IMPARCIALIDADE
PERIGOSA
Na Política
e nas Relações Internacionais não costuma haver grande margem para
imparcialidades. Em regra há interesses, compromissos, rivalidades em jogo que
impedem ou desaconselham a imparcialidade. Quando não existem esses factores,
normalmente a distância e o poder do actor em relação à disputa tornam a sua
imparcialidade (ou falta dela) irrelevante. Se se tratar de uma Superpotência,
a questão da irrelevância não se coloca, portanto uma eventual imparcialidade
só pode derivar do desinteresse, leia-se, da falta de interesses relevantes na
área.
Como já
referi noutro post publicado a 30/08/2012 (Senkaku & Takeshima em http://tempos-interessantes.blogspot.pt/2012/08/senkaku-takeshima.html
, a China tem múltiplas disputas marítimas (delimitação de águas territoriais
com 6 países asiáticos. Em 2010, Hillary Clinton fez uma declaração relativa ao
Mar do Sul da China repudiando acções unilaterais, apelando a um código de
conduta, à resolução das disputas de
acordo com o Direito Internacional, à garantia da liberdade de navegação e
distanciando os Estados Unidos destes conflitos.
Este
Verão, porem, o Departamento de Estado criticou a China por escalar o conflito.
Logo se levantaram vozes críticas nos EUA (e na China obviamente) contra esta
atitude. Por exemplo, Douglas Paal (investigador do Carnegie Endowment)
escreveu que “[….] Washington will need to
protect its position of impartiality and avoid repetition of the misconceived
State Department press statement.”
Embora
se trate apenas do remate de um artigo (http://carnegieendowment.org/2012/08/11/dangerous-shoals-u.s.-policy-in-south-china-sea/dc0c), este
tipo de posição enferma de vários problemas:
1-
O receio
de enfrentar a China e os interesses chineses, mesmo quando
estes afectam as potências ocidentais. Tal atitude (ou a falta dela), facilitou
a rápida ascensão política, económica e militar da China nas últimas décadas.
Isso não é intrinsecamente negativo, excepto quando é feito com prejuízo de
terceiros, como é frequentemente o caso.
2-
O Mar
do Sul da China é uma região de elevado interesse estratégico global,
especialmente para os estados ribeirinhos e para o Japão, as Coreias, os
Estados Unidos e a Rússia. Não é, portanto, uma área em relação à qual
Washington se possa dar ao luxo da indiferença. Tanto assim é, que os EUA têm
investido crescentemente politica e militarmente na mega-região da Ásia-Pacífico.
3-
Quando
os poderes e a dimensão dos actores em jogo são tão díspares, como
acontece com a China e os restantes 4 interessados no Mar do Sul da China
(Vietname, Filipinas, Malásia, Taiwan e Brunei), uma atitude de imparcialidade equivale a um apoio tácito a Pequim, o
que é absolutamente contrário aos interesses de Washington.
Paal
aduz ainda que no Mar do Sul da China ainda não se atingiu “the Sudetenland
moment”, numa referência à Conferência de Munique de 1938 que, para todos os
efeitos, deixou a Checoslováquia à mercê do III Reich. Pois não, não estamos de
facto num “Sudetenland moment”. O
problema reside em retirar conforto desse facto. Se estivermos à espera do “Sudetenland
moment”, então será demasiado tarde. Nesse momento, restarão duas opções
aos EUA:
·
O
appeasement, que será uma capitulação e a entrega da região ao domínio chinês.
·
Ou a
guerra, que poderá bem ser a III.
Como nenhum
destes desenlaces se afigura agradável, bom será que os EUA sejam proactivos
nesta matéria para prevenir males maiores.
9 comentários:
Excelente, como de costume! Segundo parece, os Japoneses vão comprar estas ilhas aos proprietários ... japoneses, uma família privada. Fala-se de 20 mil 400 milhões de euros!
Claro que é possível ir procurar nos livros de história muitos motivos de ressentimento dos Chineses contra os Japoneses. A primeira guerra sino-japonesa, que permitiu ao Japão de ocupar a Manchúria, e provocou a perda de Taiwan, a invasão da China e os massacres de Nankin durante a última guerra, etc.
Também é verdade que os Chineses nunca invadiram o Japão , ao passo que este invadiu todos os países asiáticos. E de que maneira! E que estas ilhas litigiosas, Diaoyu (Senkaku) anexadas por Tokyo em 1895, precisamente no fim da guerra já citada, postas sob tutela americana em 1945 e oferecidas aos Japoneses em seguida, pelos americanos, para se encontrarem agora nas mãos duma rica família japonesa,
O imperialismo japonês não é um mito.
Mas também é verdade que a China é o novo imperialismo da zona. A China quer o "seu" mar inteiramente. Ora este vai longe, muito longe, até Sumatra, Malásia e às Filipinas! A China apalpa o pulso de cada um! Os vizinhos tremem!
Mas pensar numa nova guerra, sessenta anos depois, parece-me improvável, mesmo se o "The Economist" parece pensar o contrário.
Porque, temos de pensar nos 340 mil milhões de dólares de buziness entre os dois países, nos investimentos maciços do Japão na China, 11 fábricas de automóveis (!),a fabricação da maioria dos computadores japoneses deslocalizada na China, a China primeiro fornecedor do Japão, etc., etc.
Enfim, 1 bilião 400 milhões de Chineses contra 130 milhões de japoneses ? E a dissuasão nuclear chinesa?
Creio que alguém vai procurar evitar isso. Mesmo se muitos Chineses, cedendo a um nacionalismo feroz, gostariam fazer pagar aos Japoneses a factura da ultima guerra.
A lição "servida" ao Mac Arthur na Coreia em 1950, também não foi esquecida pelos Americanos, que não têm nenhum interesse numa guerra contra a China, mesmo se o tratado com o Japão os obriga a proteger o aliado.
O único beneficio que os Americanos retirariam duma guerra contra a China, seria de eliminar o maior credor de sempre ! Mas seria preciso ganhar! E seria necessário muito dinheiro... que eles não têm. Basta a guerra do Vietname que os pôs de rastos e da qual ainda pagam hoje os efeitos.
Freitas Pereira
Ok!Vou falar com o Obama...ou com o outro??? É melhor esperar.
Ana
Agree agree agree!!!! The only thing I didn’t understand was about Viva a monarquia....
We’re thinking about escaping the country...
Txxx
Excelente!!!! é bom podermos continaur a ter "aulas". Beijinhos
Helena Alexandra
Sr. Freitas Pereira,
Excelente comentário! Por acaso a China já invadiu o Japão, mas é preciso recuar ao século XIV, se a memória não me falha.
O que disse do Japãp é verdade, como é verdade quando diz que o imperialismo actual é o chinês e as suas pretansões amrítimas são a expressão mais viva dessa sede hegemónica de Pequim. Também acredito que não haja guerra, embora seja para mim evidente que se houvesse, os EUA teriam de combater ao lado do Japão (mudam-se os tempos...) e que ganhariam. Os custos seriam enormes para todos, principalmente para a China.
Ana,
Também acho melhor esperar. Romney é o "outro" ;-)
Teresa,
Tks. Well, I just happen to think that Monarchy is the best system.
Helena Alexandra,
Isso é que era mesmo bom!!!
Bjs
I couldn't resist commenting. Perfectly written!
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