AS QUATRO POTÊNCIAS
DO MÉDIO ORIENTE
O IRÃO
IRÃO
O Irão é considerado por muitos estudiosos e analistas como o país com
maior potencial no Médio Oriente. Pela sua dimensão (1.500.000km2), pela
demografia (79 milhões de habitantes), pela riqueza e História da civilização
Persa, pelo dinamismo e instrução da sociedade iraniana, pela riqueza em
hidrocarbonetos, pelo poderio militar e pela posição geoestratégica – controla
toda a costa setentrional do Golfo Pérsico, do Estreito de Ormuz e do Golfo de
Oman, tem acesso ao Mar Cáspio e ocupa uma posição estratégica que faz de si um
player no Médio Oriente, no Cáucaso e na Ásia Central.
No entanto, o Irão ocupa muitas manchetes na imprensa
fundamentalmente por dois outros motivos: o regime teocrático liderado pelos
ayatollahs e o programa nuclear. A questão é saber se estes dois factores são
um multiplicador de poder ou um handicap.
As respostas são ambíguas.
A teocracia iraniana é, obviamente, um factor inibidor do
progresso social e económico e a sua política de intransigência e agressividade
tende a ostracizar o Irão e a semear inimigos e hostilidade.
O programa nuclear, fruto do regime e por ele protegido e
nutrido é, acima de tudo, fautor de medos e inimizades que também tendem a
isolar Teerão.
No entanto, o medo também gera respeito e pode comprar segurança. O certo é que a
política externa e de segurança dos ayatollahs, aliada a factores externos como
a neutralização e posterior eliminação do regime de Saddam Hussein no Iraque,
catapultou o Irão para uma proeminência regional perdida em 1979 com o derrube
do Xá.
Hoje em dia, o Irão goza de uma relativa
invulnerabilidade e impunidade que só podem ser verdadeiramente violadas por
Israel e por potências exógenas ao Médio Oriente. Mais, embora tenha gerado
medos e ódios, Teerão também foi capaz de granjear aliados ou amigos em Bagdad,
em Damasco, no Vale de Bekkaa (Hezbollah) e em Gaza (Hamas). E ainda em
Moscovo, Pequim e …. Caracas.
O programa nuclear veio reforçar estes dois pólos: o do
poder, prestígio e apoio acrescidos e o do crescente antagonismo, inimizade e
receio. Sentimentos estes que não se confinam a Jerusalém, Washington, Londres
ou Paris, mas se estendem a uma boa parte do Médio Oriente, nomeadamente à
Arábia Saudita e aos emiratos do Golfo.
Afinal, o Médio Oriente é uma das regiões do globo onde a
linguagem e o impacto do hard power são reconhecidos, praticados e temidos.
A situação actual e prospectiva do Irão pode resumir-se
assim:
1-
O programa nuclear é uma faca de dois gumes: por um lado confere poder e,
caso levado às últimas consequências será um factor de segurança, uma espécie
de seguro de vida do Irão e do seu regime. Enquanto tal não acontece, a corrida
ao nuclear coloca o Irão na mira permanente dos Estados Unidos e de Israel, o que pode levar à destruição do programa e de boa parte do poderio
militar iraniano, para não falar dos danos económicos e infra-estruturais. Até
agora, a determinação iraniana tem-se sobreposto às hesitações e receios do
Ocidente, especialmente dos EUA.
2-
As sanções decorrentes do programa nuclear estão a provocar desgaste à
economia do Irão. A queda abrupta do Rial, a moeda iraniana, é um dos
sinais visíveis disso mesmo. Não obstante, tal não chegou, nem deverá chegar,
para quebrar a vontade do regime em atingir a capacidade nuclear.
3-
O Irão conseguiu estabelecer um arco de influência que vai desde a
fronteira com o Afeganistão a Leste até ao Mediterrâneo a Oeste (ver mapa infra). Esta área de influência garante ao Irão uma posição de
primeiro plano na região e catapulta-o como candidato nº1 à hegemonia regional
4-
A sustentação desta área de influência arduamente adquirida está a
revelar-se complicada por via da guerra na Síria que põe o regime vigente no
fio da navalha; a queda de Al Assad e dos Alawitas terminará a ligação
privilegiada Teerão-Damasco e interrompe o arco antes do Mediterrâneo e isola o
Irão do Hezbollah. Daí o forte apoio do Irão a Al Assad.
5-
Contudo, o Irão não está só na defensiva. A coberto da dita “Primavera
Árabe”, Teerão tem fomentado manifestações e agitação no Bahrain de governo sunita e de maioria xiita, na Província Oriental
saudita, também de maioria xiita e no Iémen. Embora não tenha fruído até ao
momento, este tipo de covert actions desestabiliza
os regimes e gera insegurança e incerteza.
O destino do Irão aparece, portanto, envolto em mistérios e paradoxos. As
mesmas políticas, as mesmas opções, os mesmos trilhos, podem gerar segurança e
risco, hegemonia e isolamento, poder ou catástrofe.
É, pois, um caminho mais estreito do que o do estratégico Estreito de
Ormuz que o Irão percorre actualmente, entre as promessas de poder e influência
e a desdita da destruição e irrelevância, há ainda o prolongamento da situação
intermédia que vive hoje. É, no entanto, minha convicção de que as situações de
tensão e de conflito latente acabam por se tornar insustentáveis e por ter uma
resolução….
O
Arco de Influência do Irão