27 outubro, 2012

As Quatro Potências do Médio Oriente - O Egipto


AS QUATRO POTÊNCIAS

DO MÉDIO ORIENTE

O EGIPTO


 

EGIPTO

O Egipto é, historicamente, a potência liderante do mundo árabe. Tal como a Turquia, faz a ponte entre dois continentes (África e Ásia), é o mais populoso estado árabe (80 milhões de habitantes), tem uma civilização milenar, o mais poderoso e bem armado exército árabe, detém no Cairo a mais prestigiada e influente academia de estudo e doutrina da religião islâmica (Universidade de Al-Azahar) e ocupa uma posição geoestratégica relevante no Mar Vermelho e, especialmente, com o Canal do Suez.
Onde tem estado este Egipto?
O Egipto sofreu na última década de um fenómeno característico: o longo e penoso estertor final de uma velho regime, neste caso estabelecido em 1952 com o golpe de estado que afastou o Rei Farouk e catapultou o Coronel Nasser para o poder. Quando o poder entre em putrefacção, diminui gradualmente a sua capacidade de iniciativa, a sua vontade de afirmação, a agilidade para mudar de estratrégia e de rumo, até a sua vontade de agir. Neste sentido, a provecta idade e a frágil saúde do Presidente Hosni Mubarak encarnava de forma precisa o estado do regime egípcio.

Naturalmente, a proeminência e influência do Egipto foi-se desvanecendo e nos últimos anos as grandes decisões (e as crises também) passaram em grande medidad ao lado do Egipto. Como a  Geopolítica abomina o vácuo, outras potências se posicionaram na linha da frente, nomeadamente a Arábia Saudita, a Turquia e o Irão.

As primeiras indicações do novo (?) regime liderado pela Irmandade Islâmica apontam para uma tentativa de regresso do Egipto ao epicentro político e diplomático do Médio Oriente, mostrando-se interveniente no conflito na Síria, estabelecendo um grupo de contacto com o Irão, a Turquia e a Arábia Saudita sobre o assunto, dando os primeiros passos para a normalização das relações com Teerão, rompidas em 1979.

Contudo, muitas barreiras, especialmente internas, se colocam entre as intenções e o desiderato de recolocar o Cairo no centro geopolítico do Médio Oriente.

1-   A indefinição do sistema político do Egipto. Já se sabe que foi implementado um regime democrático que já elegeu um parlamento e um presidente. Porém, falta definir duas coisas: a primeira é a Constituição e isso é importante para se perceber melhor a natureza do futuro sistema político egípcio, mormente no que diz respeito às liberdades individuais, aos equilíbrios institucionais, às questões religiosas e ao funcionamento da economia; a segunda diz respeito ao efectivo papel, poder e influência das forças armadas que eram a entidade tutelar do Nasserismo. Do entendimento e equilíbrio entre os islamitas e os militares sairá o modelo político do Egipto. Sem um modelo consolidado, afrimação externa é extremamente difícil.
2-   A fraqueza económica do Egipto não lhe permite grandes aventuras. A economia egípcia aterrou literalmente com as semanas de manifestações e instabilidade que levaram à demissão de Mubarak e com os meses que se seguiram de contínua instabilidade e incerteza. O turismo em particular levou uma forte machadada e neste momento ainda transitório e indefinido o Egipto está deseperadamente necessitado de ajuda e financiamento externo, venha ele da Arábia Saudita, dos EAU, dos EUA e/ou do FMI.
3-   A desconfiança que a Irmandade Islâmica suscita nos países do Golfo Pérsico, nomeadamente na Arábia Saudita e nos Emiratos Árabes Unidos, que vêm a via islâmica da Irmandade como uma alternativa/ameaça ao seu sistema político assente numa aliança entre a élite tribal dirigente e o establishment religioso.
4-   O relacionamento com o Hamas que é um derivado da irmandade Islâmica pode complicar a postura internacional do Egipto que, por um lado, não pode abandonar um grupo político que lhe é próximo e uma causa popular no país, mas que por outro lado, é considerado uma organização terrorista por Israel e pelos Estados Unidos e visto com grande desconfiança no Ocidente e parte do mundo árabe.
5-   O relacionamento com Israel é a outra pedra no sapato do novo governo. Os Acordos de Camp David são impopulares no Egipto, mas são vitais para manter a paz e a estabilidade com Israel e o apoio económico, político e militar dos EUA. É uma questão para gerir com pinças, mas que tem grandes probabilidades de gerar problemase anti-corpos endógenos e exógenos.

Ao contrário do que sucede com a Turquia, a ascensão regional do Egipto não parece tão linear e próxima. A lenta e longa agonia do regime militar, a conturbada transição, as incógnitas que envolvem a nova ordem política e a crise económica coarctam as possibilidades de afirmação internacional do Egipto. A estes factores, que são os mais importantes, somam-se vários constrangimentos externos que exigirão coesão interna e habilidade política da parte do Egipto.

Não obstante, o potencial do Egipto é significativo (Demografia, História, Geografia, poder militar) que o regresso do Egipto está fundamentalmente dependente da sua capacidade de pôr a sua própria casa em ordem.

2 comentários:

Alberto Martins disse...

Potência do Médio Oriente e Democracia?

O Egipto como o Prof. Rui Miguel muito bem descreve tem todas as potencialidades, mas no actual contexto e regime político, democracia imperfeita, dificilmente se tornará uma potência.

Anónimo disse...

GREAT publish and impressive in turn …will bear a try all the tips..Thanks……