AS QUATRO POTÊNCIAS
DO MÉDIO ORIENTE
O EGIPTO
EGIPTO
O Egipto é, historicamente, a potência liderante do mundo árabe. Tal como
a Turquia, faz a ponte entre dois continentes (África e Ásia), é o mais
populoso estado árabe (80 milhões de habitantes), tem uma civilização milenar,
o mais poderoso e bem armado exército árabe, detém no Cairo a mais prestigiada
e influente academia de estudo e doutrina da religião islâmica (Universidade de
Al-Azahar) e ocupa uma posição geoestratégica relevante no Mar Vermelho e,
especialmente, com o Canal do Suez.
Onde tem estado este Egipto?
O Egipto sofreu na última década de um fenómeno
característico: o longo e penoso estertor final de uma velho regime, neste caso
estabelecido em 1952 com o golpe de estado que afastou o Rei Farouk e
catapultou o Coronel Nasser para o poder. Quando o poder entre em putrefacção,
diminui gradualmente a sua capacidade de iniciativa, a sua vontade de
afirmação, a agilidade para mudar de estratrégia e de rumo, até a sua vontade
de agir. Neste sentido, a provecta idade e a frágil saúde do Presidente Hosni
Mubarak encarnava de forma precisa o estado do regime egípcio.
Naturalmente, a proeminência e influência do Egipto
foi-se desvanecendo e nos últimos anos as grandes decisões (e as crises também)
passaram em grande medidad ao lado do Egipto. Como a Geopolítica abomina o vácuo, outras potências
se posicionaram na linha da frente, nomeadamente a Arábia Saudita, a Turquia e
o Irão.
As primeiras indicações do novo (?) regime liderado pela
Irmandade Islâmica apontam para uma tentativa de regresso do Egipto ao
epicentro político e diplomático do Médio Oriente, mostrando-se interveniente
no conflito na Síria, estabelecendo um grupo de contacto com o Irão, a Turquia
e a Arábia Saudita sobre o assunto, dando os primeiros passos para a
normalização das relações com Teerão, rompidas em 1979.
Contudo, muitas barreiras, especialmente internas, se
colocam entre as intenções e o desiderato de recolocar o Cairo no centro
geopolítico do Médio Oriente.
1-
A indefinição do sistema político do Egipto. Já se sabe que foi implementado um regime democrático que já elegeu um
parlamento e um presidente. Porém, falta definir duas coisas: a primeira é a
Constituição e isso é importante para se perceber melhor a natureza do futuro
sistema político egípcio, mormente no que diz respeito às liberdades
individuais, aos equilíbrios institucionais, às questões religiosas e ao
funcionamento da economia; a segunda diz respeito ao efectivo papel, poder e
influência das forças armadas que eram a entidade tutelar do Nasserismo. Do entendimento e equilíbrio entre os
islamitas e os militares sairá o modelo político do Egipto. Sem um modelo
consolidado, afrimação externa é extremamente difícil.
2-
A fraqueza económica do Egipto não lhe permite grandes aventuras. A economia egípcia aterrou literalmente com as semanas de manifestações e
instabilidade que levaram à demissão de Mubarak e com os meses que se seguiram
de contínua instabilidade e incerteza. O turismo em particular levou uma forte
machadada e neste momento ainda transitório e indefinido o Egipto está deseperadamente
necessitado de ajuda e financiamento externo, venha ele da Arábia Saudita, dos
EAU, dos EUA e/ou do FMI.
3-
A desconfiança que a Irmandade Islâmica suscita nos países do Golfo
Pérsico, nomeadamente na Arábia Saudita e nos Emiratos Árabes Unidos, que vêm a
via islâmica da Irmandade como uma alternativa/ameaça ao seu sistema político
assente numa aliança entre a élite tribal dirigente e o establishment
religioso.
4-
O relacionamento com o Hamas que é um derivado da irmandade Islâmica pode
complicar a postura internacional do Egipto que,
por um lado, não pode abandonar um grupo político que lhe é próximo e uma causa
popular no país, mas que por outro lado, é considerado uma organização
terrorista por Israel e pelos Estados Unidos e visto com grande desconfiança no
Ocidente e parte do mundo árabe.
5-
O relacionamento com Israel é a outra pedra no sapato do novo governo. Os Acordos de Camp David são impopulares no Egipto, mas são vitais para
manter a paz e a estabilidade com Israel e o apoio económico, político e
militar dos EUA. É uma questão para gerir com pinças, mas que tem grandes
probabilidades de gerar problemase anti-corpos endógenos e exógenos.
Ao contrário do que sucede com a Turquia, a ascensão regional do Egipto
não parece tão linear e próxima. A lenta e longa agonia do regime militar, a
conturbada transição, as incógnitas que envolvem a nova ordem política e a
crise económica coarctam as possibilidades de afirmação internacional do
Egipto. A estes factores, que são os mais importantes, somam-se
vários constrangimentos externos que exigirão coesão interna e habilidade
política da parte do Egipto.
Não obstante, o potencial do Egipto é significativo (Demografia, História,
Geografia, poder militar) que o regresso do Egipto está fundamentalmente
dependente da sua capacidade de pôr a sua própria casa em ordem.
2 comentários:
Potência do Médio Oriente e Democracia?
O Egipto como o Prof. Rui Miguel muito bem descreve tem todas as potencialidades, mas no actual contexto e regime político, democracia imperfeita, dificilmente se tornará uma potência.
GREAT publish and impressive in turn …will bear a try all the tips..Thanks……
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