armamento e talvez
algumas unidades de forças especiais. A Rússia fornece protecção internacional,
nomeadamente na ONU, armamento e munições e formadores para o manuseamento de
algum equipamento mais sofisticado.
4- A perda de fôlego
dos rebeldes, motivado pela recuperação militar e anímica das tropas
governamentais, pela décalage de equipamento em relação ao inimigo e por
fracturas cada vez mais notórias entre a miríade de facções que os compõem. As últimas semanas
têm sido preenchidas com relatos de ataques e atentados de forças jihadistas
contra membros supostamente seculares dos rebeldes, protagonizados pela Al
Qaeda para o Iraque e o Levante. Não é difícil perceber o efeito que terá nos
combates se grupos rebeldes, além de enfrentarem as forças governamentais,
também tiverem de se bater contra os seus aliados/inimigos.
Assiste-se, pois, a
dois movimentos convergentes: o fortalecimento militar do governo sírio e o
enfraquecimento dos rebeldes. Pensamos que o desenlace da batalha pela posse de
Alepo será vital no desenho da evolução do conflito a curto-médio prazo. O
governo tentou tomar posse da totalidade da cidade há um ano atrás e não
conseguiu. A tarefa não se afigura nada fácil, apesar de a preparação estar a
ser mais cuidada.
Por outro lado, os
rebeldes resistirão até ao limite, cientes de que novo fracasso de grande
dimensão faria recuar as suas pretensões de forma potencialmente duradoura e
provocar estragos na moral e coesão (que já não é muita) de forma devastadora.
Nada está ainda
decidido. Tal como regime não estava liquidado há 18 meses atrás, também agora
os rebeldes não estão fora de combate. É
aliás minha convicção que o combate por Alepo será inconclusivo e que
chegaremos ao final de 2013 com a guerra num impasse. Certo é, que Al Assad
está agora melhor do que já esteve e que os rebeldes se encontram na posição
contrária.
P.S. Uma pequena
provocação extra-post: Qual o governo que durará mais tempo? O de Al Assad, ou
o de Passos Coelho? Vai uma aposta?
2 comentários:
Não dizem que "coisa ruim não corre perigo"? Aí está. Nenhum cairá. Batota. É que ontem assisti extramente comovida ao discurso responsável e patriótico do PR (pena que se tenham esquecido do hino. Era choro garantido!). Sabendo o resultado, é como espreitar a carta do baralho. Exultei por não termos de esbanjar dinheiro em eleições antecipadas. Ufa! que alívio! Era madrugada e eu ainda não dormia a pensar como hei-de gastar aquele dinheirito extra que o PR nos poupou. Assim sendo já só temos que fazer contas à continua subida de impostos, cortes no que resta dos direitos sociais (cada vez são mais os dias de baixa não remunerados, aumento do desemprego, etc). O Estado não honra os compromissos que assumiu em sufrágio com os cidadãos, mas cumpre nobremente os que assumiu com as empresas financeiras que engordam despudoradamente à custa da miséria do povo português!
Já agora recomendo vivamente o livro "Da Corrupção à Crise", de Paulo Morais. Para quem ainda não percebeu porquê que o "buraco" é cada vez maior! Desaconselhável para quem tiver problemas gástricos.
Estella,
Lendo o seu comentário, "quase" nos faz preferir estar na Síria!!! Lá, pelo menos, pode-se ter uma oportunidade de enfiar um balázio nos malfeitores e passar despercebido no meio da carnificina.
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