O EIXO
O Eixo (Berlim-Roma) não é uma designação que traga saudades (bem pelo contrário) na Europa.
Curiosamente, o segundo Eixo (antes Paris-Bonn, Berlim-Paris depois) parece gerar muito mais entusiasmo do que apreensão.
É evidente que este Eixo está muito distante, para melhor, do outro, mas francamente, encontro mito pouco de bom nesta parceria que, depois de uns anos de afrouxamento, vem arrogando novamente um direito de propriedade exclusiva da União Europeia.
Vem isto a propósito da recente cimeira Alemanha-França, na qual Angela Merkel e Nicholas Sarkozy decidiram que a zona euro vai passar a ter um governo (???) económico e que querem impor uma alteração constitucional aos restantes 15 parceiros (???). A petulância vai ao ponto de já terem seleccionado um cinzento Belga como chefe desse governo.
Este Eixo, tal como o outro, tem um forte pendor germânico e percebe-se uma vontade da Alemanha em assumir de forma inequívoca os cordelinhos económicos da EU, certamente para garantir os seus mercados de exportação, os créditos dos seus bancos e impor medidas que lhe sejam convenientes aos seus parceiros (???), como por exemplo, a subida do imposto sobre as empresas na Irlanda.
À França pouco mais restou do que entrar na locomotiva alemã para manter as aparências de co-liderança.
A primeira reacção do Governo de Portugal foi de um lamentável apoio entusiástico que roçou o servilismo. O facto de o país estar empobrecido não implica necessariamente perder a dignidade e o amor-próprio e vergar a cerviz. Nesse aspecto, honra lhe seja feita, Cavaco Silva objectou ao Diktat constitucional.
in “The Economist”
E assim segue a EU, aos repelões, balançando num eixo desequilibrado, atropelando soberanias, sem saber o que fazer ao euro, desastrada com os mercados, errática nos bailouts, atolada nas dívidas e nos déficites, sujeita aos humores da Chanceler e sem ideias claras para um novo rumo económico de efectivo sucesso.